Juliano Loureiro • nov. 05, 2021

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Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, ou popularmente Blade Runner, O Homem do Castelo Alto são obras que mexem com a cabeça do leitor, Distopias e ficções científicas que a gente acha que só alguém com uma mente inquieta poderia criar. 


Pois se você conhece essas obras que citei, mas não conhece a vida de Philip K. Dick (PKD), pode ter a certeza de que realmente era uma mente perturbada por trás desses e outros clássicos do gênero. 


E, infelizmente, não falo no sentido figurado,
PKD não teve uma vida fácil e a sua saúde mental não era das melhores. Um gênio da literatura de ficção científica com uma vida conturbada e com reconhecimento tardio.


Neste post, vou contar um pouco da história de vida de Philip K. Dick e mostrar um pouco do que foi a vida de quem merecia um pouco mais de tranquilidade para colher os frutos do seu trabalho.

A vida de Philip K. Dick

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Philip Kindred Dick nasceu no dia 16 de dezembro de 1928, no Colorado (EUA). E logo nos primeiros meses, a vida já dava sinais de que não seria nada fácil. 


PKD era gêmeo de Jane Charlotte Dick, o casal de irmãos nasceu prematuro e a mãe de Philip e Jane não conseguiu produzir leite suficiente para amamentar os filhos, o que culminou na morte de Jane por subnutrição com apenas 2 meses de vida.


Alguns podem dizer que Philip era muito novo para compreender ou sentir os efeitos dessa tragédia, mas é fato que o luto reverberou por muito tempo na família e, se PKD não foi imediatamente impactado, a dor da perda familiar o acompanhou por toda infância e acabou refletindo em algumas de suas obras. 


Inclusive, na sua primeira grande obra O Homem do Castelo Alto há quem acredite e afirme que a distopia criada tem uma tentativa de K. Dick reescrever a sua própria história morrendo no lugar de sua irmã. Nas biografias já publicadas sobre PKD também há narrativas de que o autor “se valia” da perda, das suas dores para tentar se aproximar de outras pessoas na adolescência. Um jeito um tanto quanto estranho de puxar conversa, não é mesmo?


De volta à vida e à infância, não bastasse a perda de sua irmã, aos 5 anos K. Dick viu o casamento de seus pais terminar. Com isso, ele e sua mãe se mudaram para Washington, D.C. Apesar da infância bem conturbada, os acontecimentos não atrapalharam os estudos de PKD.


À época do ensino infantil (1936 a 1938), ainda em Washington, Philip obtinha altas notas e saltava algumas séries. O seu interesse pela ficção científica se deu à época também, ali com seus 12 anos, coincidindo com o retorno para a Califórnia.


Curiosidade: Philip K. Dick foi colega de classe de outra figura icônica da ficção científica. Na Escola Secundária de Berkeley PKD dividiu os estudos com Ursula K. Le Guin. Apesar de estarem na mesma escola e na mesma sala, eles não se conheceram pessoalmente.


Após a escola, PKD até deu início ao ensino superior, ingressou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e estudou  história, psicologia, filosofia e zoologia. Porém, a passagem pela universidade durou apenas 3 meses. K. Dick trocou a faculdade pelo emprego de DJ em uma rádio e, em paralelo, ainda mantinha uma loja de discos.


De forma bem reduzida, essa foi a vida escolar de Philip K. Dick, que encerrou-se de maneira não tão convencional, não é mesmo? Mas a vida pessoal do autor merece um tópico à parte.


Philip foi casado cinco vezes, seus casamentos acabavam sempre ou por motivos banais ou com alegações de que o autor não estava em juízo perfeito da mente.

Philip K. Dick: drogas e saúde menta

Quando eu comecei a introdução sobre PKD dizendo que seu trabalho só poderia ser fruto de uma mente inquieta, infelizmente não me referia somente a um lado extremamente criativo, mas o uso de substâncias químicas também causaram alguns distúrbios. Você pode até dizer que tais doenças o ajudaram a criar excelentes histórias, mas o preço foi alto por tudo isso.


K. Dick ainda era jovem quando foi diagnosticado com agorafobia. É um transtorno de ansiedade, normalmente, desenvolvido após um ataque de pânico. Quem tem agorafobia tem medo de lugares e situações que possam causar constrangimento, pânico ou sensação de impotência, como por exemplo, estar em contato com multidões.


O escritor também foi diagnosticado com esquizofrenia, uma perturbação mental que afeta a capacidade da pessoa de pensar, sentir e se comportar com clareza. É como se a pessoa vivesse em constante de psicose. Entre os principais sintomas estão as alucinações, delírios e pensamentos desconexos da realidade.


Apesar de todos os distúrbios,
Philip tinha uma inteligência criativa bem aflorada, não deixou em nenhum momento de produzir seus textos, obviamente, os resultados variavam conforme seu estado de saúde mental. Mas logo cedo, ainda com 14 anos, ele já estava na terapia.


Para você ter ideia de como os transtornos não limitavam sua inteligência, o escritor estudava os como funcionavam os testes psicológicos para tentar manipular os resultados. E com os estudos que começou na faculdade, principalmente em filosofia, PKD começou a elaborar teorias sobre a existência humana, sobre o universo ser uma extensão de Deus, inclusive, começou a questionar se o nosso mundo existe realmente. Esses questionamentos de realidades metafísicas foram pontos de partida para diversas obras suas.


Philip K. Dick teve uma melhora significativa da
agorafobia, tendo apenas algumas crises em momentos de depressão (sim, além da agorafobia e esquizofrenia). Durante esses lapsos, PKD desenvolveu inúmeras teorias da conspiração que acabaram floreando a sua biografia. 


Dentre as mais famosas está a de que ele tinha desvendado uma grande verdade oculta da sociedade e publicado em um dos seus livros. Por isso,
ele estaria sob a mira do governo americano e do FBI, além da polícia russa KGB.


Nós temos como prática sempre minimizar esses episódios de alucinações dos autores, como se fosse comum a todos escritores terem lapsos ou sofrerem de algum distúrbio. Esses mesmos lapsos levaram PKD ao consumo exagerado de drogas e alguns episódios que relato a seguir.


Após a sua quinta separação,
Philip ingeriu 700g de brometo de potássio, um medicamento usado para tratamento de pacientes com convulsões leves ou em uso veterinário para tratar de epilepsias refratárias caninas ou em cães com enfermidade hepática. Por sorte, K. Dick conseguiu chamar resgate e ser tratado.


Um episódio mais sério, por sorte, não acabou em tragédia. Em uma das dezenas de brigas com suas ex-esposas, Philip mandou ver em 49 comprimidos de
digitoxina (medicamento indicado para o tratamento de insuficiência cardíaca, uma vez que sua ação aumenta a força e a velocidade da contração do coração), 30 cápsulas de Librium (medicamento de uso psiquiátrico contra ansiedade e pré-anestésicos. O uso irregular pode levar à dependência, depressão e descoordenação motora) e 60 de Agresoline em meio a uma garrafa de vinho.


Além de ingerir uma quantidade absurda de medicamentos com álcool,
K. Dick ainda cortou os pulsos, ligou o carro na garagem e deitou-se. Por sorte, o motor do carro falhou e o farmacêutico, que havia vendido os medicamentos à Philip, acionou o resgate, já prevendo que algo de ruim estava para acontecer.


Apesar de toda sua história de distúrbios mentais, Philip K. Dick teve sua vida associada ao uso do LSD, ele era visto como o escritor do LSD. O que é um julgamento errôneo, o escritor fez uso da substância apenas uma vez na vida. O seu vício era em metanfetamina, a droga de
Breaking Bad deixava K. Dick ‘ligadão’, assim ele conseguiu produzir diversas de suas obras. 


A associação da imagem de K. Dick ao LSD tem a ver com suas obras com ambientes, digamos assim, psicodélicos, tramas paranóicas, traços de uma contracultura dos anos 60 e 70 vivenciada pelos jovens e que encontraram no LSD o combustível para essas loucas viagens.


LSD e metanfetamina eram as drogas de K. Dick, mas foi em um centro de reabilitação para usuários de heroína que o autor conseguiu a rigidez que precisava para enfrentar uma abstinência total das drogas.

Casamentos de K. Dick

Antes de terminar, como mencionei ao decorrer do texto alguns casamentos de Philip, vou trazer algumas curiosidades sobre os matrimônios do escritor. De forma bem resumida, porque, afinal, foram 5 casamentos:


  1. Jeanette Marlin: Philip tinha apenas 20 anos e durou apenas 4 meses;
  2. Kleo Apostolides: casamento mais duradouro: 9 anos. O casal chegou a receber visita da polícia por suposto envolvimento com o comunismo;
  3. Anne Williams Rubinstein: era amante de Philip no relacionamento anterior. Anne foi uma das principais incentivadoras da carreira de K. Dick e deu a ele a sua primeira filha, Laura Leslie;
  4. Nancy Hackett: 6 anos de casamento e mais uma filha, Isa Dick Hackett;
  5. Leslie Busby (Tessa): Tessa tinha apenas 18 anos enquanto K. Dick quase 50. Do relacionamento nasceu Christopher Dick. O término teria sido causado pelas paranóias do autor.


Apesar de tudo, Philip K. Dick sempre afirmou que manteve uma relação saudável com todas as suas ex 's. Acredite quem quiser!


Vale ressaltar que mesmo com toda essa vida conturbada, Philip K. Dick produziu obras importantíssimas para a literatura mundial, principalmente no gênero de ficção científica e, infelizmente, não colheu os frutos do seu trabalho. 


Philip morreu meses antes da estreia de Blade Runner no cinema. Se você ainda não conhece suas obras ou deseja conhecer outras, recomendo a leitura de 6 livros de Philip K. Dick para você que ama Sci-fi.

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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