Rafaela Baião • mai. 23, 2020

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Ao longo da minha vida, especialmente em termos profissionais, eu sempre escutei muitas vezes frases como “nossa, você escreve tão bem”, “você tem o dom da escrita” ou “parece que você lê pensamentos para escrever seus textos”. Apesar de sempre me sentir lisonjeada com os elogios, eles nunca fizeram muito sentido para mim, porque, além de eu achar que meus textos não eram nada de excepcionais, escrever nunca me demandou muito esforço e, como um bom ser humano que sou, tendo a acreditar que o que não demanda tanto esforço também não tem muito valor.

Para mim, escrever razoavelmente bem sempre foi consequência do meu hábito de ler muito e do fato de eu ter sido uma ótima aluna em Português. Pensava isso até outro dia, quando tropecei numa frase nesse mundo virtual que me fez parar para refletir sobre esse meu conceito. A Amanda, uma desenroladora de textos (eu AMO essa descrição!) que vale a pena acompanhar nas redes sociais, escreveu: “Texto não é uma palavra depois da outra. Eu ouço as pessoas”. Bingo!

É claro que não tenho o poder de ler pensamentos, mas posso deixar minha modéstia de lado para dizer que sou uma ótima ouvinte. Essa característica, acompanhada, claro, do excesso de leitura e do domínio da língua, é o que verdadeiramente permite com que eu me sinta parte do time dos que escrevem bem. Mas isso, pouco importa! O que interessa mesmo aqui é que todo mundo tem potencial para escrever bem e que o principal elemento para desenvolver ou aprimorar essa competência é praticar a arte de escutar, que, por sinal, está ao alcance de todos. Entenda por que!

As melhores ideias estão mais próximas do que você imagina

O que mais se ouve de quem está começando a produzir conteúdos ou de quem tem receio em publicar os textos que já produz é: “mas eu vou escrever sobre o que”? Eu já repeti essa frase tantas vezes que sinto que tenho autoridade suficiente para te contar uma dolorosa verdade: esse questionamento está te ajudando a sabotar o seu processo de escrita.
Aprendi com a Ana Holanda, em seu transformador curso de Escrita Criativa e Afetuosa, que qualquer um pode escrever sobre qualquer coisa e que as cenas do cotidiano são capazes de nos proporcionar as melhores histórias que podemos contar. Faça-se presente no lugar em que você está neste momento e olhe ao seu redor — vai lá, eu te espero aqui! Quantos objetos, pessoas e movimentos você vê? Você é capaz de imaginar que, por trás de cada um desses elementos, existe uma história?

Agora, imagine como ficaria mais fácil escrever sobre essa história se alguém pudesse te falar mais sobre ela. É isso que acontece todos os dias! Sabe aquela senhorinha do seu bairro que insiste em puxar assunto no ponto de ônibus às 6h, quando você mal acordou? Ela tem uma história para te contar! Sabe aquele colega de trabalho prolixo, que gasta boa parte da reunião falando coisas que parecem não fazer muito sentido? Ele carrega muitas histórias. Sabe aquele antigo amigo da escola que você não via há mais de uma década e com quem, por acaso, você se encontra no shopping? Você não faz ideia de quantas histórias essa pessoa pode transportar para sua vida. E adivinhe como você vai conseguir receber as histórias que todas essas pessoas têm para contar? ESCUTANDO!

Agora, pense nos jornalistas. O que faz um jornalista ser verdadeiramente bom no que faz é a capacidade de apuração, de conduzir uma boa entrevista e de escrever um bom texto. E sabe qual a melhor maneira de desenvolver essas habilidades? ESCUTANDO! Se você trabalha produzindo conteúdos para uma empresa, por exemplo, não tenho dúvidas que a escuta é a sua principal ferramenta de trabalho. É somente ouvindo o que o diretor tem a dizer, o que o RH quer que os colaboradores saibam, o que os profissionais que integram as equipes falam sobre seu trabalho no dia a dia da corporação, que você vai conseguir usar a sua escrita para transmitir a voz da empresa de maneira adequada e que faça sentido para outros.
Eu acredito fortemente no poder da conexão entre as pessoas. E não existe outro jeito de se conectar verdadeiramente com alguém que não seja ouvindo o que o outro tem a dizer. Ler pensamentos, infelizmente, é um poder que a ciência tem tentado desvendar há décadas e isso, ainda, não se tornou real. Por isso, a melhor (ou única, talvez eu diria) forma para você conseguir escrever e escrever melhor é botando a empatia pra jogo e exercitando os ouvidos — e o coração, porque escuta afetuosa é vida! — para captar uma ideia que já existe e transformá-la, do seu jeito, em palavras carregadas de sentido, dispostas num papel.

