Juliano Loureiro • mai. 22, 2023

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Aconteceu novamente. Vinícius Júnior, um jogador brasileiro e uma das principais estrelas do Real Madrid, o maior time de futebol do mundo, foi alvo de insultos racistas proferidos por dezenas de milhares de torcedores do Valência em um jogo válido pelo campeonato espanhol, ocorrido no último dia 21 de maio.


O racismo contra Vini Jr., por si só, já é injustificável. No entanto, o direcionamento de palavras e cânticos, como o coro usando a palavra "mono", que significa "macaco" em espanhol, parece ser uma diversão para esses indivíduos desprezíveis.


É importante lembrar aos mais jovens que em 31/08/2014, o ex-goleiro Aranha, que jogava pelo Santos, foi alvo de insultos racistas por torcedores do Grêmio, que o chamaram de macaco. Esse incidente teve uma grande repercussão na época. Em 2022, o goleiro lançou o livro "Brasil Tumbeiro", o qual discutiremos posteriormente.

Isso tem uma forte base histórica e cultural e falarei um pouco sobre neste texto 100% opinativo, diferentemente dos textos técnicos normalmente publicados aqui. Reconheço a necessidade de abordar esse tema neste espaço, uma vez que infelizmente o racismo e a literatura estão frequentemente interligados.

O que é e como começou o racismo?

Existem inúmeros registros fotográficos e escritos explícitos que documentam o longo período de escravidão. Aqui, preservamos a triste realidade da colonização, que trouxe centenas de milhares de homens e mulheres negros de outros continentes para o trabalho forçado, em condições insalubres e sem qualquer consideração pela saúde física, mental, social e financeira deles. Naquela época, os negros eram considerados uma raça inferior, destinada a servir aos brancos, que se consideravam seus donos.


Essa raiz cultural, fortemente amplificada aqui e na maioria do Ocidente, deixou feridas abertas que dificilmente serão cicatrizadas. Muitos morreram de fome ou devido aos maus-tratos. Inúmeros outros foram torturados e passaram seus últimos dias sem sequer serem reconhecidos como seres humanos iguais a qualquer outro. Gerações e gerações cresceram com a ferida causada pelos proprietários de engenhos.


É importante ressaltar que o racismo não se limita apenas à discriminação racial. O racismo engloba a discriminação ou preconceito com base na raça, cor, etnia, religião ou origem nacional, conforme a lei nº 7.716 de 1989, que prevê punições para quem comete esse crime.


Com base nessa compreensão, o racismo no Brasil remonta ao início do Império, quando nossos indígenas eram considerados selvagens, ferozes e vilões, conceitos amplamente perpetuados nos livros didáticos escolares.

Evolução (em partes) da sociedade

A lei de nº: 3.353, de 13 de maio de 1888, conhecida como Lei Áurea, possui apenas dois artigos, sendo simples e direta onde, no seu artigo primeiro, é declarada extincta desde a data desta lei a escravidão no Brazil.


Infelizmente, a lei não foi suficiente para eliminar totalmente a escravidão e, tampouco, os casos de racismo. Ainda nos deparamos com empresas onde os funcionários são submetidos a condições de trabalho semelhantes à escravidão, embora em menor escala.


Além disso, o racismo persiste. Piadas, brincadeiras e comentários diversos, presentes em conversas informais, refletem uma sociedade ainda doente e carente de progresso.

"O mundo está chato, não se pode brincar com mais nada"

Devemos compreender que a sociedade, ao longo de sua história e em todos os lugares do mundo, passa por evoluções. Essa evolução ocorre na tecnologia, ciência, comunicação, nas relações sociais e em muitos outros aspectos. Se no passado era comum usar termos como "neguinho", "escurinho", "moreno" ou "crioulo" para se referir a uma pessoa negra, ou dizer que uma mulher tem "a cor do pecado", hoje em dia isso não é mais aceitável.


Da mesma forma, fazer piadas associando pessoas negras a crimes, violência ou sugerindo que são inferiores não tem mais lugar. Isso inclui também o discurso falho da meritocracia, que afirma que basta querer para alcançar algo.


Alguns defendem que uma piada é apenas uma piada, mas eu discordo. Quem faz uma "piada" de teor racista está, sim, sendo racista. Para certos discursos, não importa o contexto, é algo errado e aqueles que o propagam devem ser responsabilizados.


Além do caso de Vinícius Júnior na Espanha, o humorista Leo Lins viralizou (novamente e pelos mesmos motivos) devido a um especial de comédia seu que foi retirado do ar. Ele proferiu as seguintes palavras: "Negro não consegue achar emprego, mas na época da escravidão já nascia empregado e também achava ruim". E pasmem, essa foi apenas uma das dezenas de piadas preconceituosas presentes nesse especial de "comédia".

Leo Lins representa uma sociedade doente, é a encarnação do branco que não sente e nunca sentirá as dores daqueles que sofreram e sofrem com a terrível herança do racismo.


Como figura pública, com capacidade de impactar e influenciar milhões de pessoas, ele é um dos grandes responsáveis por perpetuar o preconceito flagrante em várias esferas da sociedade.


