Ele foi amigo do rei de Pasárgada, sua primeira namorada foi um porquinho da índia e tocou um tango argentino para as doenças do pulmão. Manuel Bandeira também foi professor, poeta, cronista, crítico e historiador literário, mas acredito que as primeiras qualificações citadas fazem mais jus a esse importante nome da literatura brasileira.
Falar sobre a biografia de Bandeira é falar sobre o modernismo brasileiro, sobre os versos livres e irreverentes, afinal, quem mais teria um poema com o título de
Os Sapos lido em um dos maiores eventos culturais da história brasileira?
Hora de conhecer um pouco mais da vida e obra de Manuel Bandeira. Boa leitura!
Manuel Bandeira: biografia
Pernambucano nascido na capital Recife, Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho veio ao mundo em 19 de abril de 1886. Filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e de Francelina Ribeiro, Manuel era de família abastada, o pai era engenheiro e os demais familiares proprietários rurais, advogados e políticos.
Tudo indicava que Bandeira teria uma infância e uma vida acadêmica tranquila, mas infelizmente não foi tão simples. O escritor começou os estudos ainda em Pernambuco e foi terminá-los na cidade do Rio de Janeiro, para onde mudou-se com toda a família. Ainda em terras cariocas, formou-se em
Letras.
Em 1903, dando sequência aos estudos, matriculou-se na Faculdade Politécnica em São Paulo, para cursar Arquitetura. Porém, nunca chegou a concluir o curso. No ano seguinte, a
tuberculose atacou gravemente Bandeira, foi preciso largar os estudos e partir em busca de tratamento.
Foram anos intensos para Manuel Bandeira, ele passou por Campanha (MG), Teresópolis (RJ) e Petrópolis (RJ) em busca da cura para a tuberculose. Sem muito sucesso, viajou para a Suíça, onde passou um ano, entre 1913 e 1914.
O caso era tão grave que o próprio escritor estava descrente da cura, essa melancolia foi expressada em
Pneumotórax, um dos seus poemas mais famosos. Apesar da gravidade, Bandeira ainda viveria por muitos anos.
O início da carreira literária de Bandeira
Em 1914, Bandeira já estava de volta ao Brasil e disposto a
dedicar-se à sua paixão: a literatura. Como grande parte dos escritores, começou publicando seus textos em periódicos.
O seu primeiro livro veio a ser publicado em 1917,
A Cinza das Horas é uma coletânea de poemas, no qual destaca-se
Desencanto:
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
Dois anos depois, em 1919, publica sua segunda obra, mais uma coletânea de seus textos:
Carnaval. Com essa obra, Manuel Bandeira evidencia uma nova onda literária que chegava: o
Modernismo.
Manuel Bandeira e o Modernismo
Apesar de suas obras serem
fundamentais para o movimento modernista brasileiro, Manuel Bandeira sempre participou de longe. Em 1921, o poeta conheceu
Mário de Andrade e colaborou com a revista modernista Klaxon. Mas foi em 22, que Manuel marcou de vez a sua participação no Modernismo Brasileiro.
Na época, Manuel Bandeira estava no Rio de Janeiro, mas não deixou de participar da Semana da Arte Moderna. Ele enviou o poema
Sapos para ser lido por Ronald de Carvalho:
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos (...)
A leitura do poema que, claramente, tirava uma onda com o
parnasianismo e sua rigidez com relação às métricas e rimas, causou uma algazarra no Teatro Municipal de São Paulo com aplausos em meio às vaias.
No ano de 1924, a sua terceira obra,
Ritmo
Dissoluto, já está totalmente dentro do Modernismo. Com o nome
já marcado entre os maiores poetas nacionais, Bandeira resolveu publicar também crônicas e críticas de cinema e música.
Em 1930, podemos dizer que Manuel Bandeira atingiu seu ápice com a publicação de
Libertinagem. São dessa coletânea os clássicos:
Pneumotórax e
Vou-me Embora pra Pasárgada.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive (...)
Curiosidades sobre Manuel Bandeira
- Foi professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II, em 1938;
- Também foi professor de Literatura Hispano-Americana, de 1942 a 1956, da Faculdade Nacional de Filosofia;
- Em 1940 foi eleito para
Academia Brasileira de Letras, sendo o terceiro ocupante da Cadeira 24;
- Recebeu o prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira por conjunto de obra, em 1937, e o prêmio de poesia do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, também por conjunto de obra, em 1946;
- Enquanto crítico e historiador literário, conseguiu grande reconhecimento pelo seu estudo sobre as
Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga e pelo esboço biográfico Gonçalves Dias.
Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968, aos 82 anos, vítima de hemorragia gástrica.
Principais obras de Manuel Bandeira
- A Cinza das Horas;
- Carnaval;
- O Ritmo Dissoluto;
- Libertinagem;
- Estrela da Manhã;
- Crônicas da Província do Brasil;
- Guia de Ouro Preto, prosa;
- Noções de História das Literaturas;
- Lira dos Cinquenta Anos;
- Belo, Belo;
- Mafuá do Malungo;
- Literatura Hispano-Americana;
- Gonçalves Dias;
- Opus 10, poesia;
- Intinerário de Pasárgada;
- De Poetas e de Poesias;
- Flauta de Papel;
- Estrela da Tarde;
- Andorinha, Andorinha (textos reunidos por Drummond);
- Estrela da Vida Inteira;
- Colóquio Unilateralmente Sentimental.
Ao chegar ao final dessa mini biografia sobre Manuel Bandeira, eu deixo uma pergunta: o que você já conhecia da vida do poeta? Deixe seu comentário abaixo, conte-nos qual seu poema ou livro favorito.
E, já que estamos falando de escritores, atenção ao recado que guardei para o final:
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