Juliano Loureiro • mai. 31, 2021

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O gênero dramático é um dos mais populares da literatura. E não digo só para os leitores, cada vez mais escritores se aventuram no estilo que tem tudo a ver com as artes cênicas.


Agora, para conseguir produzir uma obra dramática realmente cativante, conhecer os estilos do gênero pode ampliar o seu leque de possibilidades e insights para a história e seus formatos. Que tal beber da fonte de grandes autores como Shakespeare?


Conheça, agora, os estilos que compõem esse gênero tão popular.

Tragédia

A tragédia é um estilo literário muito popular, graças à tragédia grega, ao teatro - que nasceu praticamente junto ao estilo - e ao seu maior representante: William Shakespeare


Por mais que Shakespeare tenha vivido a tragédia como principal fonte literária, ele não foi um dos pioneiros, tendo ‘apenas’ sendo responsável pela volta do estilo ao apogeu literário, no período elisabetano da Inglaterra, nos séculos XVI e XVII.


Esse período histórico é o auge da renascença inglesa e teve William Shakespeare como um dos principais nomes à frente do movimento de ruptura cultural.


Mas, bem antes da Inglaterra de Shakespeare e da Rainha Isabel I, a tragédia surgiu como uma arte dramática desenvolvida pelos gregos antigos. A tragédia era um estilo literário que abordava a queda de um determinado personagem principal. 


Essa ‘queda’ sempre significava em um herói, de classe social privilegiada, que por falta de caráter ou por consequência de suas atitudes, perdia status, era arruinado.


As primeiras tragédias, produzidas por Sophocles e Euripides, eram feitas para acompanhar rituais religiosos e introduziram os conceitos de herói trágico, a falha trágica (hamartia) e a catarse. 


O herói trágico sempre começava suas histórias no mais alto escalão social, com status, admiração social e poder. Mas, como todo ser humano, esse herói tem defeitos, e são eles que levarão o herói do topo ao chão. O que cria a catarse no público é a capacidade da narrativa trágica em transportar o leitor ou espectador para o consciente do herói. 


Então, por mais que o herói trágico tenha seus defeitos, o leitor calça os sapatos do herói e acaba vivenciando as emoções descritas na narrativa.


Após o auge da tragédia com os artistas gregos, o estilo só voltaria a cair no gosto popular com William Shakespeare e outros dramaturgos, como Christopher Marlowe. Shakespeare e Marlowe introduziram à tragédia heróis mais ‘comuns’, sem grandes status. Mas, em compensação, adicionaram outras narrativas menores, criando mini tramas inseridas em uma história maior.


Na França, um movimento também ajudou a tragédia a manter a sua chama acesa. Nomes como Racine, Corneille e Molière foram responsáveis pela tragicomédia, uma narrativa com protagonistas novamente em níveis sociais altos, porém a história tem um final feliz.


Há quem aponte que a tragédia evoluiu tanto a ponto de influenciar um novo estilo: a novela. Wuthering Heights de Emily Bronte, The Great Gatsby de F. Scott Fitzgerald e Crime e Castigo de Dostoievski transferiram elementos de tragédia para a forma narrativa.


São exemplos de tragédia:


  • A Trágica História do Doutor Fausto, de Christopher Marlowe;
  • Hamlet;
  • Romeu e Julieta;
  • Macbeth;
  • Otelo, de William Shakespeare;
  • A Duquesa de Malfi, de John Webster;
  • Dom Juan ou le Festin de Pierre,
  • Le Misanthrope, de Molière;
  • Andrómaca, de Jean Racine.
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Comédia

A comédia, junto à tragédia, tem seu início lá no teatro grego e que, mais uma vez, é embasada nas definições de Aristóteles em sua Arte Poética. 


O termo
comédia vem do grego komodia, que derivou de kômos = festim popular, ou de komas = aldeia e, segundo o filósofo grego, o nome tem motivação pela não aceitação dos atores em cidades, então eles ficavam vagando de aldeia em aldeia.


