Maurício Almeida • jul. 09, 2023

Compartilhe este artigo:

O calhamaço menos famoso de Stephen King - mas não menos surpreendente - Sob a Redoma, tem uma premissa interessante e entrega uma história que vai te prender do início ao fim das mais de 900 páginas.


Não é segredo para ninguém que King adora criar longas histórias, todas com muitos, mas muitos personagens mesmo e que ele não vê problema nenhum em se alongar por páginas e capítulos construindo seus protagonistas. Tudo para que, nós leitores, fiquemos familiarizados com cada ator de seus romances.


E, se você ainda não leu nada de Stephen King, peço encarecidamente que não torça o nariz para isso, não veja como uma escrita prolixa. Porque são essas construções que nos transportam para dentro das histórias e, quem já é leitor de King, sabe muito bem como as leituras são bem imersivas.


Mas, sem mais delongas, vamos à resenha desse calhamaço,
não tão popular como It e A Dança da Morte, mas que, na minha opinião, é umas das melhores histórias que já li de Stephen King, tem um dos vilões mais ardilosos, semelhanças com o que passamos na pandemia e que não merecia a adaptação televisiva que teve.

Um pouco sobre o livro Sob a Redoma

capa-sob-a-redoma

Era um dia como outro qualquer em Chester’s Mill, no Maine. Subitamente, a cidade é isolada do resto do mundo por um campo de força invisível. Aviões explodem quando tentam atravessá-lo…O isolamento expõe os medos e as ambições de cada um….enquanto correm contra o pouco tempo que têm para descobrir a origem da redoma e uma forma de desfazê-la, ainda terão de combater a crueldade humana em sua forma mais primitiva.


Essa é a sinopse do livro publicado em 2009, nos Estados Unidos, e que chegou ao Brasil em 2012, pela Suma, com suas 954 páginas. Um ano depois, a CBS, um canal norte-americano, adaptou o romance para uma série pífia e ridícula com 3 temporadas.


Apesar da patifaria que fizeram, a série foi o meu primeiro contato com a história e assisti as três temporadas na força do ódio. Hoje, eu tenho ainda mais raiva dessa série porque, sinceramente, não entendi o que foi feito ali.


Voltando ao que interessa, o romance foi publicado após 2 tentativas fracassadas de King publicar a obra. Segundo o próprio autor, nos anos 70 e 80 ele já tinha uma ideia que envolvia essa tal redoma, mas a ideia só amadureceu bem mais tarde. 


Curiosidade: a edição brasileira, apesar do tamanho impressionante, é menor se comparada com a versão americana (1074 páginas) e a portuguesa (1018 páginas dividas em 2 volumes).

Resenha de Sob a Redoma: 60 personagens?

Você sabe que a história vai ser longa e “complexa” quando no início do livro há um mapa da cidade de Chester’s Mill, com os lugares mais importantes marcados e uma lista com todos os personagens que irão aparecer ao longo de 950 páginas. 


Sério, eu tenho uma memória péssima, quando me deparei com
3 páginas e 68 nomes eu pensei “tô lascado, não vou entender é nada!”. Eu sou um leitor Dory, sofro de perda recente de memória.


Mas, vamos lá, para não assustar ninguém:
apesar desse tanto de gente, é muito fácil acompanhar a história. Confesso que terminei a leitura sem decorar 100% dos personagens, se você me perguntar isoladamente quem era o fulano, provavelmente, não saberia dizer de prontidão. Mas se colocar um contexto, é dedutível e vem aquele “ah sim, lembrei”.


A minha leitura fluiu bastante quando eu criei alguns núcleos imaginários. Parti de um núcleo central, digamos dos principais protagonistas: Dale Barbara, “Big” Jim Rennie e seu filho Junior Rennie, Julia Shumway, Andy Sanders, Peter Randolph e outros que agora me fogem à memória (nenhuma novidade).


E sim, Stephen King vai te contar a história de cada um dos personagens, contar a história sob a perspectiva dos principais envolvidos e é aí que ele te ganha. Porque você começa a ver, perceber a natureza, o íntimo de cada um deles. Seja isso bom ou ruim.


E também é assim que nasce um dos personagens mais odiosos das histórias de King: Big Jim. E não muito atrás, o seu filho. Neste ponto, não tem como lembrar de uma família que fez de tudo para “sucatear” o Brasil durante a pandemia. Porque o que Big Jim mais queria era que a redoma ficasse sobre Chester's Mill.


Bem, já que comecei a falar da história propriamente:

A premissa

Como já mostrei aqui, a história acontece a partir do momento que uma redoma, simplesmente, cai sobre a cidade de Chester’s Mill. E isso já vem nas primeiras páginas, então o início do livro é com o clímax já nas alturas, é avião explodindo, pessoas sendo partidas ao meio, caminhões se chocando e explodindo.


Essa redoma aparenta ser infinita, já que aviões colidem mesmo em voos altos, e de profundeza inimaginável. Ao longo da história, vamos descobrir que apesar disso, ela não é totalmente impermeável, mas nada que vá aliviar o calor e o clima quente e insalubre que vai se criando ali embaixo. 


