Juliano Loureiro • ago. 18, 2021

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Ele foi amigo do rei de Pasárgada, sua primeira namorada foi um porquinho da índia e tocou um tango argentino para as doenças do pulmão. Manuel Bandeira também foi professor, poeta, cronista, crítico e historiador literário, mas acredito que as primeiras qualificações citadas fazem mais jus a esse importante nome da literatura brasileira.


Falar sobre a biografia de Bandeira é falar sobre o modernismo brasileiro, sobre os versos livres e irreverentes, afinal, quem mais teria um poema com o título de
Os Sapos lido em um dos maiores eventos culturais da história brasileira?


Hora de conhecer um pouco mais da vida e obra de Manuel Bandeira. Boa leitura!

Manuel Bandeira: biografia

manuel-bandeira

Pernambucano nascido na capital Recife, Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho veio ao mundo em 19 de abril de 1886. Filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e de Francelina Ribeiro, Manuel era de família abastada, o pai era engenheiro e os demais familiares proprietários rurais, advogados e políticos.


Tudo indicava que Bandeira teria uma infância e uma vida acadêmica tranquila, mas infelizmente não foi tão simples. O escritor começou os estudos ainda em Pernambuco e foi terminá-los na cidade do Rio de Janeiro, para onde mudou-se com toda a família. Ainda em terras cariocas, formou-se em
Letras.


Em 1903, dando sequência aos estudos, matriculou-se na Faculdade Politécnica em São Paulo, para cursar Arquitetura. Porém, nunca chegou a concluir o curso. No ano seguinte, a
tuberculose atacou gravemente Bandeira, foi preciso largar os estudos e partir em busca de tratamento.


Foram anos intensos para Manuel Bandeira, ele passou por Campanha (MG), Teresópolis (RJ) e Petrópolis (RJ) em busca da cura para a tuberculose. Sem muito sucesso, viajou para a Suíça, onde passou um ano, entre 1913 e 1914. 


O caso era tão grave que o próprio escritor estava descrente da cura, essa melancolia foi expressada em
Pneumotórax, um dos seus poemas mais famosos. Apesar da gravidade, Bandeira ainda viveria por muitos anos.

O início da carreira literária de Bandeira

Em 1914, Bandeira já estava de volta ao Brasil e disposto a dedicar-se à sua paixão: a literatura. Como grande parte dos escritores, começou publicando seus textos em periódicos.


O seu primeiro livro veio a ser publicado em 1917, A Cinza das Horas é uma coletânea de poemas, no qual destaca-se Desencanto:


Eu faço versos como quem chora

De desalento... de desencanto...

Fecha o meu livro, se por agora

Não tens motivo nenhum de pranto.


Meu verso é sangue. Volúpia ardente...

Tristeza esparsa... remorso vão...

Dói-me nas veias. Amargo e quente,

Cai, gota a gota, do coração.


E nestes versos de angústia rouca

Assim dos lábios a vida corre,

Deixando um acre sabor na boca.


– Eu faço versos como quem morre.


Dois anos depois, em 1919, publica sua segunda obra, mais uma coletânea de seus textos: Carnaval. Com essa obra, Manuel Bandeira evidencia uma nova onda literária que chegava: o Modernismo.

Manuel Bandeira e o Modernismo

Apesar de suas obras serem fundamentais para o movimento modernista brasileiro, Manuel Bandeira sempre participou de longe. Em 1921, o poeta conheceu Mário de Andrade e colaborou com a revista modernista Klaxon. Mas foi em 22, que Manuel marcou de vez a sua participação no Modernismo Brasileiro.


Na época, Manuel Bandeira estava no Rio de Janeiro, mas não deixou de participar da Semana da Arte Moderna. Ele enviou o poema Sapos para ser lido por Ronald de Carvalho:


Enfunando os papos,

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.


Em ronco que aterra,

Berra o sapo-boi:

- "Meu pai foi à guerra!"

- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".


O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

Diz: - "Meu cancioneiro

É bem martelado.


Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos (...)


A leitura do poema que, claramente, tirava uma onda com o parnasianismo e sua rigidez com relação às métricas e rimas, causou uma algazarra no Teatro Municipal de São Paulo com aplausos em meio às vaias.


No ano de 1924, a sua terceira obra,
Ritmo Dissoluto, já está totalmente dentro do Modernismo. Com o nome já marcado entre os maiores poetas nacionais, Bandeira resolveu publicar também crônicas e críticas de cinema e música.


Em 1930, podemos dizer que Manuel Bandeira atingiu seu ápice com a publicação de
Libertinagem. São dessa coletânea os clássicos: Pneumotórax e Vou-me Embora pra Pasárgada.

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.

A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Tosse, tosse, tosse.


Mandou chamar o médico:

— Diga trinta e três.

— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…

— Respire.


— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive (...)

Curiosidades sobre Manuel Bandeira

  • Foi professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II, em 1938;
  • Também foi professor de Literatura Hispano-Americana, de 1942 a 1956​, da Faculdade Nacional de Filosofia;
  • Em 1940 foi eleito para Academia Brasileira de Letras, sendo o terceiro ocupante da Cadeira 24;
  • Recebeu o prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira por conjunto de obra, em 1937, e o prêmio de poesia do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, também por conjunto de obra, em 1946;
  • Enquanto crítico e historiador literário, conseguiu grande reconhecimento pelo seu estudo sobre as Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga e pelo esboço biográfico Gonçalves Dias.


Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968, aos 82 anos, vítima de hemorragia gástrica.

Principais obras de Manuel Bandeira

  • A Cinza das Horas;
  • Carnaval;
  • O Ritmo Dissoluto;
  • Libertinagem;
  • Estrela da Manhã;
  • Crônicas da Província do Brasil;
  • Guia de Ouro Preto, prosa;
  • Noções de História das Literaturas;
  • Lira dos Cinquenta Anos;
  • Belo, Belo;
  • Mafuá do Malungo;
  • Literatura Hispano-Americana;
  • Gonçalves Dias;
  • Opus 10, poesia;
  • Intinerário de Pasárgada;
  • De Poetas e de Poesias;
  • Flauta de Papel;
  • Estrela da Tarde;
  • Andorinha, Andorinha (textos reunidos por Drummond);
  • Estrela da Vida Inteira;
  • Colóquio Unilateralmente Sentimental.


Ao chegar ao final dessa mini biografia sobre Manuel Bandeira, eu deixo uma pergunta: o que você já conhecia da vida do poeta? Deixe seu comentário abaixo, conte-nos qual seu poema ou livro favorito.


E, já que estamos falando de escritores, atenção ao recado que guardei para o final:


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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


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