Juliano Loureiro • jan. 31, 2021

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Histórias em quadrinhos, com distopia, você conhece? Talvez, assim de primeira, você não consiga responder, mas se pensar com calma, vai acabar achando algumas histórias, que inclusive foram parar no cinema. E HQ distópica nacional? Quantas você conhece?


A gente sabe que os quadrinhos nacionais ainda não são devidamente valorizados, não se você não tiver uma grande empresa de comunicação por trás. As HQs nacionais ainda vivem muito no underground, sobrevivem com publicações independentes e através de inúmeros projetos de financiamento coletivo.


Hoje, quero dar espaço a essa galera e que, não bastassem carregar o fardo de produzir HQ no Brasil, ainda escolheram uma temática, digamos, menos popular. História em quadrinhos distópica brasileira, isso existe? Você vai ver que sim e vai terminar o texto pedindo por mais espaço para essas publicações.


Separei algumas dicas de HQs distópicas nacionais para apresentar a quem ainda não conhece esse universo distópico maravilhoso. Que tal apoiar as nossas produções? Confira as dicas, agora!

Cangaço Overdrive, de Zé Wellington e Walter Geovani

cangaco-overdrive

Nada melhor que começar as sugestões de HQs nacionais com distopia do que uma literatura tão característica, tão brasileira e tão nordestina. Sim, é bom distinguir brasileira de nordestina até mesmo para enfatizar a riqueza da literatura brasileira.


Cangaço Overdrive é a prova que a literatura de cordel sobrevive a todos movimentos e chega até ao cyberpunk. Não só sobrevive, como se mistura. E o resultado é uma história distópica com o futurismo da ficção científica e a rebeldia do cordel contra os padrões literários.


Vale dizer que Zé Wellington é um quadrinista acostumado a apostar em estilo “menos populares”, nas HQs brasileiras. Em 2015, ele venceu o troféu HQ Mix na categoria Novo Talento Roteirista. E a história premiada foi
Steampunk Ladies Vingança a Vapor


Para quem não sabe,
steampunk é um subgênero literário, parente do cyberpunk, com a diferença que o futuro no steampunk é ambientada no passado, porém com uma tecnologia avançada para época (em alguns casos, avançada até para os dias atuais) e, digamos assim, bem robusta, com máquinas a vapor e muita, mas muita engrenagens. 


Exemplos de
steampunk podem ser encontrados em Júlio Verne e no filme As Loucas Aventuras de James West (confira o trailer!).


De volta ao futuro e ao sertão, para falar de
Cangaço. Na HQ publicada em 2018, pela Editora Draco, Zé Wellington narra o embate tradicional nordestino: um cangaceiro versus um coronel. Porém, com um pequeno diferencial, essa batalha ocorre em um futuro distante.


Cotiara, um cangaceiro discípulo de Lampião e Maria Bonita, é descongelado 100 anos depois com algumas implementações tecnológicas pelo seu corpo. Cotiara acorda em um Ceará futurista, mas com problemas do passado. O Estado passa pela sua pior seca e está sob o domínio de um governo elitista e uma polícia corrupta. Mas o pesadelo de Cotiara está apenas começando.


O cangaceiro descobre que ele não é o único “ressuscitado”. Coronel Avelino, desavença de Cotiara no passado, também foi despertado com algumas melhorias tecnológicas. Agora, Cotiara precisa reunir aliados para combater Avelino e seu grupo, além de acertar as contas do passado.


A HQ mescla a narrativa de cordel com alguns traços da linguagem moderna, simulando comunicações via redes sociais.
Cangaço Overdrive é uma boa leitura para quem acha que distopia e ficção científica não combinam com literatura nacional!

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Periferia Cyberpunk, coletânea organizada por Raphael Fernandes

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Um dos motes do cyberpunk é quanto mais tecnologia, mais degradação humana. Esse é o cenário perfeito para as histórias de Periferia Cyberpunk. Onde há tecnologia e conglomerados tecnológicos, não há espaço para a dignidade humana, afinal, os ricos se enriquecem às custas do trabalho degradante de uma classe desfavorecida. 


Não, isso não é um relato da nossa realidade, mas sim das histórias contadas nesta coletânea da Editora Draco. 


Se há semelhança entre o nosso presente e o futuro narrado nas oito histórias de
Periferia, os responsáveis são os roteiristas: Airton Marinho, Larissa Palmieri, Guilherme Wanke, Cauê Marques, Lucas Barcellos, Antonio Tadeu, Bruna Oliveira e Raphael Fernandes. A arte ficou por conta de Jader Corrêa, Braziliano, Cassio Ribeiro, Jean Sinclair, Thiago Lima, Azrael de Aguiar, Akemy Hayashi, Doc Goose e a capa feita pelo artista Camaleão.


Periferia Cyberpunk traz o essencial de qualquer obra de ficção científica distópica, como o relacionamento homem e tecnologia, governos autoritários e desiguais, degradação humana, grandes empresas sob o comando social. Toda a perturbação e questionamento científico e social são narrados em oito histórias.


