Juliano Loureiro • mar. 08, 2023

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Dizem por aí, que “somos muitos Severinos, iguais em tudo na vida”. Mas poeta igual João Cabral de Melo Neto, eu duvido. Um dos principais nomes da terceira geração modernista do Brasil, ele era conhecido como o poeta engenheiro.


Consagrado pela obra
Morte e Vida Severina, os textos de João Cabral extrapolaram as fronteiras do Brasil. Seus livros foram traduzidos para várias línguas como alemão, espanhol, inglês, italiano, francês e holandês. Mas as suas obras são conhecidas em diversos países.


Não o bastante, João Cabral de Melo Neto foi consagrado como um dos imortais da
Academia Brasileira de Letras e o primeiro brasileiro a vencer o Prêmio Camões. E mesmo assim, há quem não gostasse de seus textos. 


E não tô falando do público em geral, nomes como Antonio Candido, grande nome da crítica literária brasileira, e Carlos Drummond de Andrade achavam que o estilo de João Cabral afastava o público da literatura, com sua escrita cheia de rigores estéticos e formalidade.


Bem, acho que já deu para perceber a grandeza de João Cabral.
Que tal agora conhecermos um pouco mais sobre a sua vida?

Biografia de João Cabral de Melo Neto

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João Cabral de Melo Neto nasceu no dia 09 de janeiro de 1920, em Recife. Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de Carmen Carneiro Leão Cabral de Melo, João Cabral tem uma curiosidade familiar: ele é primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freyre.


O escritor passou parte da infância com a família longe do Recife, nas zonas rurais de São Lourenço da Mata e Moreno. Voltou à cidade natal com 10 anos, até mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1942.


Um ano antes da mudança para a cidade carioca, João Cabral de Melo Neto participou do Primeiro Congresso de Poesia do Recife, lendo o opúsculo
Considerações sobre o Poeta Dormindo.


Já no seu primeiro ano no Rio,
João Cabral publica o seu primeiro livro, é a coletânea de poemas "Pedra do Sono". A obra foi muito bem aceita, exceto pelos críticos que citei na introdução: Antônio Cândido e Drummond.


Ainda em 1942, o escritor prestou concurso para o funcionalismo público. Nos dois anos seguintes, trabalhou no Departamento de Arregimentação e Seleção de Pessoal do Rio de Janeiro.


O seu segundo livro veio em 1945.
O Engenheiro foi publicado graças ao investimento feito pelo empresário e poeta Augusto Frederico Schmidt.


Mesmo com a veia artística e poeta pulsando, João Cabral fez mais um concurso público e
assumiu um cargo de diplomata, em 1947. Com uma nova profissão, o poeta pode viajar e conhecer diversos países.


Vale a pena dizer que, mesmo como Diplomata, João Cabral nunca abandonou a sua paixão, a escrita. O poeta também realizou uma importante pesquisa histórico-documental a respeito das navegações espanholas e portuguesas que conduziram os europeus ao continente americano. 


Editada pelo Ministério das Relações Exteriores com o nome de
O Arquivo das Índias e o Brasil: documentos para a história do Brasil existentes no Arquivo das Índias de Sevilha, trata-se de um extenso documento de grande valor para os historiadores latino-americanos.


Outros cargos políticos ocupados por João Cabral:


  • Ministro da Agricultura durante a gestão de Jânio Quadros e João Goulart, até o golpe militar de 1964; 


  • Cônsul-Geral da cidade do Porto, em Portugal entre os anos de 1984 a 1987.


A partir do ano de 1992, João Cabral de Melo Neto passou a sofrer com uma cegueira progressiva, que, aos poucos, impediu-o de ler. Praticamente cego e deprimido, morreu em seu apartamento no Rio de Janeiro, em 9 de outubro de 1999, de ataque cardíaco.

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Obras de João Cabral de Melo Neto

Obviamente, a carreira de João Cabral vai além de Morte e Vida Severina e vale muito a pena conhecer seus outros trabalhos. Se você não sabe por onde começar, trouxe a sua bibliografia:


  1. Pedra do Sono (1942);
  2. O Engenheiro (1945);
  3. Psicologia da Composição (1947);
  4. O Cão Sem Plumas (1950);
  5. O Rio (1954);
  6. Morte e Vida Severina (1956);
  7. Paisagens com Figuras (1956);
  8. Uma Faca Só Lâmina (1956);
  9. Quaderna (1960);
  10. Dois Parlamentos (1960);
  11. Terceira Feira (1961);
  12. Poemas Escolhidos (1963);
  13. A Educação Pela Pedra (1966);
  14. Museu de Tudo (1975);
  15. A Escola das Facas (1980);
  16. Poesia Crítica (1982);
  17. Auto do Frade (1984);
  18. Agrestes (1985);
  19. O Crime na Calle Relator (1987);
  20. Sevilha Andando (1989).

Trecho de Morte e Vida Severina

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas

e iguais também porque o sangue,

que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte Severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte

de fome um pouco por dia.

Poemas de João Cabral de Melo Neto

Além de apresentar sua principal obra, apresento-lhes dois poemas bem famosos do escritor. Confira:

A educação pela pedra

Uma educação pela pedra: por lições;

Para aprender da pedra, frequentá-la;

Captar sua voz inenfática, impessoal

(pela de dicção ela começa as aulas).

A lição de moral, sua resistência fria

Ao que flui e a fluir, a ser maleada;

A de poética, sua carnadura concreta;

A de economia, seu adensar-se compacta:

Lições da pedra (de fora para dentro,

Cartilha muda), para quem soletrá-la.


Outra educação pela pedra: no Sertão

(de dentro para fora, e pré-didática).

No Sertão a pedra não sabe lecionar,

E se lecionasse, não ensinaria nada;

Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,

Uma pedra de nascença, entranha a alma.

cta-juliano
cta-juliano

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.


E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Prêmios recebidos

Ao longo de sua vida, não faltaram reconhecimentos em forma de premiações. Confira os principais:


  • Prêmio José de Anchieta (1954);
  • Prêmio Olavo Bilac (1955);
  • Prêmio Jabuti (1967);
  • Prêmio da União Brasileira de Escritores (1988);
  • Prêmio Camões (1990);
  • Prêmio Pedro Nava (1991);
  • Neustadt International Prize (1992) - Estados Unidos;
  • Prêmio Rainha Sofia (1994) - Espanha.

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