Juliano Loureiro • jan. 25, 2023

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Paulo Freire é o Patrono da Educação Brasileira, mas seu método de ensino é referência mundial, referência mesmo em instituições renomadas como Harvard.


Formado em direito, foi na educação que Paulo Freire entrou para a história, sendo uma das principais figuras brasileiras.
São mais de 40 livros publicados, 40 prêmios entre menções honrosas de entidades como a Unesco. Mas mesmo com tamanha relevância, Paulo Freire acumula desafetos, principalmente das mentes conservadoras.


Como um educador pode ter despertado sentimentos tão opostos? Convido você a conhecer um pouco da história de vida deste educador brasileiro com mais títulos de doutorados honoris causa e é o escritor da terceira obra mais citada em trabalhos de ciências humanas do mundo.

Biografia de Paulo Freire

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O seu nome de batismo é Paulo Reglus Neves Freire, nasceu em 19 de setembro de 1921, na capital de Pernambuco, Recife. Dez anos depois, a família de classe média, com mais dois irmãos e uma irmã, se mudaria para Jaboatão dos Guararapes. Com 13 anos, Paulo Freire perdeu o seu pai.


Os estudos de Freire iniciaram-se no Colégio 14 de Julho, mas com a morte do pai, a situação financeira da família apertou. A mãe, até então dona de casa, não conseguia manter o pagamento da escola.


Como Paulo Freire era um jovem estudioso, a sua mãe conseguiu uma bolsa com ajuda do diretor do Colégio Oswaldo Cruz. Além da bolsa, o diretor isentou a família da matrícula.
Paulo Freire não só estudou, como também chegou a trabalhar na instituição. 


O seu primeiro cargo foi designado pelo diretor: auxiliar de disciplina.
Após formar-se em Direito, ele voltou ao Oswaldo Cruz para lecionar Língua Portuguesa.


E já que toquei no assunto, Paulo Freire, em 1943, ingressou na Faculdade de Direito de Recife. Ao mesmo tempo, estudava Filosofia da Linguagem, o que proporcionou a primeira experiência como professor de Língua Portuguesa, no ensino médio.


Ao término do curso de Direito, Paulo Freire percebeu que aquela não era a “sua praia”. Além do retorno ao Colégio Oswaldo Cruz, ao mesmo tempo, ele lecionou Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco.


Entre esse período do Direito e o Oswaldo Cruz, Paulo Freire assumiu a direção do Departamento de Educação e Cultura do SESI, o Serviço Social da Indústria, em 1947. Foi lá que ele iniciou seu
trabalho de alfabetização de jovens e adultos.

O método Paulo Freire de alfabetização

Paulo Freire permaneceu no cargo de diretor no Sesi até o ano de 1959. O que partiria dos anos 60 mudaria para sempre a sua vida e, consequentemente, o sistema educacional brasileiro.


Ainda em 59, Paulo Freire foi aprovado no processo seletivo para ocupar a cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes da Universidade de Recife. A sua aprovação veio com a apresentação do que seria conhecido como
o primeiro livro de Freire sobre educação: Educação e atualidade brasileira.

As 40 horas de Angicos

Dois anos depois, em 1961, Paulo Freire tornou-se diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade de Recife. Como projeto de extensão, ele criou um programa de alfabetização de jovens e adultos de baixa renda das periferias de Recife e interiores de Pernambuco.


O
marco do seu projeto aconteceu na cidade de Angicos, cidadezinha a 171 km de distância de Recife. Foi lá que Paulo Freire colocou em prática a sua experiência como educador e desenvolveu um método no qual, em 40 horas, “alfabetizou” uma turma de adultos.


Nesse curto período, os moradores analfabetos aprenderam a ler e escrever palavras que faziam parte do seu cotidiano.
O processo completo de alfabetização levou em torno de 45 dias. Mesmo assim, a marca de 40 horas para educar um adulto completamente analfabeto foi revolucionário.


