Juliano Loureiro • ago. 25, 2020

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Responsável por formar grande parte dos leitores, as histórias em quadrinhos também sofrem um certo preconceito, afinal, quem nunca falou e/ou ouviu que quadrinhos é coisa de criança?


Não vou nem me esforçar em tentar quebrar um conceito tão pobre,
já falei em diversas ocasiões que não existe uma leitura só para crianças ou só para adultos, depende muito dos interesses, maturidade e, acima de tudo, da preferência do leitor. 


Enfim, as histórias em quadrinhos são sucessos no mundo todo e, é claro, que o Brasil tem grandes quadrinistas. Alguns, com certeza, você já conhece, porque eles fizeram parte da sua formação literária. Ou vai dizer que você nunca deu uma lidinha nas revistinhas daquela baixinha, dentuça e de vestidinho vermelho?


Preparei este texto para você conhecer um pouco mais sobre quadrinistas famosos brasileiros - ou que você
DEVE conhecer -, mas antes, um pouco de história (não em quadrinhos):

Origem das histórias em quadrinhos

As histórias em quadrinhos, conhecidas também como HQs ou comics, têm uma origem que pode ser traçada até as primeiras manifestações de narrativas visuais na história humana. Exploraremos essa evolução:


  1. Primeiras Manifestações: As origens das histórias em quadrinhos podem ser rastreadas até as antigas civilizações, como os egípcios, que utilizavam hieróglifos para contar histórias em seus monumentos e papiros. Outros exemplos incluem afrescos medievais e tapeçarias, como a famosa Tapeçaria de Bayeux, que narra a Batalha de Hastings em 1066.
  2. Século 18 e 19: A forma moderna de quadrinhos começou a se desenvolver na Europa e nos Estados Unidos durante estes séculos. Publicações satíricas e caricaturas políticas se tornaram populares, com artistas como William Hogarth na Inglaterra e Honoré Daumier na França, que são frequentemente citados como precursores dos quadrinhos modernos.
  3. Final do Século 19: A invenção da imprensa rotativa e o aumento da alfabetização levaram ao surgimento das tiras de quadrinhos em jornais. "The Yellow Kid", criado por Richard F. Outcault em 1895, é frequentemente citado como um dos primeiros exemplos de uma tira de quadrinhos moderna.
  4. Início do Século 20: Esta época viu o crescimento das tiras de jornal e o início dos quadrinhos em formato de livro. Personagens como "Little Nemo in Slumberland" de Winsor McCay e "Krazy Kat" de George Herriman ganharam popularidade.
  5. Década de 1930 - Era de Ouro dos Quadrinhos: Marcada pelo surgimento de super-heróis como Superman (1938), Batman (1939), e muitos outros, esta era viu os quadrinhos se tornarem uma parte importante da cultura popular.
  6. Pós-Segunda Guerra Mundial: Após a guerra, houve uma diversificação no conteúdo dos quadrinhos, incluindo gêneros como horror, crime, romance e ficção científica.
  7. Anos 60 em diante: Surgiram movimentos de quadrinhos underground e alternativos, desafiando as normas e explorando temas adultos e políticos.
  8. Era Moderna: Os quadrinhos continuaram a evoluir, abrangendo uma ampla gama de gêneros e estilos, e expandindo-se para novos formatos como graphic novels e webcomics.



A história dos quadrinhos é uma tapeçaria rica e diversificada, refletindo mudanças culturais e tecnológicas ao longo dos séculos.

Histórias em quadrinhos no Brasil

No Brasil, a primeira HQ veio surgir somente em 1905. O Tico-Tico foi idealizada por Renato de Castro e publicada pelo periódico O Malho.


Mas foi em 1960, que a história em quadrinhos, no Brasil, deu um
boom. E foi através das mãos de um dos mais importantes quadrinistas nacional. A Turma do Pererê foi a primeira publicação nacional totalmente colorida e é criação de Ziraldo. Ele mesmo, o pai do Menino Maluquinho, bem antes, já marcava seu nome como um dos principais artistas gráficos brasileiro.


Antes da
A Turma do Pererê, timidamente surgia entre uma tira e outra, alguns personagens como Bidu e Franjinha, mas nada que despertasse tanta atenção. Até que, nos anos 60, o paulistano Maurício de Souza ganhou destaque com a sua turma da rua do Limoeiro.


Então, nada mais justo que começarmos a falar sobre principais nomes do quadrinho nacional com o pai da Turma da Mônica.