Periferia Cyberpunk pode ser vista também como um movimento de resistência dos nossos roteiristas. O Brasil como a periferia das HQs distópicas, lutando para mostrar o seu valor. Ainda bem que pessoas como Raphael Fernandes e esses autores estão dispostos a colocar o quadrinho nacional em destaque.


E por falar no Raphael Fernandes, ele tem mais argumentos para defender o HQ, confira:

Apagão: Cidade sem lei, de Raphael Fernandes

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Raphael parece não dar ponto sem nó. Além da coletânea Periferia Cyberpunk, ele tem um projeto que é, na verdade, um universo, o Universo Apagão.


Apagão: Cidade sem lei é apenas uma das pontas de um projeto que “se sustenta” através de financiamentos coletivos e entrega muito além de uma HQ distópica. O Universo Apagão é composto também por jogos de RPG, músicas e diversos acessórios que eram entregues como recompensas pelo apoio nos projetos de crowdfunding.


Falando sobre a história, não é muito claro quando acontece, mas todas as outras características de uma distopia estão presentes.
Apagão: Cidade sem lei acontece em uma São Paulo às escuras. Isso mesmo, sem luz, totalmente no breu por mais de três meses, a capital paulista está entregue às gangues.


Em meio à batalha pelo domínio da cidade, os Macacos Urbanos parecem prezar ainda pelo bem social. Apoema e os irmãos Dori e Bia são os personagens principais dessa narrativa de luta contra grupos marginais. 


Como eu disse,
Apagão é um universo muito amplo, de Cidade sem lei, a HQ brasileira distópica ainda se desdobrou em algumas continuações:


  • Apagão Extra - Ligação direta: após os eventos da primeira HQ, um dos membros dos Macacos Urbanos precisa ir em busca da última bateria de carro em toda a cidade, só assim ele poderá salvar um amigo gravemente ferido;
  • Apagão - Entre o Lobo e o Cão: uma jovem está presa a um dilema, no início do blecaute em São Paulo: salvar a namorada, presa em um hospital ou correr para levar insulina para avó debilitada, em Capão Redondo;
  • Apagão - Fruto Proibido: Fruto Proibido conta a história de duas personagens apresentadas em Entre o Lobo e o Cão. Além disso, um conflito entre as gangues de São Paulo vão colocar as meninas em uma aventura suicida.


Vale ressaltar que todas essas HQs são contempladas nos jogos, tanto os card games como no áudio-jogo.

Argos – Um fim do mundo muito louco, de Leo Martinelli e Raphael Salimena

argos

Para finalizar, por agora, as indicações de histórias em quadrinhos distópicas, que tal uma aventura divertida, para dar uma aliviada nas tensões das recomendações anteriores?!


Rita é uma jovem barda, que está entediada com o fim do mundo e seu marasmo. Tudo o que ela mais deseja, no momento, é compor uma balada épica, aquela que todos escutam e
“Uau! Essa é a melhor balada que já ouvi em toda minha vida!”


Os desejos da jovem até são atendidos, mas isso trouxe quatro guerreiros que a levam em uma aventura totalmente diferente de tudo que Rita já fez. Juntos, ela e os guerreiros precisam encontrar uma tal de Argos e derrotar seu guardião, para recuperar um artefato capaz de salvar a vida de um rei.


O divertido da história é que não tem quase nada e ninguém normal, nem mesmo os tais tesouros. Vale a pena dar uma conferida em
Argos e se divertir em um futuro distópico, mas sem a necessidade de ser algo tão sombrio. Maluco, mas nem tão sombrio.


Hoje, eu consegui reunir apenas 7 histórias em quadrinhos e, infelizmente, apenas 3 autores. Porém, todos com trabalhos magníficos e mostrando que há sim boas distopias nacionais sendo produzidas e, ainda por cima, em HQs.


Infelizmente, muitas dessas HQs nacionais distópicas são publicadas de forma independente e não chegam ao grande público. Por isso, tenho um pedido muito importante a fazer: conhece um autor ou uma HQ nacional que vale a pena todo mundo conhecer? Conte para a gente, nos comentários, vamos espalhar e dar espaço ao quadrinho nacional!


Antes de ir, quero fazer um convite muito bacana, principalmente se você curte literatura
young adult e distopia. Tudo nacional também! Quero lhe apresentar a minha obra distópica.


Lucas: a esperança do último é um romance distópico que estou produzindo através de um projeto de financiamento coletivo. Para que você conheça um pouco sobre a história de um futuro sombrio, onde apenas 2% da população está viva, disponibilizei os três primeiros capítulos para leitura!


Baixe, agora os primeiros capítulos e conheça Lucas!

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


Para aprender mais sobre escrita criativa, confira meu canal no Youtube, vídeos diários para você. Link abaixo:

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