Juliano Loureiro • mai. 19, 2023

Compartilhe este artigo:

Os filmes do Pantera Negra são sucessos de bilheterias e um fenômeno cultural. T'Challa, Rainha Ramonda, Okoye e Wakanda marcaram a cultura popular por dar protagonismo, dar voz ao negro. E mais que isso, revisitaram o Afrofuturismo.


Você já se perguntou onde estavam,
onde estão os negros nas histórias? Muitas vezes, eles não eram protagonistas da própria história. Se no passado eles foram apagados, no futuro, até então, não é muito diferente. Quantos filmes de ficção científica, com temática futurista, você assistiu ou conhece que tenham em seus elencos, atores e, principalmente, protagonistas negros.

A sociedade já errou muito em querer apagar, relativizar a história dos negros, o famoso passar pano para atrocidades como a escravidão. Será que o futuro não nos reserva algo diferente?

Por isso e muito mais, a importância do Afrofuturismo. Entender o seu conceito, não é apenas adquirir um conhecimento cultural, mas sim humano! Vem comigo, porque essa conversa é essencial. Prepare-se para compartilhar com os amigos.

O que é o Afrofuturismo?

Se você está na faixa etária dos 30 anos, vai lembrar de alguns desenhos e animações que imaginavam o futuro com carros voadores, teletransportes, robôs convivendo com seres humanos, mas, você se recorda de algum personagem negro? Nos filmes nunca diferiu, Hollywood sempre se “esqueceu” (até ver a bilheteria de Pantera Negra).


O movimento do Afrofuturismo é um movimento estético e social que apresenta uma narrativa para
questionar os eventos históricos do passado e construir um novo futuro no qual os negros estão presentes em máximo protagonismo. 


Essa construção de um novo futuro promove o encontro entre tecnologia, ficção científica, realismo fantástico, mitologia, ancestralidade e a diáspora africana.

Origem do termo

O ano era 1994 quando um ensaio, com uma série entrevistas realizadas com intelectuais negros da época, questionava o motivo do número tão baixo de ficção científica produzida por autores negros. 


O ensaio era Black To The Future e os intelectuais presentes eram o escritor Samuel Delany, o escritor e músico Greg Tate e a crítica cultural Tricia Rose.


Antes que você pense que a origem do termo representa a origem do movimento, não preciso nem dizer que você está enganado, não é mesmo? Temos exemplos, aqui mesmo no Brasil, de artistas que movimentavam essa corrente, Gilberto Gil e suas canções dos anos 60.

Cérebro Eletrônico (1969)

O cérebro eletrônico faz tudo

Quase tudo

Quase tudo

Mas ele é mudo

O cérebro eletrônico comanda

Manda e desmanda

Ele é quem manda

Mas ele não anda.

Lunik 9 (1969)

Ah, sim!

Os místicos também

Profetizando em tudo o fim do mundo

E em tudo o início dos tempos do além

Em cada consciência

Em todos os confins

Da nova guerra ouvem-se os clarins


Guerra diferente das tradicionais

Guerra de astronautas nos espaços siderais

E tudo isso em meio às discussões

Muitos palpites, mil opiniões

Um fato só já existe que ninguém pode negar

Sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um, já!

cta- como-estruturar-um-romance
cta-como-estruturar-um-romance

Mas a mente por detrás do movimento é o compositor de jazz e filósofo Sun Ra. A sua história é curiosa, o compositor era também um filósofo cósmico e contava abertamente que já havia tido uma experiência extraterrestre.


Segundo Sun Ra, em 1930, um feixe de luz desceu do céu e o ergueu para uma espaçonave alienígena. Ele teria sido levado a Júpiter e induzido pelo grupo que o abduziu a transportar os negros para longe da violência e do racismo do planeta Terra.


Sun Ra é considerado, até hoje, um dos maiores ícones da contracultura norte-americana.


Então, desde a sua origem, o termo Afrofuturismo passou a servir como um guarda-chuva para expressões artísticas produzidas por autores negros, como cinema, música, literatura e teatro, para temas que se conectem com o futurismo, a distopia, a fantasia e o realismo fantástico. 

Características do Afrofuturismo

Fábio Kabral, um dos maiores nomes do Afrofuturismo nacional, definiu quatro características fundamentais para narrativas Afrofuturistas:


  1. Protagonismo de personagens negros: é o que conhecemos como “representatividade”. E, felizmente, a Marvel, com Pantera Negra, acertou em cheio.
  2. Narrativa de ficção especulativa: o movimento surgiu com base na perspectiva dos artistas negros em cima dos gêneros fantasia e ficção científica;
  3. Afrocentricidade: o Afrofuturismo só faz sentido se as pessoas negras atuem sobre a sua própria imagem cultural, de acordo com seus próprios interesses;
  4. Autoria negra: bem, acho que é intuitivo, o movimento do Afrofuturismo só se sustenta com o seu próprio povo contando a sua história.

Escritores afrofuturistas que você tem que conhecer

Lu Ain-Zaila

A escritora carioca foi a primeira a publicar uma série futurista nacional. Publicou também a antologia Sankofa: breves histórias afrofuturistas e o romance Ìségún. Lu Ain-Zaila é considerada uma das principais vozes do afrofuturismo brasileiro.


