Resenha: Minha adorável esposa (Samantha Downing)

Sobre a autora: Samantha Downing

Samantha foi publicada no Brasil de forma pioneira pela TAG, afinal, esta é a proposta do plano TAG Inéditos, trazer para o Brasil obras e/ou autores ainda não presentes por aqui.

Minha adorável esposa é o romance de estreia de Samantha e, recentemente, lançou seu segundo livro: He started it (ainda sem tradução). De acordo com a própria autora, seu primeiro livro foi fruto de mais de 20 anos de escrita e de um golpe de sorte, já que a escrita sempre foi um hobby e, por acaso, o livro acabou nas mãos de um agente em Nova York.

Sinopse do romance

Tobias e Millicent, um casal classe média residentes da Flórida, mais especificamente na sub-divisão Hidden Oaks, que tem dois filhos adolescentes: Rory, 14 e Jenna, 13. Os quatro levam uma vida normal. Tobias é professor particular de tênis em um clube e Millicent corretora de imóveis.

Mas o que mantém acessa a chama da paixão entre os dois? A resposta para esta pergunta é justamente a trama central da narrativa. Ambos são psicopatas que sequestram, torturam e matam mulheres. Como todo "bom" assassino, suas vítimas tem que preencher alguns pré-requisitos antes de serem escolhidas.



De forma fria e calculista, cada qual possui suas tarefas para a conclusão do crime perfeito. Enquanto Tobias se passa por um surdo encantador, Millicent é quem chega às vias de fato com as vítimas. E ambos passam semanas discutindo a melhor estratégia de abordagem e assassinato. 

Porém, tudo muda quando Millicent decide trair o seu marido incriminando por todos os crimes.

Como se desenvolve a narrativa

O romance tem o ponto de vista em primeira pessoa, na voz de Tobias e nos primeiros dois capítulos ele se mostra como o cara que "comanda" a relação do casal. Todavia, no decorrer dos capítulos, percebe-se que ele tem medo da esposa, faz tudo o que ela pede e, sempre que possível, recorre às mentiras para evitar conflitos. É um relacionamento abusivo e o único que não enxerga isso é o próprio Tobias.

O livro possui 382 páginas, distribuídas em 72 capítulos - além do epílogo. Particularmente gosto de capítulos curtos, tendo em vista o meu tempo restrito diário disponível para leitura. Mas, há também um problema: há um número considerável de capítulos ""dispensáveis". 

Na primeira porção do livro, há alguns poucos bons momentos de backstory, como a explicação de Tobias de como o casal se conheceu. Na minha perspectiva, o backstory poderia ter sido melhor explorado para entendermos as reais motivações do casal para a execução dos crimes. É bem verdade que Tobias recorrentemente nos fala sobre a relação doentia que Holy tinha com a irmã Millicent. Holy maltratava, batia e machucava a irmã na infância. Mas sobre o Tobias, pouco sabemos.

A narrativa seria melhor desenvolvida se esses capítulos "dispensáveis" fossem trocados pelo passado de Tobias. 

Clímax: quando o livro fica realmente interessante

A temática de suspense me chama bastante a atenção e Minha adorável esposa possui semelhanças notáveis com Dexter, série televisiva que está no meu Top 5.

Acredito que esta afinidade prévia me fez insistir no livro sem muito esforço. Porém, fiquei dezenas de capítulos esperando algumas reviravoltas na narrativa, algo que não aconteceu. O livro fica realmente bom à por volta do capítulo 50. Uma sequencia de descobertas colocam Tobias e Millicent em apuros, algo que não aconteceu anteriormente.

E, a partir do capítulo 60, o livro mais parece um filme de ação policial - o que é ótimo - quando Tobias tem que tomar decisões assertivas e rápidas ao descobrir que sua esposa havia plantado provas de que somente ele era o assassino da mulheres.

À partir desse momento, vimos um Tobias despreparado e confuso. Sem a presença da esposa, ele não sabe o que fazer. Mas a grande reviravolta, a única talvez, ocorre nos últimos 3 capítulos, quando Tobias está prestes a perder tudo. Em um golpe de sorte, ele descobre uma forma de incriminar sua esposa e volta até a sua casa - havia se escondido na casa de uma vizinha que estava em viagem.

Millicent o esperava e ocorre uma briga. Uma faca é cravada no peito de Millicent.

Moral da história

Não digo que Tobias é inocente, mas viver em um relacionamento abusivo faz com que as pessoas tomem decisões que e atitudes que vão contra a sua vontade, mas que mesmo assim defendem essa decisão, afinal, a "obrigação" de agradar ao outro é sempre presente.

Tobias viveu a sua vida em função da mulher, que nunca retribuiu o carinho à altura e pior, o manipulou para fazer parte dos seus planos terríveis. Válido refletirmos sobre as consequências de um relacionamento abusivo.

Considerações finais

Minha adorável esposa cumpre de forma satisfatória a função de um romance de suspense. Não é extraordinário, mas também não é um livro ruim. Muito importante falar, não sei se foi por conta da tradução ou por conta da escrita mesmo da Samantha, mas há o uso excessivo do uso do indicador de fala "deu de ombros". E esse indicador aparece CENTENAS de vezes ao longo do livro. Me pareceu que houve limitação de vocabulário.

Se fosse dar uma nota, seria 6,5. Não entendam como uma crítica pesada, mas sou uma pessoa que sou facilmente convencido por uma narrativa simples. E, mesmo assim, não fui surpreendido. Por exemplo: anteriormente a este livro, eu li Uma mulher no escuro, de Raphael Montes. E ao longo de aproximadamente 250 páginas, Raphael consegue empregar mais profundidade e suspense na trama, além das várias reviravoltas.

Como dito anteriormente, o livro é narrado no ponto de vista do protagonista, Tobias. E em diversos momentos parecia que ele iria morrer, algo impossível, tendo em vista justamente que ele quem narra todo o livro. O final é feliz e conforta os leitores.

Por fim, recomendo o livro para quem é fã do gênero de suspense, mas ao mesmo tempo não é muito exigente.

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