Até então, os métodos de alfabetização eram focados em crianças e se concentravam em um eixo de trabalho que privilegiava a apreensão enfática das letras e dos fonemas.


O que Paulo Freire trouxe para a sala de aula foi a experiência de vida dos seus alunos.
Para o filósofo era preciso que o educador compreendesse a cultura de seus estudantes e que partissem daquele lugar, sem desconsiderar a realidade de quem estava ali para ser alfabetizado.


Por isso, Paulo Freire enfatizou o ensino de palavras que faziam parte do dia a dia dos adultos. E naquele contexto, as palavras eram sempre relacionadas ao trabalho: enxada, labuta, comida etc.
Esse método despertou a consciência de classe, porque como dito, a educação não poderia ser desassociada da cultura, do estilo de vida e trabalho dos alunos.

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A ditadura militar e o exílio

O método então aplicado por Paulo Freire causou duas grandes reações: despertou o interesse do governo João Goulart, que aprovou a multiplicação dessa experiência no Plano Nacional de Alfabetização. Vale contar que além dos resultados rápidos, o método de Paulo Freire tinha um baixo custo.


Já, por outro lado,
fazendeiros e empresários ficaram revoltados com a metodologia de Freire. Tudo porque com os trabalhadores alfabetizados e conscientes dos seus direitos, eles cobraram os seus empregadores. É daí que vem a falácia de que Paulo Freire é “uma ameaça comunista”.


Vale também um adendo histórico:
naquela época, o voto era restrito a eleitores alfabetizados, que até então era exclusivamente a classe mais alta da sociedade. Com o método Paulo Freire fazendo parte do Plano Nacional de Educação, a classe trabalhadora teria direito ao voto, eram em torno de seis milhões de brasileiros favorecidos pelo projeto de Paulo Freire.


E se você tem boa memória das aulas de história brasileira, o que acontecia com quem desafiava a classe dominante nos anos 60, principalmente com o que aconteceu em 1964?


O Plano Nacional de Educação foi cancelado em 64 e com o golpe militar, obviamente, Paulo Freire pagou com sua liberdade. O educador “comunista” foi preso e exilado. Mas, por um lado, não foi tão ruim para Freire.

Alfabetização pelo mundo

Após 70 dias atrás das grades, o filósofo foi solto e exilado. A partir daí, Paulo Freire se tornaria uma referência mundial. O seu primeiro exílio foi no Chile, onde coordenou e assessorou projetos de alfabetização de adultos, no Instituto Chileno da Reforma Agrária, durante cinco anos.


Depois desse período no país sulamericano, Paulo Freire passou um ano em Cambridge e nos anos de 1969 e 1970, lecionou em Harvard. Após esse período, ainda em 70, mudou-se para Genebra, na Suíça, foi consultor e coordenador emérito do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).


Pelo CMI, Paulo Freire viajou por 30 países, prestando consultoria educacional e implementando projetos de educação voltados para a alfabetização, para a redução da desigualdade social e para a garantia de direitos. Freire ainda implementou importantes projetos educativos em Guiné-Bissau, Moçambique, Zâmbia e Cabo Verde.

Retorno ao Brasil e honrarias

Paulo Freire voltou em 1980 para o Brasil, e ainda lecionou na PUC-SP e Unicamp.Entre 1988 e 1991, foi nomeado secretário de educação do município de São Paulo. 


Paulo Freire faleceu em 2 de maio de 1997, devido a problemas no sistema circulatório.


Em 2012, Paulo Freire foi reconhecido como Patrono da Educação Brasileira, em decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff. Existem, em todo mundo, cerca de 350 escolas e instituições, como bibliotecas e universidades com o seu nome como forma de homenagem.


Paulo Freire possui títulos de Doutor Honoris Causa de diversas universidades. Ao todo são 41 instituições, entre elas, Harvard, Cambridge e Oxford. Em 1986 recebeu o Prêmio da Unesco de "Educação para a Paz".

Principais obras de Paulo Freire

Com dezenas de obras publicadas, veja quais são as principais do educador:

Pedagogia do oprimido

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Em um levantamento feito em 2016, por Elliot Green da London School of Economics, Pedagogia do oprimido era, até aquela data, o terceiro livro mais citado em trabalhos da área de humanas, no mundo inteiro. Paulo Freire foi citado 72.359 vezes, deixando para trás pensadores como Foucault e Bourdieu.


Falando sobre a obra, ela
foi escrita logo nos primeiros anos de exílio de Freire, no Chile. A premissa da obra é a emancipação da massa popular oprimida (lembre-se que à época, grande parte da população era analfabeta) através da educação.


Segundo Paulo Freire,
a educação deve ser dialógica e não centralizada exclusivamente na figura do professor, o que caracterizava também uma legitimação da opressão. Ao ter o modelo dialógico, há o reconhecimento enquanto sociedade da massa oprimida. Quando há o diálogo, respeitando-se as diferenças, o professor desempenha um papel de educador.

Educação como prática da liberdade

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No livro que antecedeu a obra-prima Pedagogia do oprimido, Paulo Freire propõe algumas linhas mestras da visão pedagógica e de métodos de ensino, com base em suas próprias experiências enquanto educador.


Em
Educação como prática da liberdade, Freire afirma que é impossível "dar aulas de democracia e, ao mesmo tempo, considerarmos como "absurda e imoral" a "participação do povo no poder". Segundo o nosso patrono da educação, há uma relação intrínseca "entre educação, conscientização e inclusão".

Pedagogia da Autonomia

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“Não há docência sem discência.”


Talvez uma das frases mais marcantes de Freire resuma bem o que é a obra
Pedagogia da Autonomia. Segundo o educador, é fundamental que haja uma relação profunda entre teoria e prática, para que a primeira não vire “blá blá blá” e a segunda apenas um “ativismo”. 


Com esse livro, Paulo Freire propõe uma série de práticas e conhecimentos indispensáveis a qualquer educador.

Outros livros de Freire

  • Cartas à Guiné-Bissau (1975);
  • Educação e Mudança (1981);
  • Prática e Educação (1985);
  • Por Uma Pedagogia da Pergunta (1985);
  • Pedagogia da Esperança (1992);
  • Professora Sim, Tia Não: Carta a Quem Ousa Ensinar (1993);
  • À Sombra Desta Mangueira (1995).


Ao todo, Paulo Freire escreveu mais de 40 livros. A sua bibliografia ainda conta com entrevistas, artigos acadêmicos, artigos publicados em veículos de grande circulação e transcrição de cursos e palestras.

Curiosidades sobre Paulo Freire

Algumas curiosidades sobre Paulo Freire, compilando diversos pontos abordados nestes texto:


  1. Pedagogia do Oprimido: Paulo Freire é mais conhecido por seu livro "Pedagogia do Oprimido", que se tornou um texto fundamental na pedagogia crítica. Este livro propõe um novo tipo de educação, uma "pedagogia para a liberdade", que se opõe às práticas tradicionais de ensino que ele chamava de "educação bancária", onde o conhecimento é depositado nos alunos.
  2. Educação e Política: Freire acreditava que a educação não é neutra e que sempre tem uma dimensão política. Ele defendia que a educação deveria ser usada como uma ferramenta para a transformação social e a emancipação dos oprimidos.
  3. Exílio Durante a Ditadura Militar: Após o golpe militar no Brasil em 1964, Paulo Freire foi preso por 70 dias e depois forçado ao exílio. Ele passou os próximos 15 anos no Chile, Estados Unidos e Suíça, onde continuou a desenvolver suas ideias educacionais.
  4. Alfabetização de Adultos: Freire ganhou reconhecimento inicial por seu trabalho inovador na alfabetização de adultos. Ele desenvolveu um método que não só ensinava a ler e escrever, mas também incentivava os alunos a refletir criticamente sobre sua realidade e a se conscientizarem de suas condições sociais.
  5. Influência Global: Suas ideias transcenderam fronteiras nacionais e influenciaram os movimentos de educação popular em todo o mundo, especialmente em países em desenvolvimento, onde suas teorias ofereceram uma nova perspectiva sobre a educação de adultos e a conscientização social.
  6. Secretário de Educação em São Paulo: Ao retornar ao Brasil, Freire serviu como Secretário de Educação da cidade de São Paulo de 1989 a 1991. Durante seu mandato, ele implementou reformas educacionais progressistas que refletiam suas teorias pedagógicas.
  7. Legado Duradouro: Paulo Freire faleceu em 1997, mas seu legado continua vivo. Ele é considerado um dos pensadores mais importantes na história da pedagogia mundial e suas teorias continuam a influenciar educadores e ativistas sociais em todo o mundo.
  8. Reconhecimento Internacional: Freire recebeu numerosos prêmios e honrarias internacionais por seu trabalho em educação e pedagogia, incluindo o prêmio UNESCO de Educação para a Paz em 1986.


