Filmes e séries para inspirar escritores

Amnésia (filme, de 2001)

Começarei com um filme que, à primeira vista, não tem nada a ver com escritores e literatura. Mas tem uma estrutura narrativa incrível, não por menos, o longa foi indicado ao Oscar de melhor roteiro original e de melhor edição e também ao Globo de Ouro de melhor roteiro.

No filme, o protagonista interpretado por Guy Pearce sofre de algum distúrbio que o impede de reter memórias recentes. Esse problema de memória é trauma do assassinato de sua esposa, que ele tenta de desvendar. Porém, a história não segue muito bem a cronologia temporal padrão.

Primeiro que as cenas são alternadas em preto e branco e coloridas, sendo as primeiras ocorridas na ordem natural dos fatos e as últimas, de trás para frente. Ou seja, você assiste à história caminhando nos dois sentidos: do início ao fim e do seu pressuposto final até o início.

É muito legal como o filme amarra essas duas narrativas e, sabe como o protagonista lida com a perda de memória? A cada nova descoberta da investigação, ele tatua a informação no seu próprio corpo. 

Amnésia é uma excelente dica para quem quer ousar e fugir da narrativa padrão e mexer com o imaginário dos seus leitores.

Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (filme, de 2003)

É claro que Tim Burton não ficaria de fora de uma lista de filmes para escritores, afinal de contas, Tim é um dos diretores mais criativos de todos os tempos (ou estaria exagerando? Acho que não). E Peixe Grande é, para muitos, a melhor história de Burton.

Este maravilhoso filme é sobre contar histórias, sejam as nossas verdadeiras, sejam as fantasiosas ou seria impossível desassociar fantasias da realidade? 

Em Peixe Grande temos a história de uma relação fragilizada entre Ed Bloom e seu filho Will. Este é um grande jornalista e não confia muito em seu pai por achá-lo um tanto quanto mentiroso, com histórias muito fantasiosas.

A trama tem o clímax quando Will visita o pai com a saúde muito debilitada, a fim de conhecer as histórias verdadeiras por trás de tudo que Ed contava. A narrativa, na verdade, as narrativas de Ed e Will flutuam na linha tênue da fantasia e realidade. É errado fantasiar a realidade? Essa realidade, tem que ser sempre 100% pura? 

Um filme que vai te fazer pensar muito em como contar histórias! Reais ou não!

O Primeiro Mentiroso (filme, de 2009)

Uma comédia excelente para os momentos em que você quer relaxar ou buscar inspiração para suas narrativas. Em O Primeiro Mentiroso temos um mundo bem, mais bem hipotético mesmo, onde as pessoas não conhecem a mentira, nunca faltaram com a verdade. Consegue imaginar?

Agora, você já parou para imaginar o impacto que a primeira mentira contada teria na sociedade? Mark Bellison é um roteirista de cinema mal sucedido, prestes a falir e que, num ato de desespero, consegue elaborar a primeira mentira e safa-se dos problemas.

A partir daí, todo mundo em sua volta acredita que estão errados e que Mark teria as soluções para seus problemas. O que era uma mentirinha acaba se tornando a base para algo bem maior, algo como uma religião criada por Mark. 

Um bom filme para dar boas risadas, mas também refletirmos sobre o poder das nossas palavras e discursos.

Modern Love (série, 2 temporadas - Amazon Prime Video)

Não se apegue ao título da série, o que quero apontar em Modern Love não passa necessariamente pela sua temática. O que é legal falar, ao menos agora, é sobre a adaptação textual para outros meios.

Modern Love é uma série antológica, ou seja, os capítulos são independentes entre si, então você pode assistir na ordem que bem entender. E isso também nos dá diversas histórias em uma única temporada. Mas, de onde vem essas histórias? Aí que está o ponto que queria chegar. 

As histórias de Modern Love são baseadas em histórias reais contadas por artigos na famosa coluna, de mesmo nome, do New York Times. Então, imagine o exercício criativo do diretor ao ler a história e reproduzi-la nas telas de TV. E mais ainda: pense como você reagiria ao ver a sua história, primeiro, publicada em um jornal como o New York Times e, depois, virando um episódio de uma série!

É uma coisa fantástica porque mexe com o imaginário do leitor do jornal “poxa, como será que aconteceu tudo isso”, depois ainda tem o telespectador que tanto cobra produções mais fidedignas com a realidade. Eu gostaria muito de conhecer alguém que teve a sua história contada em Modern Love, imagina só, a sua vida em dois meios de comunicação tão importantes.

É um bom exercício criativo: contar uma mesma história em diversos canais, respeitando as particularidades de cada meio.

Explicando (série, 3 temporadas - Netflix)

A série Explicando da Netflix é um sucesso de audiência e é absolutamente necessária para quem busca alguma bagagem cultural, porque ela aborda praticamente tudo o que você imaginar. Ok, pode ser um exagero porque tem, por enquanto, apenas 3 temporadas. Mas a diversidade temática é algo fantástico

Apesar de ser uma série documental, pode esquecer aquele padrão dos documentários, aquela narrativa rígida, densa, com um vocabulário complicado e com uma longa duração. Em Explicando, cada episódio é uma temática diferente e não passam de 20 minutos. 

Esse formato, aliado a uma narrativa leve, fez com que as pessoas passassem a maratonar documentários. Tô falando de pessoas assistirem 5, 6 documentários seguidos. Você já se imaginou sentado, em frente à TV, vendo 8 documentários, um sobre o uso da maconha, outro explicando como seu cérebro funciona, um terceiro sobre o consumo de carne vermelha e por aí vai.

Vale dizer que, apesar da linguagem da narrativa ser sutil, não quer dizer que os conteúdos são superficiais, muito pelo contrário, os conteúdos são riquíssimos de informações. Vale muito a pena assistir Explicando, porque conhecimento não ocupa espaço!

Com essas sugestões, acredito que você está muito bem servido de passatempos e insights para suas produções. Você tem alguma dica de filme ou série para escritores curtirem? Deixe nos comentários, abaixo.

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