Juliano Loureiro • fev. 27, 2023

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O Barroco é um movimento artístico que abrange as mais diversas manifestações culturais. Talvez, para nós brasileiros, as artes plásticas, pintura e arquitetura sejam as mais lembradas, principalmente para a galera de Minas Gerais.


Mas a literatura também tem seu marco no Barroco, com dois grandes nomes:
Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos. Só de termos esses dois como referências, já podemos imaginar que o Barroco é uma corrente de opostos.


De um lado a religião, do outro o racional. Um lado da moeda na luz e o outro na escuridão. Uma coisa podemos ter certeza:
o Barroco não foi um movimento excludente.


Mas por “compactuar” com protagonistas e antagonistas, o Barroco traz a angústia, a crise existencial em sua base. Mas no seu meio, houve muito espaço para o senso crítico, sarcasmo e, até mesmo, para o
carpe diem. Duvida?


Vem comigo que hoje tem um pouco de História!

Contexto histórico

O Barroco surgiu no final do século XVI, na Itália, em meio a um dos maiores embates religiosos da história. A Europa vivia uma efervescência nos bastidores da Igreja Católica que culminou em dois dos principais movimentos religiosos: a Reforma Protestante (ou Luterana) e a Contrarreforma.


Em 1517, um monge agostiniano elaborou algumas teses (95 no total), questionando os dogmas da Igreja Católica e fundamentando uma nova forma de cristianismo, baseada na fé e no conhecimento dos textos bíblicos. Esse monge era Martinho Lutero.


O principal “ataque” de Lutero à Igreja Católica foi a acusação de corrupção. Martinho afirmou que a Igreja vendia o perdão com o argumento de que só assim os fiéis teriam a vida eterna e absolvição dos pecados.


Para Lutero e suas teses, o perdão dependeria exclusivamente de uma vida marcada pela religiosidade, pelo arrependimento dos pecados e pela fé em Deus. Isso fez com que muitos fiéis “abrissem os olhos” e abandonassem a Igreja.


Para contra-atacar Martinho Lutero, a
Igreja Católica estabeleceu algumas mudanças internas, para diminuir a insatisfação dos fiéis. Mas o mais importante foram os movimentos para a expansão de sua doutrina e as medidas de perseguição religiosa.


Foi com a Contrarreforma que surgiu a
Companhia de Jesus, responsável por doutrinar povos escravizados, como os índios no Brasil, por exemplo. E uma das maiores manchas na história católica, o Tribunal do Santo Ofício foi instaurado para punir aqueles que discordavam dos dogmas católicos, era a chamada inquisição.


Mas, enquanto a Igreja enfrentava seus problemas internos - mas que se externavam cada vez mais-, um outro movimento ganhava força. Longe dos ideais religiosos, os ideais humanistas ganhavam espaço, graças ao renascimento.


Por isso,
não é de se estranhar que a literatura barroca e outras artes do movimento apresentem ideias contraditórias tão próximas. Ao mesmo tempo que tínhamos um extremismo religioso (inclusive, com duas correntes), tínhamos também quem valorizasse o culto, a razão e a cultura clássica.

Características do Barroco

O Barroco tem como principal característica a oposição de ideias, como você pode perceber no seu “nascimento”.


E como as ideias opostas não eram excludentes na hora da produção, as principais obras barrocas trazem um traço de angústia existencial. Isso perceberemos ao longo das características.


Um dos conflitos mais impactantes ficou conhecido como
Fusionismo. Esse, nada mais é que o antropocentrismo versus o teocentrismo. De um lado, a ideia de que tudo acontece por causa e em torno do homem, já do outro lado, Deus é o centro do universo. 


Desse embate, podemos dizer que tenha surgido uma grande tensão entre o mundo material e o mundo espiritual.


