Juliano Loureiro • ago. 08, 2020

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Hoje, neste post, você vai conhecer um pouco da história de João, um médico e diplomata que é considerado o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. 


O que esse João tem de tão especial? Talvez os seus sobrenomes, pelos quais o conhecemos, possa dizer algo: João Guimarães Rosa. Para quem tem o mínimo de conhecimento sobre a literatura brasileira, já basta associar Guimarães Rosa ao seu
Grande Sertão: Veredas.


Mas como foi o caminho até o reconhecimento? Vamos saber um pouco mais sobre a vida e obra de Guimarães Rosa, agora. Continue rolando a página e tenha uma boa leitura!

A vida de Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa é mineiro, nascido na cidade de Cordisburgo, no dia 27 de junho de 1908. Filho de uma família simples, Guimarães Rosa muda-se para a casa dos avós maternos, em 1918, para concluir seus estudos, na capital mineira.


Essa mudança, talvez tenha significado muito para Rosa, não só pelos estudos em si, mas pela forte influência do seu avô, um médico, escritor, filósofo e professor. Morando com um avô assim, era impossível Guimarães Rosa não se apaixonar pelo conhecimento. E assim, o menino cresceu e tornou-se um dos escritores mais importante da nossa história.


Mas voltando ao menino João, em Belo Horizonte, o autor estudou no colégio Arnaldo, um dos mais conhecidos da cidade - em atividade até hoje. E desde muito novo, Guimarães Rosa se demonstrou um amante das letras e línguas estrangeiras. Essa paixão iria lhe render o cargo de diplomata futuramente.


Em 1930, Guimarães Rosa forma-se na faculdade de medicina. É neste mesmo ano que ele começa a colocar as suas “asinhas literárias” de fora, publicando seus primeiros contos na revista
O Cruzeiro. Após a sua formatura, Rosa chegou a trabalhar no interior de Minas, mas por pouco tempo.

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Carreira diplomática

Lembra que eu falei que a paixão por línguas estrangeiras renderia um cargo de diplomata a Guimarães Rosa? Pois bem, dominando nada mais que 9 idiomas, Guimarães Rosa parte para o Rio de Janeiro, em 1934, para prestar um concurso para o Itamarati. E não era de se esperar outro resultado.


Guimarães Rosa entrou para a diplomacia e, já em 1938, era cônsul-adjunto na cidade de Hamburgo, na Alemanha. 


Bem, se vocês ligaram o ano ao país, sabem em qual contexto histórico Rosa foi para a Alemanha, certo? 


Com início da Segunda Guerra e o rompimento das relações entre Brasil e Alemanha, Guimarães Rosa foi preso, em 1942, na cidade de Baden-Baden. 


Mas esse não foi o fim da carreira diplomática de Guimarães Rosa. 


No final de 42, ele já tinha sido libertado e seguiu para seu novo posto como secretário da Embaixada Brasileira em Bogotá, na Colômbia. E, consolidando-se de vez como diplomata, entre os anos de 1946 e 1951, foi conselheiro diplomático em Paris!

Características das obras de Guimarães Rosa

Não sei qual a primeira lembrança que você tem de Guimarães Rosa e suas obras. Mas se você teve, no ensino fundamental e médio, aquela matéria de literatura, com certeza, você teve contato com Rosa e, provavelmente, com inúmeros trechos de Grande Sertão: Veredas.


Uma das coisas que, na época, me chamava atenção (e dava um certo desespero) era como era complicada a interpretação dos textos de Guimarães Rosa, como o jogo de palavras era dinâmico, misturando uma linguagem muito formal, regrada, com a simplicidade do regionalismo. 


E, sem contar que Rosa era como um rei do neologismo. Essa coisa de inventar palavras, formar novas palavras derivadas de outras, juntando duas palavras, era uma coisa totalmente diferente do que a gente vê comumente por aí. 


Todo esse rompimento, justifica-se pelo movimento do modernismo brasileiro, Guimarães Rosa é um dos principais nomes da chamada 3ª fase.


Ainda sobre o aspecto linguístico, o regionalismo registrado nas falas de seus personagens é um fator que comprova a “existência” desses personagens, que segundo o próprio autor eram
“criaturas de Minas: jagunços, vaqueiros, fazendeiros, pactários de Deus e do Diabo, meninos pobres, mulheres belas”. 


Com relação aos enredos de suas obras, Guimarães Rosa traz o interior como ambientação geográfica, porém, segundo o próprio autor, isso não quer dizer que as tramas narradas são de exclusividade do jagunço, do vaqueiro ou fazendeiro. 