Vamos às HQ!

mauricio-de-souza

Dispensa apresentações, não é mesmo? Dificilmente, você encontrará uma criança que não tenha tido contato com Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento, Horácio, Penadinho, Bidu, Franjinha…..são inúmeros personagens que marcaram e ainda marcam época.


A Turma da Mônica, nascida ali no final dos anos 50, início dos 60, ocupou todos os campos artísticos, saíram dos quadrinhos e foram para a televisão e cinema, ganhando inclusive, uma versão recente, com atores reais.

Para você ter uma ideia, de 1959 até 2020, a Mauricio de Sousa Produções já publicou, basicamente, um bilhão de revistas, representando 86% das vendas da HQ no Brasil. Você tem ideia do que seja isso? Você responde por quase totalidade de vendas de revistinhas no país. E não é só isso, a Turma da Mônica já está em mais de 30 países.


Uma das coisas mais bacanas do Maurício de Souza é o fato dos seus personagens serem baseados em pessoas reais, como suas filhas, irmãos e amigos.

Ziraldo

ziraldo

Dividindo com Maurício de Souza o posto de mais importante quadrinista brasileiro, Ziraldo foi responsável pela faísca que botou fogo no cenário das HQ brasileiras. Bem como disse acima, A Turma do Pererê foi, digamos assim, o empurrãozinho que faltava.


Ziraldo é mineiro e, caso não saiba,
Ziraldo é realmente o seu nome de batismo, nada de nome artístico não. Além de quadrinista, Ziraldo é cartunista, chargista, pintor, dramaturgo, caricaturista, escritor, cronista, humorista, colunista e jornalista. Como pode ser tudo isso?


A carreira desse artista mineiro começou no início dos anos 50, na revista Era Uma Vez. 10 anos depois, veio a primeira revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor, totalmente à cores e produzida aqui, no Brasil. A Turma do Pererê era composta por personagens inspirados na cultura nacional.

Uma curiosidade: com a chegada dos militares ao poder, em 1964, a Turma do Pererê parou de ser publicada, voltando somente em 1975, pela Editora Abril.


Ziraldo foi muito além da Turma do Pererê. Apesar de ser associado à grandes obras da literatura infantil, como Flicts, O Menino Maluquinho, O Bichinho da Maçã, O Joelho Juvenal e Uma Professora Muito Maluquinha, Ziraldo também
emprestou seu talento para publicações  de cunho crítico cultural e político. Foi responsável pela fundação do O Pasquim, durante os anos da ditadura, e, em 99, fundou as revistas Bundas e Palavra.

Angeli

angeli

Para acabar de uma vez por todas com o estereótipo de que histórias em quadrinhos são para crianças, trouxe um quadrinista referência em quadrinhos para adultos. Arnaldo Angeli Filho, ou simplesmente Angeli, começou cedo a trabalhar com charges e a contribuir em diversos fanzines.


Os personagens mais famosos de Angeli são: Bob Cuspe, Los Três Amigos, Osgarmo, Walter Ego, Bibelô, Meia Oito e Nanico, Rê Bordosa, Skrotinhos, Skrotinhas e Wood & Stock.


Angeli nasceu no dia 31 de agosto de 1956 e desde 1973 trabalha na Folha de São Paulo. As suas principais influências são Ziraldo e Millôr Fernandes. O sucesso para Angeli chegou nos anos 80, quando seus personagens começaram a cair na graça do público.

Em 1980, Angeli lançou a revista Chiclete com Banana, um marco editorial no cenário nacional das HQs. A revista reunia outros grandes quadrinistas como Laerte, Glauco e Luis Gê, chegando a vender 115 mil exemplares. 


Chiclete com Banana veio em um momento conturbado no cenário político brasileiro, era a época da redemocratização e Diretas Já. A revista deixou de ser apenas “histórias em quadrinhos” para ser um guia comportamental, com críticas sociais e comportamentais. 


Sobre Chiclete com Banana, Angeli afirma:
“Eu não gostava de revista de quadrinhos, com um quadrinho atrás do outro, como se fosse um catálogo, então comecei a pensar matérias com e sem foto. Comecei a profissionalizar essa parte de engordar uma revista, colocar conteúdo”


Angeli já teve suas tiras publicadas na Alemanha, França, Itália, Espanha e Argentina. Em Portugal, o sucesso foi tão grande que ganhou uma compilação de seu trabalho lançada pela editora Devir em 2000. Ainda em 2000, estreou uma série de animação com seus personagens numa co-produção da TV Cultura com a produtora portuguesa Animanostra.