O conflito entre fé e razão foi responsável por grande parte das produções literárias e artísticas do Barroco. Mas além desse dualismo, o movimento teve como características:
o gosto pela morbidez, o sensualismo, a idealização amorosa


Algumas das principais oposições que marcaram a produção artística do Barroco foram:


  • Sagrado x profano
  • Luz x sombra
  • Paganismo x cristianismo
  • Racional x irracional
  • Material x espiritual
  • Fé x razão
  • Carne x espírito
  • Pecado x perdão
  • Juventude x velhice
  • Céu x terra
  • Erotismo x espiritualidade


Importante ressaltar que
tais conflitos não significavam a escolha de um em detrimento do outro. As produções artísticas traziam os dois lados, em uma mesma obra. É exatamente a dificuldade de escolha de um lado que tecia a linha da produção artística.


Há uma característica no Barroco muito popular, inclusive atualmente, que pode parecer estranho pertencer à corrente barroca: é a valorização do
carpe diem. E o significado é realmente o que todo mundo conhece (ou tem tatuado), aproveitar o máximo do presente.


O
carpe diem representa outro traço barroco que é a consciência da fragilidade do tempo e a efemeridade da vida.


Já no aspecto linguístico, a linguagem barroca ficou marcada como a linguagem do exagero, do rebuscamento. 


Na
poesia, o soneto e a medida nova dos versos eram os preferidos. As inversões sintáticas, invertendo a ordem direta das frases (sujeito + verbo + predicado) e construções complexas sendo constantes também.


E para caracterizar o texto barroco, eram empregadas variadas figuras de linguagem, como a antítese, o paradoxo, a metáfora, a metonímia, dentre outras.

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As características do Barroco, então, em suma:


  • Fusionismo: fusão entre a visão medieval (teocentrismo) e a renascentista (antropocentrismo);
  • Antítese e paradoxo: refletem uma época de contrastes;
  • Pessimismo: a felicidade só se realizaria no plano celestial;
  • Feísmo: fascinação pela miséria humana, crueldade, dor, podridão e morte;
  • Rebuscamento: ornamentação excessiva da linguagem;
  • Hipérbole: exagero;
  • Sinestesia: apelo sensorial;
  • Cultismo ou gongorismo: jogo de palavras, por exemplo, uso de sinônimos, antônimos, homônimos, trocadilhos, figuras de linguagem, hipérbatos;
  • Conceptismo: jogo de ideias, como, por exemplo, comparações e argumentação engenhosa);
  • Morbidez;
  • Sentimento de culpa;
  • Carpe diem;
  • Versos decassílabos;
  • Principais temáticas: fragilidade humana, fugacidade do tempo, crítica à vaidade, contradições do amor.

O Barroco no Brasil

Voltando ao aspecto histórico do movimento, lembremos que o Brasil enquanto colônia portuguesa seguia as leis da Coroa e os costumes da metrópole. Então, restava ao Brasil a imposição católica. 


Por isso, um dos principais nomes do Barroco brasileiro foi o
Padre Antônio Vieira, representando o catolicismo em nossa arte. Mas esse é apenas um dos lados da moeda barroca, digamos assim. Aqui, no Brasil, também se refletiu a dualidade barroca, com imagens conflituosas, já que a fé, paradoxalmente, convivia com a incerteza.


Alguns dos principais artistas brasileiros, do Barroco, surgiram em Minas Gerais. O fato se deve por conta da exploração do ouro. Nomes como Aleijadinho; na arquitetura e pintura; Mestre Ataíde; também na pintura; e José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita, na música, fizeram história.


E na literatura? Quais as principais obras do Barroco?

Principais autores do Barroco

O Barroco, na Europa, teve dois grandes centros culturais, Portugal e Espanha.


Em terras portuguesas, 
Padre Manuel Bernardes, Francisco Manuel de Melo e Maria Alcoforado destacaram-se na produção da prosa religiosa e moralista. Francisco Manuel de Melo também destacou-se na poesia e no teatro.