Atualmente, as pessoas negras ainda lutam para conquistar espaço e relevância em praticamente todos os setores, seja na busca por bons empregos, oportunidades ou simplesmente para serem vistas como qualquer outra pessoa.

Não há espaço para relativizar o racismo.

O que devemos fazer para combater o racismo

Além de ser contrário ao racismo, é necessário combatê-lo. O verbo "combater", nesse contexto, refere-se a repudiar pessoas e empresas que perpetuam atos racistas, seja em conversas informais ou mesmo em grandes campanhas publicitárias. Esse combate deve ocorrer em todas as esferas e meios possíveis.



A luta não é apenas dos negros, mas também deve envolver pessoas brancas e de outras raças e etnias. Todos devem se engajar na causa. Para ampliar o conhecimento sobre o assunto, seguem algumas recomendações literárias essenciais,

Livros para entender a luta contra o racismo

Sílvio Almeida e Djamila Ribeiro são dois importantes nomes que desempenham um papel relevante na disseminação da causa antirracista no Brasil. Felizmente, existem muitas outras vozes engajadas nesse movimento.


Para aqueles interessados em aprofundar seus conhecimentos, é possível realizar uma pesquisa no Google e buscar mais informações. Abaixo, seguem três livros recomendados sobre o tema.

Racismo estrutural, de Sílvio Almeida

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Nos anos 1970, Kwame Turu e Charles Hamilton, no livro "Black Power", apresentaram pela primeira vez o conceito de racismo institucional: muito mais do que a ação de indivíduos com motivações pessoais, o racismo está infiltrado nas instituições e na cultura, gerando condições deficitárias a priori para boa parte da população.


É a partir desse conceito que o autor Silvio Almeida apresenta dados estatísticos e discute como o racismo está na estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira.

Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro

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Neste pequeno manual, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. Em dez capítulos curtos e contundentes, a autora apresenta caminhos de reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação do estado das coisas.


Já há muitos anos se solidifica a percepção de que o racismo está arraigado em nossa sociedade, criando desigualdades e abismos sociais: trata-se de um sistema de opressão que nega direitos, e não um simples ato de vontade de um sujeito.


Reconhecer as raízes e o impacto do racismo pode ser paralisante. Afinal, como enfrentar um monstro desse tamanho? Djamila Ribeiro argumenta que a prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas. E mais ainda: é uma luta de todas e todos.

O pacto da branquitude, de Cida Bento

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Diante de dezenas de recusas em processos seletivos, Cida Bento identificou um padrão: por mais qualificada que fosse, ela nunca era a escolhida para as vagas. O mesmo ocorria com seus irmãos, que, como ela, também tinham ensino superior completo. Por outro lado, pessoas brancas com currículos equivalentes — quando não inferiores — eram contratadas.


Em suas pesquisas de mestrado e doutorado, a autora se dedicou a investigar esse modelo, que se repetia nas mais diversas esferas corporativas, e a desmistificar a falácia do discurso meritocrático. O que encontrou foi um acordo não verbalizado de autopreservação, que atende a interesses de determinados grupos e perpetua o poder de pessoas brancas. A esse fenômeno, Cida Bento deu o nome de "pacto narcísico da branquitude".


Neste livro, a cofundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) reúne sua experiência para apresentar evidências desse acordo tácito e nos convidar a deslocar nosso olhar para aqueles que, a fim de se manter no centro, impelem todos os outros à margem.

Brasil Tumbeiro, de Mario Aranha

Brasil tumbeiro narra o que todo brasileiro, negro ou não, deveria saber sobre a história do negro no Brasil. História essa que vai além da violência que arrancou os primeiros dentre milhões de negros escravizados do continente africano e chega à periferia das grandes cidades assolando jovens negros e afrodescendentes. A verdade é uma só: no Brasil, de tantos heróis e heroínas negros, a desigualdade e o racismo privilegiaram a falta de memória.


Nas páginas do desconhecimento ouviremos falar da Frente Negra Brasileira, dos Irmãos Rebouças, de Juliano Moreira, de Virgínia Bicudo, de Teodoro Sampaio, dos temidos lanceiros negros, entre tantos personagens que mostram o negro como protagonista da história do país. No eco de tantas vozes comumente apagadas, essa obra planeja, despretensiosamente, que a juventude possa ouvir, acreditar e inspirar o seu real potencial de construção e mudança.

Considerações finais

A luta contra o racismo é um desafio diário e deve ser abraçada por todos. Espero que em um futuro próximo, Vini Jr. seja reconhecido na mídia apenas por suas habilidades no futebol, dribles e gols. Sei que essa jornada é longa e exige um combate intenso, mas não podemos permitir que racistas, muitas vezes disfarçados de humoristas, comprometam nosso progresso.


Por fim, gostaria de deixar claro que não sou especialista no assunto, mas sou alguém que busca constantemente aprender e se engajar na causa. Faço o possível para conscientizar cada vez mais pessoas sobre essa questão.

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


Para aprender mais sobre escrita criativa, confira meu canal no Youtube, vídeos diários para você. Link abaixo:

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