Curiosidades sobre Angeli: o quadrinista tornou-se seu próprio personagem, com as tirinhas
Angeli em crise. Apesar de não fazer HQs para o público infantil, Angeli esteve em um grande projeto televisivo para crianças: ele foi redator do programa TV Colosso (1993-1996).

Lacarmélio (Celton)

lacarmelio

Peço licença aos leitores, para fazer uma homenagem mais que justa. Se você não mora em Belo Horizonte, esse nome Lacarmélio pode não significar muita coisa. Mas para os belo-horizontinos, o Celton é um personagem folclórico das ruas da capital mineira. Deixa eu contar um pouco da sua história.


Lacarmélio Alfeo de Araújo é um quadrinista mineiro que produz suas HQs de forma independente. Ganhou notoriedade por estar sempre as vendendo nos sinais da principais ruas de BH, com uma enorme placa anunciando o seu produto, sua bicicleta estacionada no semáforo e um terno amarelo (nada discreto) com uma gravata vermelha - faça chuva ou faça sol. Além disso, o seu bom humor é sua marca registrada, sempre correndo nos corredores para tentar vender no intervalo de um sinal fechado, Lacarmélio é pura simpatia.


Mas o mais interessante é que ele acabou sendo conhecido como Celton, o seu personagem principal.
As histórias de Celton estão sempre alinhadas às histórias da capital mineira e região metropolitana. Obviamente, as que ganham mais destaques são aquelas que fazem referência ao folclore belo-horizontino, como as histórias da Loira do Bonfim e do Capeta do Vilarinho.

O Celton, ops, o Lacarmélio já foi diversas vezes condecorado pela prefeitura de BH e, inclusive, homenageado pela 4ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos em 2005. Deixo aqui, o perfil desse quadrinista fantástico, para quem quiser conhecer o seu trabalho de perto.

Outros quadrinistas renomados do Brasil

O Brasil tem uma rica tradição em quadrinhos, com muitos outros artistas talentosos que ganharam reconhecimento tanto nacional quanto internacionalmente. Alguns dos mais notáveis quadrinistas brasileiros incluem:



  1. Laerte: Uma das mais importantes cartunistas brasileiras, Laerte é conhecida por seu trabalho diversificado, que inclui tiras de humor e quadrinhos que exploram questões de gênero e política.
  2. Henfil (Henrique de Souza Filho): Foi um importante cartunista, jornalista e escritor, conhecido por sua crítica política e social durante o regime militar no Brasil. Seus personagens mais famosos são o Graúna, o Zeferino e o Bode Orelana.
  3. Adão Iturrusgarai: Conhecido por um humor ácido e frequentemente voltado para o adulto, Adão é um dos cartunistas contemporâneos mais reconhecidos do Brasil. Seu trabalho frequentemente explora temas sexuais e absurdos.
  4. Fábio Moon e Gabriel Bá: Estes irmãos gêmeos ganharam reconhecimento internacional por suas obras em quadrinhos, incluindo "Daytripper" e "Dois Irmãos". Eles são conhecidos por sua narrativa poética e arte expressiva.
  5. Mike Deodato: Um artista conhecido no cenário internacional de quadrinhos, Deodato tem trabalhado em várias publicações da Marvel Comics, incluindo "The Amazing Spider-Man", "Thor", "Hulk" e "Avengers".
  6. Ivan Reis: Outro artista brasileiro de renome internacional, Ivan Reis é conhecido por seu trabalho em várias séries da DC Comics, incluindo "Aquaman", "Green Lantern", e "Justice League".


Estes artistas representam apenas uma fração do talento e da diversidade encontrados na cena de quadrinhos brasileira, que continua a crescer e a se desenvolver.

Considerações finais

Hoje, eu apresentei apenas quatro quadrinistas, sendo dois precursores, um que é referência dos quadrinhos adultos e um autor independente. Isso só para te dar um gostinho do que é o universo das HQs nacionais. 


Faltam diversos nomes importantes dos primórdios, além dos quadrinistas atuais que representam muito bem o quadrinho nacional até fora do país e, inclusive, trabalhando para grandes estúdios e editoras. Quem sabe, num próximo post?


Antes de encerrar, eu quero te dar uma super dica e, porque não dizer, um presente para quem gosta de escrever. 


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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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