Claro que o exército americano aparece e tem suas tentativas frustradas de resolução. E é óbvio que King não criaria uma história com um final de solução militar.


Neste cenário caótico,
formam-se 2 grupos dentro da redoma para “solucionar” o mistério. O grupo político, liderado por Big Jim, obviamente tem interesses muito além do “oh, vamos salvar a cidade!”. Big Jim não poupa esforços para chegar e se manter no poder e, nessa hora, vale tudo, até tirar a vida do próprio filho.


Por falar em Junior, ele não fica atrás no seu mau caratismo. Ele é responsável pelas passagens mais pesadas da história e, lendo o livro, você vai se indignando como ele consegue sair ileso em tantas situações e o seu segredo permanece obscuro até o final.


A forma como Big Jim alcança e se mantém no poder é digno de repulsa, digno de “familícias” brasileiras. Eles criam até mesmo uma força policial com jovens despreparados, implantam o caos e o medo na população. Big Jim também tem seus negócios “ocultos” que levam a cidade à beira do precipício. 


O grupo que se opõe a tudo isso é liderado por Dale Barbara, conhecido como Barbie, ele estava em Chester’s Mill como chapeiro do restaurante mais popular. Mas na verdade, Dale faz parte do exército e foi incumbido, pelo Governo, a liderar a cidade enquanto buscavam a solução. E é claro que isso desagrada Big Jim.


Lembra quando eu falei dos núcleos imaginários que criei para compreender melhor a história? Eles partem dessa divisão política, enquanto Big Jim tem a força policial ao seu lado, Barbie tem Julia e o seu jornal, além de representantes religiosos (ou quase isso), de alguns populares e comerciantes.


Quando você se dá conta, a redoma propriamente torna-se apenas mais um elemento de uma trama política e policial. Aqui, não tem o terror de King, mas tem um pitada de ficção científica com um thriller empolgante.


Ao longo da leitura você irá se apaixonar por alguns personagens, ter ódio de tantos outros, dó de alguns desprovidos de esperteza, porque o que teve de momentos que eu pensei
“não seja burro”, e o personagem foi lá e fez a burrada, não dá pra contar nos dedos.


Não me lembro de uma leitura que torci tanto contra os personagens,
a quantidade de vilões que têm em Sob a Redoma é inacreditável. E sabe o que mais choca? É que esses vilões são todos cidadãos que estão “fazendo um bem maior a cidade”.


No final, a gente tá tão fissurado com a história que a gente quer descobrir que fim os personagens vão ter, principalmente os malditos.


Alguns finais foram surpreendentes, alguns me fizeram vibrar, outros me chocaram e, claro, teve aqueles finais sem graça.
Confesso que Sob a Redoma entra no hall dos livros com finais ruins de King. Mas olha, é um final ruim porque tudo que vem antes é bem instigante, arrebatador, de tirar o fôlego.

Afinal, vale a pena ler Sob a Redoma?

Vale muito a pena, sim. Esse é puro romance, com uma história principal e vários acontecimentos ao seu entorno, o que engrandece o livro. A escrita é muito simples, não tem nada que possa atrapalhar a leitura.


Não é um livro de terror, se você tem medo, pode ler tranquilamente, mas atenção: há violência, inclusive sexual e drogas. Acho que são os aspectos que podem dar gatilhos. Fora isso, é uma história que mantém o clímax no alto e tem reviravoltas interessantes.


O livro tem bastante divisões em capítulos e seções, o que facilita e muito a leitura. Eu, por exemplo, lia muito no ônibus, indo e voltando do trabalho. Então era fácil marcar pontos de parada para depois retornar à leitura.


O bom desse calhamaço é exatamente te proporcionar muitas horas envolvido na história, amando e odiando seus personagens. A minha dica final é: encontre alguém para ler com você ou alguém que já tenha lido para dividir suas angústias durante a leitura. Tenho certeza que você irá se indignar muito com a história.


Inclusive, pode ser até comigo. Lá no Instagram, eu compartilho minhas percepções de tudo que leio. E tem muito sobre Stephen King: siga
@maulecomenta.


Eu já falei também sobre o calhamaço mais famoso de King, você pode conferir aqui:
Por que ler "It - A Coisa?" (Stephen King). Resenha e crítica.

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


Para aprender mais sobre escrita criativa, confira meu canal no Youtube, vídeos diários para você. Link abaixo:

Acessar canal no YouTube

Pesquisar no blog

Últimos artigos

assessoria-de-imprensa-como-funciona-a-grande-aliada-dos-autores
Por Juliano Loureiro 24 abr., 2024
om essa liberdade vem o desafio de se destacar em um mercado cada vez mais disputado. É aqui que a assessoria de imprensa/literária se tornam ferramentas cruciais, ajudando autores a construir sua visibilidade e a estabelecer uma marca pessoal forte no espaço literário.
Mostrar mais...
logomarca-reduzida-bingo
Bingo Conteúdos Literários
CNPJ: 41.933.018/0001-23
Fale conosco
Email: suporte@livrobingo.com.br
Endereço: Avenida Getúlio Vargas , n.º1492, 2º andar.
CEP: 30112-024. Belo horizonte/MG
Share by: