Maurício Almeida • out. 19, 2021

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It (no Brasil, It - A Coisa) é o 17º romance (22º livro) publicado pelo Mestre do Terror, Stephen King. Lançado em 1986, dois fatores que destacam a obra no mundo literário são: a popularização do palhaço Pennywise, praticamente um ícone da cultura pop e o tamanho da obra, são mais de mil páginas, 1104 na edição da Suma. Edição essa que eu li e sobre a qual escrevo essa resenha.


Já de antemão, peço desculpas pela falta de imparcialidade no texto a seguir, mas eu terminei recentemente a leitura dessa obra e estou alucinado pela história, me faltam palavras para descrever essa experiência fantástica.


Por que você deve ler It? Porque eu tenho certeza que não será nada daquilo que você pressupõe (se ainda não leu). E se você já leu, já me chama para conversar porque esse livro é incrível e eu passaria dias falando sobre a sua história.


A resenha que você irá ler a seguir está mais para um depoimento sobre a leitura e um compartilhamento de experiência literária.


Espero, de coração, que goste do post. Boa leitura!

Sinopse de It: a Coisa

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"It: A Coisa" é um romance de horror de Stephen King, publicado originalmente em 1986. A história se passa na cidade fictícia de Derry, no Maine, e alterna entre dois períodos: 1957-1958 e 1984-1985. A trama central gira em torno de um grupo de crianças, autointitulado "O Clube dos Otários", que enfrentam uma entidade maligna conhecida apenas como "A Coisa". Esta entidade consegue se transformar nos maiores medos de suas vítimas e, mais frequentemente, assume a forma de um palhaço assustador chamado Pennywise.


Ao longo do livro, King explora temas como a inocência da infância, o impacto do trauma, a natureza do mal e o poder da amizade. As crianças, cada uma lidando com seus próprios medos e problemas pessoais, descobrem que A Coisa vem aterrorizando Derry por séculos, emergindo a cada 27 anos para se alimentar do medo das crianças.


Na parte do livro ambientada em 1984-1985, os membros do Clube dos Otários, agora adultos e tendo se mudado para longe de Derry, são chamados de volta à cidade por uma promessa feita na infância. Eles descobrem que A Coisa retornou e, apesar de terem esquecido grande parte de suas experiências passadas, eles devem enfrentar seus medos mais uma vez para tentar destruir A Coisa de uma vez por todas.


"It: A Coisa" é um dos romances mais famosos de Stephen King, conhecido por sua atmosfera assustadora, personagens ricos e explorando os horrores tanto sobrenaturais quanto humanos.

Resenha de It: a Coisa

It é a história de sete amigos Bill Denbrough, Richie Tozier, Stan Uris, Mike Hanlon, Eddie Kapsbrak, Ben Hanscom e Beverly Marsh. Eles formam o Grupo dos Otários, assim batizado por eles, porque são as crianças estranhas da escola, em Derry, cidadezinha do estado do Maine.


Na verdade, essas crianças não têm nada de estranho, mas são vítimas de bullying por alguma característica: Bill (gagueira), Richie (apelidado de boca de feno, ou boca de lixo, dependendo da edição), Stan (judeu), Mike (negro), Eddie (asmático), Ben (gordo) e Beverly (simplesmente por ser uma menina pobre).


A trama inicia com os Otários já adultos e todos morando fora de Derry, exceto Mike que se tornou bibliotecário, inclusive a biblioteca é cenário importante da história. Passaram-se 27 anos desde que os amigos se separaram até que algo de estranho começa a acontecer na cidadezinha.
Crianças e jovens começam a desaparecer e, quando encontradas, estão mortas, mas não simplesmente ‘mortas’, elas foram brutalmente ou estranhamente assassinadas.


Mike então telefona para seus amigos e diz que está na hora deles cumprirem a promessa feita por todos há 27 anos.
O tempo presente da história é o ano de 1985, então, lá em 1958, o Grupo dos Otários derrotou, ou pensaram ter derrotado, a Coisa e fizeram um pacto de sangue prometendo voltar, caso a Coisa não tivesse morrido.


O que, a princípio, seria uma reunião de sete amigos já começa dando errado quando um deles não retorna a Derry. E quando os seis amigos estão juntos é que vamos saber o que aconteceu em Derry, no ano de 58.


E aí, o legal é que o livro não vira só um tanto de
flashback de personagens contando as suas histórias, até porque eles não se recordam perfeitamente do que aconteceu há 27 anos. E mais legal ainda é que não é por falta de memória, mas tem a ver com a Coisa e com Derry. Tanto que a pessoa que tem mais recordações da época é Mike, o único a não deixar a cidade. 


No decorrer da história, a gente percebe o quanto essa “amnésia” coletiva tem realmente a ver com a Coisa e, no final do livro, é fantástico como isso retoma. Inclusive, acho que se o livro terminasse exatamente nesse ponto, seria mais fantástico. Mas não vou entrar em detalhes pra não virar
spoiler.


O que aconteceu na infância dos protagonistas e que reuniu eles, primeiramente, foi o bullying que eles sofriam, como eu já mencionei. E aí, cabe aqui apresentar
o mais babaca dos vilões de It: Henry Bowers. Ele e seus amigos perseguiam os Otários, mas a gente percebe que ele, Henry, vai ficando cada vez mais violento, um lunático mesmo. Mais adiante, eu retorno a esse antagonista.


Porém, há uma sombria coincidência entre os amigos, todos eles são assombrados por alguma coisa sobrenatural, que eles não entendem muito bem o que seja e não compartilham com seus pais ou outros adultos por medo de serem taxados de malucos. Mas, ao compartilhar entre eles, percebem uma certa semelhança nesses  eventos sobrenaturais. A principal semelhança é a imensa sensação de medo, pavor e terror despertada por essas aparições, digamos assim.


Em paralelo ao encontro dos Otários, Derry sofre com uma onda de violência e alto índice de morte de crianças, incluindo Georgie, irmão de Bill. O famoso garotinho da capa amarela que corre atrás do barquinho de papel, na chuva.


O Grupo dos Otários, liderado por Bill, começa a ligar os fatos e perceber que seus segredos, os assassinatos e desaparecimentos podem estar relacionados. E aí a gente começa a descobrir que a cada 27 anos, Derry passa por uma ‘catástrofe’ dessas, com assassinatos brutais, mortes estranhas e desaparecimentos de crianças. 


Não preciso dizer que a Coisa é quem está por trás disso tudo, não é mesmo? Mas o barato é a gente descobrir o que é a Coisa para cada um dos personagens, como a Coisa se personifica para cada um deles.


Enquanto a gente conhece a história da infância dos protagonistas, o presente está rolando, inclusive com a possível volta da Coisa. Então a gente tem duas histórias de embate entre Otários x Coisa. Se a tal Coisa voltou, é porque algo deu errado no passado e os Otários precisam relembrar a história, para que os erros não se repitam.


Mas a história vai muito além da batalha do bem contra o mal,
a história do Grupo dos Otários é linda e só a amizade deles pode dar fim ao sobrenatural que ocorre em Derry. 


Essa é uma resenha de
It bem resumida, porque quero fazer a crítica da história e, aí sim, posso dar mais alguns detalhes. Quer saber por que você deve ler It?

It NÃO é um livro sobre um palhaço assassino

Eu achava que eu era uma das poucas pessoas que não gostavam de palhaços na infância, até que descobri que muita gente tem até medo. Talvez Stephen King tenha contribuído para isso? Sim, talvez.


Principalmente porque nos anos 90, It: uma obra prima do medo, uma adaptação para a TV focou muito em cima do personagem Pennywise. Foge um pouco da proposta do livro? Sim, muito. E mais recentemente, dois novos filmes trouxeram um Pennywise ainda mais sombrio. Um parênteses aqui: amo todos os 3 filmes, mas eu ainda não tinha lido o livro, então não tinha esse parâmetro comparativo.


Mas então, se o livro não é sobre o Pennywise, que diabos fez ele se popularizar? Com certeza, a adaptação televisiva, porque ao ler o livro, você vai entender que existem o Pennywise e a Coisa. Agora, o que é a Coisa, espero não ser spoiler, mas vamos lá.

pennywise

A Coisa é um ser, sabe-se lá de onde, e também não quero dar muitos detalhes para não estragar a sua leitura, que toma forma daquilo que dá medo nas pessoas, mais precisamente, nas crianças. 


Então, It é (também) uma história sobre medos. O monstro, a Coisa, só existe porque se alimenta (literalmente) dos medos e das crianças. Lembra quando apresentei Henry Bowers, o valentão da escola que perseguia os garotos? 


Durante a leitura do livro, a gente vê que Henry não é apenas um babaca, ele parece estar possuído, sendo usado como uma ferramenta de medo. Entendeu? Espero que tenha pegado a referência, porque se eu disser mais que isso, vira baita spoiler.

Mais de mil páginas? Nem reparei

Uma das coisas que me fazia postergar a leitura de It era, realmente, o tamanho do calhamaço. Como ficar andando pra cima e pra baixo com um livro pesado desses? Até para ler na cama era muito difícil. Até que um dia, aproveitei uma promoção da Amazon e comprei o ebook.


Eu tinha acabado de ler
Misery, outro baita livro de King, e não sabia o que ler e pensei: quer saber? Vou ler It, nem que eu demore o resto do ano. E vou te falar: que início de história surpreendente.


O livro já começa com a tensão nas alturas, com mortes, desespero dos personagens, desespero do leitor que nem se ambientou à obra e já fica agoniado com um suspense logo nas primeiras páginas, no primeiro capítulo.


Eu sei que é difícil convencer uma pessoa de que um livro com mil e cem páginas é sim fácil de ler. Mas a primeira dica que dou, então, é para você abrir a mente e não pensar no livro como um objeto que você TEM que ler. Primeiro, não é uma leitura para trabalho, você pode ler no seu tempo, leia 1 hora por dia, 10 páginas por dia.
Não veja o livro como um desafio.


Posso afirmar que a leitura de
It não é nem um pouco densa, ela é extensa, óbvio, mas não tem nada que dificulte a sua leitura. É uma linguagem simples, bastante descritiva como de costume nos livros de King, porém a narrativa é muito bem estruturada, com até indicações temporais (datas etc) para você não se perder em flashbacks.


A simplicidade da escrita, muito provavelmente, está relacionada por ser uma história sobre crianças, por mais que haja a narrativa dos adultos, a base histórica está na infância dos protagonistas. 


Apesar das mil páginas, eu confesso que em nenhum momento eu achei que King estava divagando, ou como dizemos “enchendo linguiça”. Cada linha, cada capítulo e tópico é importante para a história, então não existe aquela sensação de perda de tempo.


Uma dica, aí bem pessoal mesmo, de como eu me organizava para a leitura: alguns capítulos são realmente enormes, então às vezes eu não conseguiria terminar um por dia. Mas há os tópicos dentro de cada capítulo. E esses tópicos contavam um trecho importante da história. Então, como eu organizava a minha mente: cada capítulo seria um conto, e os tópicos microcontos que, obviamente, se amarram na história do livro.


Essa divisão fazia muito sentido exatamente porque cada tópico era muito importante, então eu tinha para mim que, ao final de cada dia, eu teria lido “várias histórias” e elas iam se completando.

It é um livro sobre o quê, então?

Com certeza, It é um livro sobre amizade. Sobre o amor e dedicação entre os amigos. E é uma das histórias mais bonitas sobre o assunto. Eu sei que, se você ainda não leu o livro, mas viu os filmes, com certeza não enxergará dessa forma.


Acredito que o que torna a leitura do livro tão agradável é a sensação de pertencimento ao Grupo dos Otários que a gente tem durante a leitura.
Uma das características que mais gosto em Stephen King é a forma como ele constrói cada um dos personagens e, em It, ele se permitiu tomar o tempo e quantas páginas julgou necessário para isso.


É impossível não se identificar com algum dos membros Otários ou, ao menos, ter empatia por eles. Então você se teletransporta para dentro do livro. Você torce para cada um dos sete membros, você torce contra seus perseguidores e contra a Coisa.


A amizade entre as crianças é muito bonita, é pura, não há aquela coisa de amizade por interesse, eles se identificam um no outro, eles sentem-se mais fortes e confiantes na presença do outro. Não tem como a gente não lembrar dos nossos grupinhos de amigos. 


E é uma narrativa realista, não tem nada fantasioso, o grupo se forma porque eles eram as sete crianças ‘estranhas’ da escola. Mas juntas, elas eram incríveis e capazes das mais diversas proezas, inclusive derrotar a Coisa.


Eu termino esse texto pensando que ainda poderia falar por horas e horas do livro, de como a construção do Grupo dos Otários dá até um calor no coração, até porque é tão bom poder ler um livro de Stephen King onde as crianças são as heroínas e não as vilãs. Eu tenho pavor de criança vilã, são as mais assustadoras.


It tem sim seus momentos de terror, de muito sangue, de alguns gatilhos sobre racismo, abuso sexual, homofobia, mas tudo retratado exatamente como coisas a serem combatidas. Ah! E há um trecho muito polêmico do livro, que todo mundo fala e que, realmente, soou desnecessário que envolve a sexualidade infantil. Acho que King extrapolou nesse ponto, talvez quisesse chocar um pouco, mas errou a mão.


Voltando ao terror do livro, apesar desses aspectos,
It está muito longe de ser um livro aterrorizante, bem longe de outras obras como Cemitério, Carrie, Cujo, Salem etc. Eu diria que It é muito mais uma história de amizade com um toque de terror.


Como eu disse, poderia ainda ficar dias falando do livro, então para encerrar o assunto, um trecho do livro que resume meu sentimento sobre
It:


"Você não precisa olhar para trás para ver essas crianças; parte da sua mente vai vê-las para sempre, vai viver com elas para sempre, vai amar com elas para sempre. Elas não são necessariamente a melhor parte de você, mas já foram o depósito de tudo que você poderia se tornar." 


Leia
It e venha conversar com a gente. Já leu, deixe seu comentário sobre um dos maiores clássicos de Stephen King.

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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