Obras de destaque:
a série Brasil 2408 composta pelos livros: (In)Verdades e (R)Evolução.

Nnedi Okorafor

A escritora norte-americana faz parte de um movimento mais enraizado com a cultura, história, mitologia e perspectiva da África que se relaciona com a diáspora negra, ela se intitula como uma africanofuturista. Mas isso não quer dizer que Nnedi não apoie o afrofuturismo, a própria autora faz questão de manifestar apoio aos dois movimentos.


No Brasil, duas obras da autora já foram publicadas:
Quem Teme a Morte (premiado como Melhor Romance do World Fantasy Award de 2010) e Bruxa Akata.


Obras de destaque:
além da premiada Quem Teme a Morte, outro livro da autora já foi agraciado com premiações. Binti ganhou o prêmio Nebula e o Hugo Award de 2016.

Fábio Kabral

Junto à Lu Ain-Zaila, Fábio Kabral divide o posto de principal nome do afrofuturismo nacional. O seu primeiro livro publicado Ritos de Passagens está esgotado.


Obras de destaque:
Fábio Kabral criou o seu próprio universo: o Ketu 3, uma metrópole governada por sacerdotisas empresárias e tecnologias fantásticas movidas por fantasmas. Ele é cenário para as histórias de O Caçador Cibernético da Rua 13”; A Cientista Guerreira do Facão Furioso e O Blogueiro Bruxo das Redes Sobrenaturais.

N. K Jemisin

Atenção a este nome: N. K Jemisin foi simplesmente a primeira pessoa negra a ganhar o Hugo Awards na principal categoria, Melhor Romance. Mas não é só isso: é a única pessoa do mundo a ganhar este prêmio por três anos seguidos. É isso mesmo, de 2016 a 2018 só deu ela na principal categoria. E, só pra constar, ela ainda tem dois outros prêmios Hugo (Melhor Noveleta e Melhor História em Quadrinhos).


Pensa que acabou? Ela ainda coleciona o
Prêmio Nebula de Melhor Romance em 2018, um Audie Award em ficção científica e outro em fantasia.


Obras de destaque:
A Quinta Estação (vencedor do Hugo 2016); O Portão do Obelisco (vencedor do Hugo 2017) e O céu de Pedra (vencedor do Nebula e Hugo 2018).

cta-intro-marketing
cta-intro-marketing

Mais 10 livros afrofuturistas que valem a pena ler

  1. O Último Ancestral, de Ale Santos;
  2. O Céu Entre Mundos, de Sandra Menezes;
  3. Cidade de Deus Z, de Julio Pecly;
  4. Os filhos de sangue e osso, de Tomi Adeyemi;
  5. Babel-17, de Samuel R. Delany;
  6. Kindred, de Octavia E.Butler;
  7. Afrofuturismo – O Futuro é Nosso (vol. 1 e 2), vários autores;
  8. Ás De Espadas, de Faridah Àbíké-Íyímídé;
  9. Cinderela Está Morta, de Kalynn Bayron;
  10. Raízes Do Amanhã – 8 Contos Afrofuturistas, de Diniz Volp e Kelly Lavinia.

Conheça os meus livros publicados

Após estudar um assunto tão importante, fundamental para nossa sociedade, quero deixar uma sugestão de leituras despretensiosas, mas com distopias e fantasias também.


Apresento a você, o meu trabalho, a minha escrita, os meus livros. Quero que você conheça as minhas 4 obras publicadas:


  • Corpos Amarelos e outros continhos - Vol.1
    : coletânea de 10 contos escritos por mim. Todos esses contos foram publicados, individualmente, no site Continho.
  • Frases minhas sobre um coração em festa: um compilado de frases poéticas escritas desde 2020. Inicialmente, essas frases serviram como um desabafo, uma catarse para os momentos conturbados que o autor passou.
  •  Lucas: a Esperança do Último: ano de 2042. Lucas e Félix são os únicos seres sobreviventes de Nova Del Rey, cidade que ainda carrega os impactos da Grande Extinção, ocorrida há 23 anos. A vida monótona de Lucas acaba quando ocorre um encontro inesperado.
  • Antônio e o tempo: Em uma tarde despretensiosa, ao voltar da faculdade, Antônio encontra uma maleta velha. No interior, um lindo relógio de bolso dourado. Um relógio especial, capaz de parar o tempo.


Ficou curioso e quer saber mais sobre as obras?
Acesse o meu site!

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


Para aprender mais sobre escrita criativa, confira meu canal no Youtube, vídeos diários para você. Link abaixo:

Acessar canal no YouTube

Pesquisar no blog

Últimos artigos

assessoria-de-imprensa-como-funciona-a-grande-aliada-dos-autores
Por Juliano Loureiro 10 mai., 2024
om essa liberdade vem o desafio de se destacar em um mercado cada vez mais disputado. É aqui que a assessoria de imprensa/literária se tornam ferramentas cruciais, ajudando autores a construir sua visibilidade e a estabelecer uma marca pessoal forte no espaço literário.
Mostrar mais...
logomarca-reduzida-bingo
Bingo Conteúdos Literários
CNPJ: 41.933.018/0001-23
Fale conosco
Email: suporte@livrobingo.com.br
Endereço: Avenida Getúlio Vargas , n.º1492, 2º andar.
CEP: 30112-024. Belo horizonte/MG
Share by: