Juliano Loureiro • mar. 19, 2021

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Ao escrever o seu livro, as suas histórias, você pensa em quem será responsável por dialogar com o leitor? Como você escolhe a sua voz? Se essas perguntas não lhe fazem sentido, é preciso que você entenda a importância do tipo de narrador para o seu texto.


Pode parecer bobagem falar sobre narrador, afinal, é bem óbvia a sua importância para a história, certo? Não é bem assim!


Para que sua história faça sentido, seja compreendida, é f
undamental que você tenha em mente alguns conceitos, como por exemplo: foco narrativo.


Sem o foco narrativo e sem um tipo de narrador bem definidos, sua história pode se tornar bem confusa e não proporcionar uma experiência agradável aos leitores. Por isso, atenção neste post se você ainda não tem bem definido qual o tipo de narrador ideal para suas publicações!

O que é o foco narrativo

Quais são os elementos fundamentais em uma narrativa? A constituição básica de qualquer texto do gênero narrativo é: personagens, tempo, espaço e….narrador, claro!


Afinal, a definição mais objetiva do gênero narrativo é um texto que nos conta uma história através de um narrador. É óbvio, mas você só sabe disso porque eu já falei sobre em
“Gênero narrativo/épico: aprenda o que é quais são as características” (tá bom, você pode ter aprendido na escola, mas se tiver alguma dúvida ainda, vale a pena a leitura do post.).


E é aí que entra o foco narrativo, ele está totalmente atrelado ao tipo de narrador que a sua história apresentará. Lembrando que narrador nada mais é que um ser fictício criado para transmitir as ideias do autor.


O foco narrativo é exatamente a escolha discursiva para a transmissão da história. Ele é a perspectiva pela qual os acontecimentos são relatados. Se você está se perguntando como a perspectiva pode variar, é bem simples.


O narrador pode ser atuante na história ou não, apenas uma pessoa que vê e observa tudo de fora. Ou ainda, ele pode ter um conhecimento prévio dos acontecimentos, inclusive das emoções e sentimentos dos demais personagens.


Então, fica evidente a importância da escolha do tipo de narrador como um dos pontos de partida para a construção da sua história, do seu livro.


Esclarecido o conceito de foco narrativo, agora é preciso conceituar os narradores. A primeira coisa a se saber é que são três tipos de narradores:


  1. narrador personagem;
  2. narrador observador e;
  3. narrador onisciente


Agora, é a hora de entender cada um deles e escolher o melhor narrador para a sua história. Você vai ver que os conceitos são bem simples, mas fundamentais.

Narrador personagem

Com esse nome, fica muito fácil deduzir que tipo de agente é esse narrador. Ele é um ser atuante na história, não só relata, mas também participa dos acontecimentos da trama. As histórias contadas por esse tipo de narrador são em primeira pessoa (seja do singular ou plural).


Uma característica da narrativa em primeira pessoa é a subjetividade. Como o narrador é um personagem atuante, ele tem uma aproximação com os outros elementos da narrativa. E é claro, a história fica com uma visão totalmente parcial, já que temos o contato direto com as sensações e sentimentos do personagem narrador.


Quer um exemplo de narrador personagem? Separei um trecho de um clássico da literatura brasileira,
Memórias Póstumas de Brás Cubas:

“Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência o agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo; vá direito à narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos.”


Nesse trecho da obra de Machado de Assis, temos um narrador que, coincidentemente, é o personagem principal, então, ele é considerado um narrador protagonista. 


É importante frisar isso, porque nem sempre o narrador é o personagem principal. Há aqueles narradores testemunhas, que são apenas coadjuvantes na história.

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Narrador observador

Mais uma vez, partimos da dedução óbvia do nome. O narrador observador conta a história sem ter nenhuma participação nos eventos da narrativa. A história é contada em terceira pessoa.


Essa narrativa vista de fora tende a ser mais imparcial. O narrador tem neutralidade para caracterizar os personagens e fatos.


Vou recorrer, novamente, a Machado de Assis para exemplificar um tipo de narrador, mas dessa vez, vamos com
Quincas Borba:


“Rubião é que não perdeu a suspeita assim tão facilmente. Pensou em falar a Carlos Maria, interrogá-lo, e chegou a ir à Rua dos Inválidos, no dia seguinte, três vezes; não o encontrando, mudou de parecer. Encerrou-se por alguns dias; o Major Siqueira arrancou-o à solidão. Ia participar-lhe que se mudara para a Rua Dois de Dezembro. Gostou muito da casa do nosso amigo, das alfaias, do luxo, de todas as minúcias, ouros e bambinelas. Sobre este assunto discorreu longamente, relembrando alguns móveis antigos. Parou de repente, para dizer que o achava aborrecido; era natural, faltava-lhe ali um complemento.”

Narrador Onisciente

Esse é o tipo de narrador que sabe tudo. O onisciente sabe tudo sobre o enredo da trama, conhece todos os personagens e suas particularidades, como emoções e sentimentos.


Por isso, a narrativa feita por esse narrador é, geralmente, feita na 3ª pessoa, mas podendo muito bem vir a evocar a 1ª pessoa quando se revela as vozes interiores dos personagens e seus fluxos de consciência. 


Para exemplificar o narrador onisciente,
Vidas Secas, de Graciliano Ramos:


“Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que era grande - e marchavam, meio confiados, meio inquietos. Olharam os meninos, que olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos. Em que estariam pensando? zumbiu Sinha Vitória.


Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas Sinha Vitória renovou a pergunta - e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.”.


A escolha do tipo de narrador é fundamental para o sucesso de uma obra. Vale lembrar que o narrador será o responsável por transmitir toda a sua criatividade, toda a sua ideia e intencionalidade com a obra.


Muitos autores se consagraram exatamente por compreenderem a importância do foco narrativo e as suas escritas são tão ímpares que a gente consegue reconhecê-los apenas com uma leitura de um fragmento da obra.


Agora, com essas dicas, você já pode dar início às suas próximas histórias. Mas, antes disso, eu tenho uma outra dica tão importante quanto esse post. 


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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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