E por que falar de comédia remete à tragédia e ao teatro? Isso porque no surgimento das
artes cênicas, haviam duas formas de representações, por máscaras: a máscara da comédia e a máscara da tragédia. Com certeza, se você pesquisar na internet, imagens que remetem ao teatro, encontrará tais máscaras.


E qual a diferença fundamental, então, entre as precursoras do teatro? Como expliquei no tópico anterior, a tragédia focava sempre em uma figura mítica, no herói. Enquanto isso, a comédia retratava o povo simples, o homem humilde das aldeias ou quase excluído das cidades.


A premissa básica da comédia sempre foi provocar o riso de quem a assiste/lê, proporcionar prazer e diversão. Mas isso não quer dizer que a sua temática seja superficial, a comédia usava dos artifícios hilários para criticar, satirizar a sociedade e o comportamento humano. E sabe como ela fazia e ainda faz muito bem? Expondo nossos hábitos ao ridículo, ou apenas os mostrando como realmente são ‘estranhos’.


A origem das primeiras produções da comédia é um pouco cômica. Acredita-se que nos festins em homenagem a Dionísio (deus da libido e da fertilidade) ou a Baco (deus do vinho), os populares entoavam cantos de agradecimento e dançavam. Tudo regado a muito vinho, óbvio! 


Com o andar da festança, digamos que os movimentos de dança já não eram tão coordenados e a língua começava a embolar e a cantoria não era tão compreensiva. Esse cenário cômico foi responsável pelos insumos das primeiras produções da comédia. Alguém, em algum momento, resolveu fazer um apanhado dessas manifestações cômicas e transformá-las em uma única peça.


Por fim,
o nascimento oficial da comédia data-se em 486 a. C.. Obviamente, após diversos aprimoramentos, a comédia se popularizou e, em dois lugares, com um destaque maior. Grécia e Roma possuem momentos distintos de evolução do gênero. 


Na Grécia, há três fases de destaque:


  1. Comédia antiga: com destaque para o dramaturgo Aristófanes, a comédia antiga mistura política com assuntos sociais;
  2. Comédia mediana: a segunda fase iniciou focado em assuntos mitológicos ou puramente literários. Com o passar dos anos, abordou temas sociais. Destaque para os autores Antífanes e Alex.
  3. Comédia nova: tem um viés social, porém com um foco maior no amor, paixões e costumes. Destacam-se nessa fase: Filemon, Apolodoro de Carystos e Menandro.


Em Roma, a comédia não alcançou um apelo popular tão forte quanto na Grécia, mas mesmo assim, apresentou três tipos de comédia:


  1. Atelanas: peças populares, burlescas e demasiadamente grosseiras. Destacam-se os autores Pompônio e Nóvio.
  2. Paliata: semelhante à comédia nova dos gregos. O termo é referente à roupa utilizada pelos autores (palium).
  3. Togata: novamente, o nome refere-se à vestimenta dos atores, uma toga (vestimenta romana).


A comédia teve um período em que praticamente caiu no esquecimento, foi durante a Idade Média. Porém, com a chegada da Renascença, o gênero voltou aos tempos de glória como na Grécia Antiga. O principal nome deste retorno foi Gil Vicente. Logo a seguir, nomes como Shakespeare e Molière engrandeceram ainda mais o estilo, colocando num patamar elevado da literatura.

Tragicomédia

Não tem como florear muito o conceito de Tragicomédia, o seu nome é autoexplicativo. Mas o que é legal trazer aqui é que, talvez, Aristóteles não tenha sido o mentor do seu conceito.


Apesar de o filósofo grego ter nos apresentado os conceitos de tragédia e comédia em sua Arte Poética, há uma enorme probabilidade de que o dramaturgo romano Plauto tenha sido o pioneiro no uso da expressão e definir a tragicomédia como um gênero híbrido de comédia e tragédia.


