Juliano Loureiro • out. 11, 2020

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Quando comecei a escrever o meu romance, a minha maior dificuldade foi a criação dos diálogos. Foram dúvidas do tipo: como começo e termino um dialogo, como prender a atenção do leitor, qual o melhor indicador etc. E, após estudar bastante e construir os diálogos do meu livro, darei dicas de como facilitar o seu processo de escrita.


Lembrando que poderão ter variações na construção dos diálogos do seu romance, afinal, a escrita de um livro não segue apenas uma regra específica. Portanto, vamos aprender as boas práticas da construção dos diálogos de um romance? Boa leitura!

Primeiro passo: entenda bem quem é o seu personagem

Antes de escrever as primeiras linhas de diálogos, você deve conhecer bastante o(s) seu(s) personagem(ns). O tom, palavras, emprego de gírias etc varia muito de acordo com cada personagem. Uma criança, por exemplo, dialoga de maneira diferente de um adulto. E, mesmo dois adultos, possuem variações linguísticas. Você pode empregar sotaque (não muito recomendado, mas possível), trejeitos, expressões e outras maneiras de dar personalidade ao seu personagem através da fala.


Entender a fundo seus personagens garante a você uma linearidade na construção dos diálogos. É bastante comum ao longo da narrativa perdermos o tom de voz de um determinado personagem. Exemplo: o seu protagonista é um ser irônico e recorrentemente termina as frases com uma pergunta de duplo sentido. Mas, do meio para frente da narrativa, essa característica se perde, ou seja, o personagem perdeu a sua identidade. Se não houver uma justificativa clara para isso, soará como um erro de construção de diálogo.

Preste muita atenção nos diálogos dos romances que você lê

Para entender melhor como escrever seus diálogos, nada melhor que lê bastante romances. Para este tipo de estudo, opte por aqueles que possuem temática parecida com a sua. Mas não basta ler. Deve-se ler com olhar crítico, procurando entender o porquê o autor escreve de determinada maneira. Coloco ou não um indicador (disse, falou, argumentou) ao final da frase? Como é feita a pontuação antes e depois da fala?


À partir dessa leitura crítica, você verá que há inúmeras maneiras de se construir um diálogo (e todas estão certas) e, também, você identificará qual delas se assemelha melhor ao seu estilo.

O uso de indicadores

O uso dos indicadores é opcional. Em um conto, ou uma novela, é mais comum vermos o não uso dos indicadores, tendo em vista que há menos personagens e menos conflitos. Já um romance de fantasia, por exemplo, onde há um universo rico e inexistente no mundo real, o uso dos indicadores e seu complemento aumenta a riqueza da narrativa e melhora a ambientação do leitor à história.


Para escritores iniciantes, recomenda-se usar, em caso de afirmação, a palavra disse. Em caso de pergunta, utilizar perguntou. Pode-se usar, antes, durante ou depois do diálogo. Segue exemplos de uso dos indicadores antes, no meio e depois da fala:


  • Antes: Então, ele disse: - Olha, eu preciso ser sincero. Eu sou seu pai.;
  • No meio: - Olha, eu preciso ser sincero - ele disse. - Eu sou seu pai.;
  • Final: Olha, eu preciso ser sincero. Eu sou seu pai - ele disse.


O uso do indicador no meio da frase é utilizado como recurso dramático, cortando a fluidez do diálogo, instigando o leitor.

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Pontuação de um diálogo

Junto com a escolha dos indicadores, importante ficar alerta quanto à pontuação. Nos exemplos acima, vimos como deve ser a pontuação. Abaixo, exemplos de diálogos extraídos do meu romance Lucas, a esperança do último, utilizando também exclamação e interrogação.


  • - Você vem? - pergunta ela, dando um mergulho no lago
  • - Deve existir algum tipo de kit de primeiros socorros por aqui - continua ele. 
  • - Não desista, eu vou te salvar! - afirma ele, tentando elaborar um diagnóstico visual de Joana. 
  • - Os últimos dias foram intensos, estou tentando processar tudo na minha cabeça ainda - afirma ele, olhando para Joana, que está tão próxima dele que é possível se enxergar através dos olhos negros dela. - Passei ciclos e mais ciclos sozinho, só eu e Félix.


Atente-se quando há o uso do indicador no meio da fala, a pontuação virá apenas no final, a não ser que você precise usar exclamação ou interrogação, conforme exemplo abaixo:


  • - O que você espera encontrar lá? - pergunta ele, intrigado. - E depois, o que vai fazer?

Falar muito ou falar pouco?

Esta é outra dúvida muito comum. Devemos escrever longos diálogos, ou diálogos mais curtos? Novamente, a resposta é: depende. Se você está escrevendo um romance que gira em torno da relação de um casal, provavelmente você terá muitos e bons diálogos. Agora, se você está construindo um novo mundo futurista, a dedicação com as cenas de ação e detalhamento do ambiente será maior, logo, a tendência é ter diálogos mais curtos.


Apesar do tamanho do diálogo ser algo opcional, uma  regrinhas que deve ser seguida:


  • Não comece seus diálogos assim:
  • - Olá, bom dia.
  • - Bom dia.
  • - Tudo bem?
  • - Tudo bem.


O excesso de texto espanta o leitor e torna os diálogos maçantes e chatos. Guarde essa frase: "Entre o mais tarde possível na cena e saia o mais cedo". Essa é a lógica de construção dos diálogos. Por fim, tenha sempre diálogos bem conversados e não "monólogos". Evite que um personagem fale muito e o outro responde de forma rápida e fria. Um recurso interessante é o uso do silêncio, como:


  • - Você ainda me ama? Maria encara João e sai andando.

Funções do diálogo

O diálogo possui algumas funções importantes e se o seu diálogo respeita esses pontos, saiba que a chance de criar diálogos interessantes e envolventes é alta. Segue:


  • caracterizar o falante;
  • trazer individualidade;
  • refletir o humor do falante;
  • revelar ou esconder a motivação do falante;
  • ajudar no avanço na ação (plot);
  • carregar informação ou exposição;
  • criar mistério.


O que achou deste artigo? Acredito que irá ajudar bastante na construção do seu romance. Para mais dicas, além do blog, publico recorrentemente no Instagram. Siga-nos e até o próximo texto.

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


Para aprender mais sobre escrita criativa, confira meu canal no Youtube, vídeos diários para você. Link abaixo:

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