As ideias de Paulo Freire continuam a ser um ponto de referência para debates sobre educação, justiça social e práticas pedagógicas em todo o mundo.

Impacto de Paulo Freire na educação brasileira

Paulo Freire teve um impacto profundo e duradouro na educação brasileira e, por extensão, na educação mundial. Seu legado na educação brasileira pode ser destacado em vários aspectos:


  1. Metodologia de Alfabetização de Adultos: Freire desenvolveu um método inovador de alfabetização para adultos, que era radicalmente diferente dos métodos tradicionais. Seu método enfatizava a compreensão da leitura e da escrita no contexto das experiências de vida dos alunos, promovendo não apenas a alfabetização, mas também a conscientização política e social.
  2. Conscientização: O conceito de "conscientização", desenvolvido por Freire, teve um impacto significativo na educação. Ele defendia que a educação deveria ser um processo de despertar crítico, auxiliando os estudantes a compreender e questionar as estruturas sociais e políticas que moldam suas vidas.
  3. Educação como Prática de Liberdade: Freire via a educação como uma ferramenta para a emancipação. Seu trabalho incentivou os educadores a criar ambientes de aprendizagem que fossem colaborativos, dialogados e respeitosos das experiências e conhecimentos dos alunos.
  4. Influência nas Políticas Educacionais: As ideias de Freire influenciaram as políticas educacionais no Brasil, especialmente no que diz respeito à educação de adultos e à educação popular em comunidades marginalizadas. Durante sua gestão como Secretário de Educação de São Paulo, ele implementou programas que refletiam sua filosofia educacional.
  5. Educação para a Cidadania: Freire acreditava que a educação deveria ser um meio para formar cidadãos conscientes, críticos e participativos. Esta abordagem teve um impacto na forma como a educação cívica é vista e ensinada nas escolas brasileiras.
  6. Influência Acadêmica e Prática: Suas teorias tiveram grande influência em faculdades de educação, cursos de pedagogia e práticas de ensino, incentivando uma abordagem mais crítica e reflexiva na formação de educadores.
  7. Diálogo e Respeito Mútuo: Freire enfatizava o diálogo e o respeito mútuo entre professor e aluno. Essa perspectiva ajudou a moldar uma abordagem mais humanizada e menos autoritária na educação brasileira.
  8. Críticas e Desafios: Apesar de sua influência, as ideias de Freire também enfrentaram críticas e resistência em alguns setores. Alguns críticos argumentam que seu foco na dimensão política da educação pode desviar a atenção de aspectos fundamentais do aprendizado. No entanto, seu impacto na forma como a educação é concebida no Brasil é inegável.


Em resumo, Paulo Freire não apenas transformou as práticas educacionais no Brasil, mas também contribuiu para uma compreensão mais profunda do papel da educação na transformação social e na formação de uma sociedade mais justa e igualitária.

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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


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