Mas definir não quer dizer utilizá-la ou publicá-la. Aristóteles já tinha utilizado da tragicomédia em sua obra mais famosa, ao demonstrar que comédia e tragédia servem-se dos mesmos metros, cantos e ritmos em sua composição. 


Retomando um pouco dos estilos de comédia citados no tópico anterior, tanto a comédia romana quanto a grega foram agraciadas com tons tragicômicos. E, pulando lá para o Renascimento, onde a comédia ressurgiu, a tragicomédia também ganhou espaço no teatro elisabetano, período importantíssimo também para a tragédia.


E se a tragédia e a comédia foram contempladas com obras shakespearianas, a tragicomédia não ficaria de fora. Shakespeare contribuiu para o estilo com duas grandes obras: A Tempestade e o Rei Lear.


Apesar de grandes escritores (Molière, Corneille e Racine) produzirem esse gênero híbrido, a tragicomédia enfrentou uma grande resistência por parte do público. Para você ter ideia, uma das obras de Corneille, El Cid, precisou ser reescrita para tornar-se uma tragédia.

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Farsa

A farsa, lá no seu princípio,  por volta do século XIV, era vista como um gênero dramático que admitia uma grande variedade temática, sempre com um toque cômico, sem uma configuração formal muito rígida, tão valorizada na tradição clássica. 


Por isso, acredita-se que o termo farsa poderia designar inúmeras peças, já que os temas eram variados e a forma não muito rígida permitia que peças diferentes fossem classificadas como tal.


A farsa também tem sua origem ligada ao teatro. É uma peça, geralmente, breve, com poucos personagens, com objetivo de provocar o riso a partir de situações engraçadas, grotescas ou ridículas da vida cotidiana, tudo por caricaturas e exageros. Seu foco maior era os conflitos de ‘opostos’: pais e filhos, marido e mulher, entre outros.


A farsa utilizava-se de linguagem grosseira, escatológica e sem pudor. E, quase sempre, os principais alvos eram as pessoas de classes sociais mais baixas, pois se deduz que são pessoas menos ‘preparadas’ para lidar com esse tipo de humor e responder à altura.


Hoje, a farsa tem mais presença da sátira e de uma linguagem popular, com conotações eróticas. Os temas relacionam-se à problematização da luta entre forças opostas, do relacionamento humano, familiar e amoroso.

Auto

O auto também é um estilo antigo, surgido na Idade Média, alguns estudiosos dirão que foi na Espanha, outros em Portugal. Trabalhando com a segunda hipótese, o termo auto vem de actum, que significa qualquer obra representada, ou seja, referia-se a todas as peças teatrais.


Bem, isso nos mostra que a definição formal de auto nunca foi muito bem elaborada, porque se qualquer peça é um auto, como definir o seu padrão? De volta a Portugal, acredita-se que os autos começaram como encenações em templos religiosos. Posteriormente, as apresentações aconteceram em feiras, mercados e praças públicas, quando se tornou um gênero dramático com apelo popular.


Ao sair das Igrejas, os autos deixaram de abordar somente a temática religiosa para também abraçar o profano. Porém, isso não quer dizer que existiram autos religiosos e profanos, o que aconteceu de verdade foi quase o mesmo que deu origem à tragicomédia. Nos autos, o sagrado e o profano coexistiam em uma única peça.


Com o passar do tempo, o auto definiu-se como uma peça de curta duração de conteúdo religioso ou profano, burlesco e alegórico, escrito geralmente em verso. Sua característica principal é o conteúdo simbólico, cujos personagens são entidades abstratas, geralmente de caráter religioso ou moral.


Dois dos principais nomes do auto são: Gil Vicente, com o Auto da Barca do Inferno, e Ariano Suassuna, com O Auto da Compadecida.


Agora que você já está por dentro do gênero dramático e seus estilos, que tal compartilhar conosco a sua experiência com o drama, a tragédia e a comédia? Qual estilo é o seu favorito para escrever?


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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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