Como fazer isso do seu jeito? Aí está o segundo segredo da relação entre escrita e escuta.
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O que tem dentro de você é o que te faz escrever melhor

No processo de escrita e na relação dele com a escuta, tem uma voz especial, que é a mais importante e, ao mesmo tempo, a mais difícil de ser ouvida: a que vem de dentro! Eu só consegui realmente me libertar dos receios que tinha em produzir meus próprios conteúdos, quando entendi que, para escrever algo capaz de tocar o outro — e é para isso que um texto existe verdadeiramente —, eu precisava olhar pra dentro de mim. E foi só quando me senti preparada para lidar com a dor que esse processo envolve que eu consegui colocar a escrita pra jogo de uma forma que fizesse realmente sentido pra mim (eu falei mais sobre isso nesse texto aqui).

Defender a necessidade de ouvir a voz que vem de dentro é a minha forma de dizer que manter a sua essência nos conteúdos que escreve é o que dá autenticidade aos seus textos. Foi também com a Ana Holanda que aprendi que, na hora de escrever, não existe imparcialidade! Não importa que você não vá assinar o conteúdo, nem que, de repente, você discorde das ideias sobre as quais você está escrevendo… Mas, é você que está escrevendo! E você vai fazer isso do seu jeito, com as palavras do seu vocabulário, utilizando o conhecimento que você adquiriu ao longo do tempo e, claro, fazendo uso das informações que você coletou durante o seu processo de escuta. Não tem como deixar a sua voz de lado!

É por isso que aprender a se ouvir é imprescindível em todo esse processo. O que tem dentro de você é o que te faz escrever melhor, por que é o que tem dentro de você que traz exclusividade ao seu texto, que tem capacidade para tocar o outro e que dá sentido às palavras que você escolhe na hora de produzir um conteúdo. Sem olhar para dentro, um texto é só uma palavra depois da outra. E, cá entre nós, não temos dúvida que um texto pode e deve ser muito, MUITO, mais do que isso!

Além disso, não posso deixar de ressaltar que a relação entre escrita e escuta também segue o caminho inverso quando se trata da gente mesmo. O que quero dizer com isso é que não só escutar a si mesmo te ajuda a escrever melhor, como escrever te ajuda a escutar melhor a si mesmo. Como assim? Para explicar melhor esse raciocínio, recorro à Flannery O’Connor, uma escritora norte-americana à qual fui apresentada recentemente. Ela disse: “eu escrevo, porque eu não sei o que eu penso até que eu leia o que eu digo”. Eu acho essa frase incrível — eu queria tatuá-la, na verdade —, porque ela defende exatamente o que acredito sobre a importância da escrita para jogar luz aos nossos sentimentos e pensamentos e nos ajudar a escutar e entender o que se passa dentro da gente.

Escutar e escrever têm o poder de transformar vidas

Eu acredito muito no poder que um texto tem para encantar, impactar, sensibilizar e criar conexão entre as pessoas. Mais do que isso… Eu acredito que é para isso que os textos existem! E para que os textos cumpram essa missão, eles precisam carregar sentido. E, como você já deve ter entendido até aqui, a única forma de criar sentido para um texto é escutando o que as pessoas e você mesmo têm para dizer!

Se escutar e escrever compõem a dobradinha de sucesso para um bom texto, não tenho dúvidas que esses dois verbos, carregados de empatia e sentido, têm o poder de transformar vidas. Por isso, todas as vezes que você se ver diante de um papel ou de uma tela e se sentir acometido pela paralisante pergunta “sobre o que eu vou escrever hoje?”, lembre-se das histórias que você escutou ao longo da sua vida. Se elas ficaram na sua cabeça ou se você as anotou num papel ao qual você poderia recorrer quando precisasse, é por que, de alguma forma, elas fizeram sentido para você. E se fizeram sentido para você, a chance de elas tocarem o outro é muito maior do que você pode imaginar!

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


Para aprender mais sobre escrita criativa, confira meu canal no Youtube, vídeos diários para você. Link abaixo:

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