Rafaela Baião • mai. 14, 2020

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A escrita sempre esteve presente na minha vida. Escrever é algo que eu gosto de fazer desde bem nova e colocar no papel o que estou sentindo é um excelente refúgio para alguém que, apesar de não parecer, tem muita dificuldade de falar sobre o que sente. Além disso, me formei em Jornalismo e a escrita também passou a fazer, há mais de uma década, parte do meu dia a dia profissional.

E talvez tenha sido exatamente por causa da profissão que, em algum momento do caminho, a escrita deixou de fazer parte de mim para fazer parte do meu trabalho. Desde 2007, eu escrevo matérias jornalísticas, blogposts, legendas para redes sociais, textos para peças publicitárias, regulamentos de concursos, discursos para autoridades, releases para a imprensa, briefings para planejamentos de comunicação e outros textos que integram a rotina de conteúdos do mundo corporativo.

A questão é que nunca assinei NENHUM desses textos e sempre me esforcei ao máximo para ser o mais isenta possível na redação deles. Isso significa que, em quase 15 anos de profissão (considerando meu tempo de estagiária, quando eu já escrevia bastante), eu fui, na maior parte do tempo, uma redatora/escritora muito produtiva, mas sem textos autorais publicados (com a exceção das legendinhas dos posts que eu publico, vez ou outra, no meu perfil pessoal das redes sociais). Para falar a verdade, esse não era meu maior incômodo — porque isso, na verdade, faz parte da profissão (e, para ser sincera, eu não concordo com muitos dos textos que escrevi profissionalmente e, logo, foi um alívio não precisar assiná-los).

O porquê de não escrever e o primeiro passo para mudar essa história

Mais do que não ter nenhum texto publicado em meu nome, o que me incomodava mesmo é que os textos que faziam sentido pra mim, aqueles que eu gostava realmente de escrever, que representavam, de verdade, a presença da Rafaela no mundo, ficavam, em sua maioria, na minha cabeça. 

Por falta de tempo, por vergonha, por falta de oportunidade ou por acreditar que eu não tinha nada de relevante a dizer (Bingo! Era exatamente isso!), eu passei todos esses anos sem escrever algo que meu verdadeiro EU pudesse assinar e, apesar de estar tudo bem com isso, era muito claro pra mim que faltava alguma coisa.

Foi diante de todo esse contexto que, em 2019, eu conheci Brené Brown e seu transformador A coragem de ser imperfeito”. Apesar de, nas livrarias, ele ser encontrado nas prateleiras de autoajuda, eu acho que todo mundo, inclusive aqueles que têm resistência a esse tipo de literatura, deveria deixar o preconceito de lado e mergulhar junto com Brené. Digo mergulhar porque foi exatamente isso que o livro dela significou pra mim… Foi um mergulho dentro de mim mesma como eu nunca tinha feito e que, apesar de não ter especificamente a ver com escrita, jogou luz sobre o caminho que eu precisava percorrer para preencher aquilo que me faltava.

Se fosse para resumir a obra de Brené Brown em uma palavra seria VULNERABILIDADE e como não afirmar, categoricamente, que acreditar que eu não tenho nada de relevante a dizer para as pessoas é, na verdade, uma fantasia bem dramática e frágil para “eu tenho medo de me mostrar vulnerável”?  “A coragem de ser imperfeito” me ensinou muitas coisas (e eu sigo pregando para o mundo e evangelizando as pessoas sobre essa preciosidade), mas, especialmente, me fez sentir que a melhor forma de eu me abrir para a vulnerabilidade e me fazer presente neste mundo sem medo do que os outros iam pensar era, de fato, colocar a escrita para jogo. Legal! Brené Brown me ensinou o que fazer… Mas, e agora?

Um encontro com a escrita por meio da leitura

E agora que a jornada estava só começando... E foi nesse caminho que eu esbarrei na maravilhosa Ana Holanda e no seu também transformador “Como se encontrar na escrita”. Eu já vinha acompanhando o trabalho da Ana há algum tempo, por ser uma grande admiradora do trabalho da Vida Simples — revista da qual ela foi editora-chefe por muitos anos — e estar muito interessada no curso de “Escrita Criativa e Afetuosa” que fazia ela rodar o Brasil. Comprei o livro despretensiosamente, achando que nele eu encontraria um compilado de dicas e técnicas de escrita, e foi logo na introdução que eu descobri que não era nada disso.

Era um domingo (16 de junho de 2019, eu me lembro como se fosse ontem) e eu comecei e terminei esse livro na mesma tarde. Eu sei que ler um livro em uma sentada pode soar desrespeitoso para os autores que se dedicaram durante meses ou anos àquela obra. Mas, com “Como se encontrar na escrita”, não tinha como ser diferente. Eu precisava dessa intensidade, eu precisava desse mergulho, eu precisava desse “tapa na cara” de uma só vez. E foi lindo… Foi no jeito de a Ana Holanda ver o mundo que eu me encontrei na escrita, cumprindo em questão de horas o que o título do livro prometia.

Sem ter a menor ideia do que eu pensava sobre a minha relação com a escrita, a Ana desmistificou, logo nas primeiras páginas, essa ideia de que a gente não tem nada de relevante para dizer ao mundo. Na verdade, ela defende que qualquer um pode escrever sobre qualquer coisa e que, para o texto fazer sentido e ser relevante, o único critério é escrever com o coração e com a alma. Para tocar na camada mais funda do outro, o texto precisa sair de uma camada funda do autor — caso contrário, a superfície só atinge a superfície, e textos rasos não agregam mesmo nenhum valor para nada e ninguém.

Na escrita da Ana Holanda, eu me encontrei! Percebi que o meu hábito de construir histórias na cabeça (eu faço isso o tempo todo, em qualquer lugar que eu estiver) é, na verdade, uma forma de enxergar as pessoas como elas são e além do que elas representam em um determinado contexto. Cliente, usuário, colaborador… Antes de qualquer coisa, somos pessoas! Com sentimentos, problemas, segredos e, acima de tudo, histórias. É isso que queremos que as pessoas enxerguem… É isso que queremos deixar para o mundo… É isso que nos fazer ser quem somos! E é para isso que eu quero usar a escrita!

Saindo de O QUE fazer para o COMO fazer

Agora, eu tinha tudo o que precisava… Brené Brown me ensinou o que fazer e a Ana Holanda veio de um jeito lindo me mostrar como. E foi também por meio dessas duas que eu descobri o porquê de eu ter deixado a escrita autoral de lado por tantos anos… Pra fazer sentido, precisa sair de uma camada funda do interior de quem escreve e, pra tirar um texto de uma camada funda de dentro da gente, é preciso olhar pra dentro. E, como todo mundo deve saber, olhar pra dentro dói… E não é pouco!

A sorte é que o universo estava conspirando a meu favor… Quando essas duas cruzaram meu caminho, eu estava fazendo terapia há quase um ano (pausa para fazer uma reverência de profunda gratidão a minha amada terapeuta), em um processo intenso de autoconhecimento. A essa altura do campeonato, eu já estava acostumada com a dor de olhar pra dentro (nunca para de doer, eu devo dizer antes que você me pergunte) e não tinha mais medo de senti-la… Ou seja, eu estava pronta para enfrentar o processo da escrita, de forma intensa e profunda, como ele deve ser!

Lindo até aqui… Mas, é hora de colocar em prática!

E foi assim, a partir da minha decisão de tirar um antigo “projeto” do papel, que nasceu o @euvejoumahistoria, um perfil no Instagram onde eu publico as historinhas que construo na minha cabeça. O “projeto” nunca foi um projeto de verdade e o que, de fato, eu tirei do papel foi a vontade de fazer algo contra o vazio que existia em mim, que insistia em me dizer que faltava algo mais concreto na minha relação com a escrita. E eu não sou capaz de dizer o quanto esse tem sido um processo intenso, bonito e importante pra mim!
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Com o Eu Vejo Uma História, eu não tenho como foco alcançar um grande número de seguidores ou de fazer com que meus textos atravessem fronteiras. Os objetivos desse projeto estão totalmente ligados a mim… Eles têm a ver com a minha vontade de praticar mais minha escrita, com o meu interesse em compartilhar com as pessoas mais próximas as histórias que construo na minha cabeça, e, PRINCIPALMENTE, com o meu desejo de abrir as portas para a vulnerabilidade, tornando público o que eu escrevo. Mas, devo dizer: a frequência de publicação é menor do que eu gostaria — porque a rotina atribulada me impede de ter tempo para elaborar minhas histórias e porque as “chatices” do dia a dia, muitas vezes, me arrancam a inspiração para escrever. 

Ainda assim, eu ficaria feliz se você tirasse um tempinho do seu dia para conhecer o perfil. Ele pode ser uma forma pra você saber mais sobre mim (eu não escrevo sobre mim, mas as histórias que construo dizem muito a meu respeito), pode te proporcionar um momento de descanso no seu dia atribulado (geralmente, as historinhas têm um final feliz) ou, quem sabe, pode ser um incentivo pra você se encontrar também. Pela minha experiência, e conforme você deve ter percebido neste texto, eu acredito firmemente que, muitas vezes, a gente se enxerga no caminho do outro e nele encontra luz para planejar os próprios passos.

Se gostou deste texto, conheça o Eu Vejo Uma História. Quem sabe você não encontra nas minhas histórias uma inspiração para começar a construir a sua!

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


Para aprender mais sobre escrita criativa, confira meu canal no Youtube, vídeos diários para você. Link abaixo:

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