Na Espanha, destaque para
Luís de Góngora y Argote, Lope de Vega, Pedro Calderón de La Barca, Tirso de Molina, Baltasar Gracián e Mateo Alemán, na poesia, teatro e sermões. Francisco de Quevedo y Villegas e Miguel de Cervantes foram os principais nomes da prosa barroca espanhola.

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Principais autores brasileiros

Veja quais foram os principais autores brasileira barrocos:

Bento Teixeira

Nascido em Portugal, mudou-se para o Brasil ainda com 6 anos. É tido como precursor do Barroco Brasileiro com o livro Prosopopeia, de 1601. O poema épico mistura fatos históricos e mitológicos para homenagear o governador de Pernambuco Jorge d’Albuquerque Coelho:


“Cantem Poetas o Poder Romano,

Submetendo Nações ao jugo duro;

O Mantuano pinte o Rei Troiano,

Descendo à confusão do Reino escuro;

Que eu canto um Albuquerque soberano,

Da Fé, da cara Pátria firme muro,

Cujo valor e ser, que o Céu lhe inspira,

Pode estancar a Lácia e Grega lira (...)”

Padre Antônio Vieira

Antônio Vieira também era português de nascença, mas veio para o Brasil ainda criança. Padre Antônio Vieira tem um vida um tanto quanto curiosa, ao ser integrante da Companhia de Jesus, era forte influenciador do rei Dom João IV e, mesmo assim, foi condenado por heresia pela Inquisição.


Uma de suas principais obras é o
Sermão da Sexagenária, pregado em Lisboa, em 1655. O sermão é dividido em 10 capítulos e nele, Vieira discute a pregação católica e o modo como deveria ser realizada a fim de atingir o seu objetivo evangelizador:


“Com os olhos no céu, com os olhos na terra e com os olhos no Evangelho determino pregar hoje, que é o modo com que nas festas dos santos se deve pregar sempre. Deve-se pregar com os olhos no céu, para que vejamos o que havemos de imitar nos santos; deve-se pregar com os olhos na terra, para que saibamos o que havemos de emendar em nós; e deve-se pregar com os olhos no Evangelho, para que o Evangelho, como luz do céu na terra, nos encaminhe ao que havemos de emendar na terra e ao que havemos de imitar no céu [...]”

Gregório de Matos

O nome mais famoso do Barroco brasileiro não teve nenhum livro publicado em vida. Fez o caminho inverso de Bento Teixeira e do Padre Antônio Vieira, nasceu em Salvador, mas foi fazer faculdade em Portugal.


Gregório é conhecido como
Boca do Inferno, devido ao senso crítico apuradíssimo, destacou-se como grande sátiro do governo, da nobreza e do clero. Na poesia, foi um poeta de quatro vertentes de poesia: amorosa, filosófica, religiosa e satírica.


Vejamos um exemplo daquela poesia que lhe rendeu a alcunha de
Boca do Inferno, um poema satírico:


Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes


Que me quer o Brasil que me persegue?

Que me querem pagastes que me invejam?

Não veem que os entendidos me cortejam,

E que os nobres é gente que me segue?


Com seu ódio a canalha que consegue?

Com sua inveja os néscios que motejam?

Se quando os néscios por meu mal mourejam

Fazem os sábios que a meu mal me entregue.


Isto posto, ignorantes e canalha,

Se ficam por canalha e ignorantes

No sol das bestas a roerem a palha:


E se os Senhores nobres e elegantes

Não querem que o soneto vá de valha,

Não vá, que tem terríveis consoantes.

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O Barroco é uma corrente artística bem intensa, percebemos em suas obras. Nos textos, há uma clara angústia, uma dúvida de “para onde ir”, porque apesar do dualismo de ideias, ambos os lados são muito bem defendidos. Vide os textos de Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos.


Nas artes visuais, a contraposição de luz e escuridão traz para gente a angústia do artista. Vale muito à pena conhecer essas obras e, puxando sardinha para o meu lado, fica o convite para conhecer Minas Gerais e respirar um pouco de história barroca.


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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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