Muito pelo contrário, a simplicidade do interior faz com que sua obra possa ser universal, porque permite a exploração de um outro espaço: o espaço psicológico, ou cósmico, como dizia Rosa.


A representação do interior, do sertão, serve como ilustração das condições psicológicas e filosóficas do ser humano. É aí que entra a universalidade das obras de Guimarães Rosa. A gente não precisa estar no sertão brasileiro para entender o clímax da trama, a gente só tem que notar que conflitos, tensões e as angústias que vivenciamos.

Sagarana

A primeira obra de Guimarães Rosa tem uma história curiosa. Rosa começou a escrevê-la em 1937, chegando a participar de um concurso literário com a obra e ficando em segundo lugar. Porém, em 1946, o autor a refez e a reduziu de 500 para 300 páginas.


O livro é uma coletânea de 9 contos em que Guimarães Rosa utiliza-se de técnicas que remetem às fábulas medievais, as sátiras e romances greco-romanos, além de apresentar contos que lembram estruturas narrativas modernas.


“Sagarana” é uma palavra composta:
Saga vem dos mitos germânicos, e rana é um sufixo tupi-guarani que quer dizer “semelhante, parecido com”. Veja que Guimarães quis trazer aqui a influência europeia para junto do regionalismo brasileiro.

Grande Sertão: Veredas

Essa, sem sombras de dúvidas, é a obra prima de Guimarães Rosa. Podemos dizer que trata-se de uma narrativa épica feita pelo jagunço Riobaldo.


O que poderia ser uma simples narrativa das memórias de Riobaldo, torna-se quase uma epopéia (excluindo-se o fato de não ser um poema), com um traço de linguagem sertaneja marcante - talvez a característica principal da obra.


Uma história de jagunços e coronelismo, mas que traz um debate quase que teológico sobre sentido da vida, Deus e ainda uma questão metafísica: o que é o sertão? Qual o tamanho do sertão? O sertão é um espaço geográfico ou é o interior do narrador, no caso, Riobaldo?


Paralelo - ou não - a tudo isso, ainda tem Diadorim e o amor proibido, o amor àquilo que nos causa repulsa, mas ainda nos atrai.


E, para deixar a história ainda mais complexa, o que é verdade, o que foi vivido ou não nessa história de Riobaldo? Por essas e outras, o
Sertão não é apenas um lugar geográfico.

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Obras de Guimarães Rosa

Publicadas em vida:

  1. 1946: Sagarana
  2. 1956: Corpo de Baile
  3. 1956: Grandes Sertões: Veredas
  4. 1962: Primeiras Estórias
  5. 1967: Tutameia - Terceiras Histórias


Publicações póstumas:

  1. 1969: Estas Estórias; 
  2. 1970: Ave, Palavra;
  3. 1997: Magma

Prêmios

  • 1937: 1º Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, pelo livro Magma;
  • 1937: Segundo lugar no Prêmio Humberto de Campos, da Livraria José Olympio, pelo livro Contos;
  • 1946: Prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira, pelo livro Sagarana;
  • 1956: Prêmio Machado de Assis, Prêmio Carmen Dolores Barbosa e Prêmio Paula Brito, todos pelo livro Grande sertão: veredas;
  • 1961: Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra;
  • 1963: Prêmio do Pen Club brasileiro, pelo livro Primeiras estórias;
  • 1966: Recebimento da Medalha da Inconfidência e da condecoração da Ordem de Rio Branco.

Curiosidades de Guimarães Rosa

  • Casou-se com 22 anos com Lígia Cabral Penna. Tiveram duas filhas.
  • Com a mesma idade (22 anos) formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais.
  • Foi Médico Oficial do 9º Batalhão de Infantaria, em 1934, na cidade de Barbacena.
  • O único livro de poesia de Guimarães Rosa; Magma; foi escrito em 1936, porém só veio a ser publicado em 1997. Apesar disso, no ano em que foi escrito, o livro concorreu e venceu o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.
  • Enquanto vice-cônsul, em Hamburgo, ajudou inúmeras vítimas do nazismo a fugirem, assinando o visto em seus passaportes.
  • Guimarães Rosa foi nomeado para Academia Brasileira de Letras, em 1963. Mas a sua posse ocorreu apenas no dia 16 de novembro de 1967, três dias antes de sua morte.
  • Representou o Brasil no II Congresso Latino-Americano de Escritores e do Conselho Federal de Cultura, em 1967.


Poderia ficar por dias e dias ainda falando sobre Guimarães Rosa e trazendo análises sobre suas obras e seus neologismo. Digamos que o “sertão Rosa” é um infinito a ser explorado.

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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