Professor de português.
Essa é a “definição” popular para o profissional de Letras. Difícil é mudar essa mentalidade e não é para menos. Quem opta pela graduação em Letras está adentrando ao mundo das línguas, das palavras, dos textos, dos discursos e, bem, a grosso modo, só enxergamos os professores “trabalhando” com isso. Até pouco tempo, “ensinar” a língua portuguesa parecia ser a única função do profissional das Letras.
Mas, os tempos são outros, as informações estão mais ao alcance de todos e, com isso, podemos parar de afirmar que quem se formou em Letras é professor de português. Inclusive, trouxe alguns exemplos de descrições do curso de Letras, em algumas faculdades, veja:
- PUC MINAS:
“(...) enfatiza-se, na sua formação, o desenvolvimento da capacidade de lidar, de forma crítica e criativa, com as múltiplas linguagens; de refletir sobre as práticas discursivas vigentes em nossa cultura e de
desempenhar atividades ligadas à produção de textos, ao trabalho de revisor de textos, à pesquisa e à editoração. Além disso, o bacharel poderá atuar como assessor cultural e exercer funções que exigem conhecimento de línguas e habilidade de produção e análise de textos.”;
- CEFET-MG:
“O curso tem como horizonte os conhecimentos sobre as relações entre linguagens, discursos, textos e suportes, associando as diversas tecnologias produzidas pelo homem às práticas efetivas de leitura e escrita. Sua finalidade é preparar os/as estudantes para atuar como assessores culturais, gestores editoriais, revisores e editores de textos em diversos suportes, e também como leitores críticos, tanto na seara da literatura como em outros campos.”;
- PUC-SP:
"Esse profissional pode, além de atuar na carreira de magistério, atuar como redator e revisor de textos em editoras, agências de propaganda, empresas de jornalismo. Pode, ainda, preparar material didático para diversos contextos educacionais, em mídia impressa e eletrônica, esta última em franca ascensão, dada a expansão dos cursos a distância.”;
- Universidade Federal do Ceará:
“Fora da sala de aula, há a tradução de livros, documentos, filmes e séries; o mercado de editoração, na revisão e tradução de textos; e a crítica literária. Pode também trabalhar como intérprete de libras, tradutor simultâneo em eventos internacionais ou pesquisador acadêmico, investigando temas de linguística, literatura, cultura, etc. Pode ainda organizar feiras de livros, elaborar dicionários e livros didáticos ou exercer qualquer atividade que exija o domínio do texto.”
Todos esses recortes foram extraídos dos sites oficiais das instituições citadas, mas os destaques são meus, porque eu quero mostrar um ponto em comum, nas áreas de atuação: a presença do termo “textos”.
Por isso, é preciso compreender que a atuação de um profissional de Letras está além do lecionar. O texto é a principal ferramenta de trabalho e uma das principais atuações de quem cursa uma dessas faculdades. Talvez, seja um dos poucos cursos em que a sua ferramenta de trabalho é também o seu campo de atuação.
Para não deixar arestas, mas sem me alongar muito na questão das grades curriculares, vou usar uma definição bem superficial sobre a Letras: quem opta pela licenciatura, pode trabalhar em sala de aula. Já quem cursa o bacharelado atua na área de pesquisa.
Bem, com os destaques no tópico acima, ficou bem evidente a relação do curso de Letras com o trabalho de um escritor. Ambos trabalham o texto, mas aí cabe algumas considerações.
O fato de você cursar Letras ou ter cursado, não te torna um escritor literário, digamos assim. A sua habilidade em trabalhar, estudar o texto, às vezes, não se repete na produção. Tem gente que consegue fazer excelentes análises, mas se expressar pode ser um verdadeiro martírio.
Agora, o que o curso de Letras te dá de vantagens para você se tornar um escritor? 4 ou 5 anos de trabalho duro com textos. Já ouvi, inclusive de acadêmicos das Letras, que a vida deles “é só ler”. Então, o profissional de Letras que deseja se tornar escritor, tem essa vantagem de ter alguns anos de sua vida dedicados exclusivamente ao estudo de textos.
É claro que só a leitura não é suficiente, então além das intermináveis leituras e calhamaços de xerox para serem lidos no fim de semana, são anos de escrita, reescrita, adaptações, readaptações. Ou seja, o curso de Letras faz com que você enxergue um simples texto em perspectivas inimagináveis para um “leigo”.
Desde a nossa infância, ali no ensino fundamental ou até mesmo antes, lá quando fomos alfabetizados, como a gente começou a escrever melhor? Desenhando as letras, todos os dias, formando as palavras dia após dia e fomos aperfeiçoando à medida que a nossa leitura também melhorava.
Quanto mais a gente lia, mais conseguíamos escrever. Agora, imagine a diversidade literária de um curso que trabalha com o texto. A faculdade de Letras vai te proporcionar a oportunidade de ter contato com leituras que vão expandir a sua compreensão enquanto leitor, você vai entender porque os textos causam as mais diversas sensações.
Quando você começa a compreender o “funcionamento” dos textos, você entende a sua construção. E é aí que começa a ficar fácil o caminho para se tornar um escritor. O estudo do discurso - com a temida Análise do Discurso (para quem não é da área, a AD está para a Letras assim como o Cálculo está para as engenharias) -, pode te ajudar e muito na elaboração textual, porque você já tem em mente os prováveis “impactos” do seu texto.
Além disso, a faculdade de Letras proporciona o contato com os mais diversos estilos literários, de diversas épocas. É uma imersão literária muito profunda que, se não um estudante de Letras, um leitor que adquira uma bagagem cultural desse porte, tem que se dedicar muito à leitura.
Então, você, profissional de Letras, para se tornar um escritor só tem que saber tirar proveito da sua grade curricular, porque as boas práticas de escrita, que são a leitura e manter-se escrevendo são quase suas únicas tarefas de faculdade. Agora, isso é a premissa para qualquer pessoa que almeja se tornar um escritor.
A vantagem de um profissional ou acadêmico de Letras é vivenciar a leitura diariamente. E, como eu disse, o fato de ter um diploma de Letras não o torna um melhor escritor, se você não souber tirar proveito do conhecimento que lhe foi dado na faculdade. A única coisa que você tem de diferente, se podemos falar sem parecer que estamos menosprezando os outros, é que você teve mais oportunidades para ser melhor.
E, fora da faculdade, a melhor coisa que você pode fazer para se tornar um escritor é aplicar o que aprendeu em sala de aula. É isso!
A gente poderia ficar aqui por horas, explorando a fundo as matérias da faculdade de Letras e mostrando como cada uma pode te ajudar na carreira de escritor, mas aí eu precisaria de um novo blog, só para isso. O que o profissional de letras precisa saber para se tornar um escritor é que ele tem a faca e o queijo na mão, basta saber fazer proveito da oportunidade e acesso a materiais, estudos e análises que só a faculdade proporciona.
Bem, eu não sou um profissional de Letras, mas me tornei um escritor. Com muito estudo e vontade de aprender para fazer, escrevi o meu primeiro romance. E, antes que você vá embora, quero te convidar para a leitura. É um romance distópico e tem recebido boas críticas.
Em
Lucas: a Esperança do Último, apenas 2% da população mundial sobreviveu à Grande Extinção. Estamos em 2042 e Lucas acredita que somente ele e seu gato Félix sobreviveram. Mas algo acontece e ele passa a acreditar que ainda pode encontrar a sua família, para isso, terá de sair em uma jornada de vida ou morte.
