Juliano Loureiro • set. 04, 2021

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Ele foi um dos principais poetas brasileiros, tamanha sua influência, praticamente inventou dois movimentos literários nacionais. Inventar era o forte de Ferreira Gullar, inclusive, esse nome é inventado, também.


Dono de uma poesia intimista, inovadora, experimental - na verdade, ele produziu quase tudo de poesia - Ferreira Gullar esteve envolvido não só na literatura, mas também na política brasileira e no teatro.


Sem muitas delongas, vamos conhecer um pouco da vida e obra desse maranhense. Boa leitura!

Biografia de Ferreira Gullar

Ele nasceu no dia 10 de setembro de 1930, em São Luís do Maranhão e foi batizado com o nome de José de Ribamar Ferreira. “Como a vida é inventada eu inventei o meu nome, assim justificou o poeta a sua decisão de assinar seus trabalhos com o nome de Ferreira Gullar. O pseudônimo escolhido é uma homenagem aos seus pais Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart.


A sua infância e adolescência em terras maranhenses, ao contrário da maioria dos autores, aqui apresentados, foi até tranquila, sem nada em especial para se destacar. Desde novo, por volta dos seus 13 anos, Ferreira Gullar demonstrou interesse pela área literária.


O poeta chegou a ingressar na Escola Técnica São Luís, para aprender uma profissão, mas aos 18 anos abandonou os estudos técnicos e passou a dedicar-se à literatura. 


A sua primeira paixão literária foi a poesia moderna, os poetas mais admirados por Ferreira Gullar eram
Drummond e Manuel Bandeira. Nessa época, ele passou a frequentar bares onde, aos domingos, havia leituras de poemas e resolveu adotar o nome artístico. 


No ano de 1949, aos 19 anos, Ferreira Gullar publica a sua primeira obra:
Um pouco acima do chão, um livro de poesias. Nesse mesmo ano, ele ajudou a fundar a revista Ilha, em São Luís.


O início da década de 50 foi de mudanças para Gullar. Primeiro, ele mudou-se para o Rio de Janeiro onde trabalharia nas revistas “
O Cruzeiro” e “A Manchete”, e nos jornais: “Jornal do Brasil” e “Diário Carioca”.

Poesia Concreta e o Neoconcretismo

No campo poético, o início dos anos 50 representou uma ‘ruptura’ para Ferreira Gullar, amante do modernismo, em 1954 ele escreveu o livro A Luta Corporal. Os últimos poemas dessa obra são considerados os pilares da poesia concreta.


Sabe o que é o mais legal na história de Gullar? Com
A Luta Corporal, o poeta é tido como um dos precursores ou principal nome do concretismo nacional. Porém, em 1956, Ferreira Gullar participou da primeira exposição de Poesia Concreta, em São Paulo. Até aí, tudo bem. Só que nessa exposição, o poeta organizou um grupo chamado, atenção, Neoconcreto. Inclusive, com a participação de Lígia Clark e Hélio Oiticica.


Então, Gullar que era um dos principais nomes do concretismo, simplesmente, resolveu romper com essa corrente literária. O próprio movimento que ele deu um dos pontapés iniciais. E o que o poeta faz? Dá início ao
Neoconcretismo, na cidade do Rio de Janeiro.


Em 1959, Ferreira Gullar  escreveu o
“Manifesto Neoconcreto”, que foi lido na “I Exposição de Arte Neoconcreta”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Para justificar a criação e estética do estilo, Gullar produziu, também, a “Teoria do não objeto”.

Manifesto Neoconcreto (trecho)

O neoconcreto, nascido de uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno dentro da linguagem estrutural da nova plástica, nega a validez das atitudes cientificistas e positivistas em arte e repõe o problema da expressão, incorporando as novas dimensões “verbais” criadas pela arte não-figurativa construtiva (...)”.

cta-escola-bingo
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Ferreira Gullar e a política

Assim como fez com o Concretismo, Gullar afastou-se mais uma vez de um movimento literário do qual ele era uma das principais referências. O Neoconcretismo foi abandonado pelo poeta em detrimento aos poemas de denúncias sociais.


Nos anos 60, Ferreira Gullar filiou-se ao Partido Comunista e presidiu o Centro Popular de Cultura, da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Participou ativamente da luta contra a Ditadura Militar, em 1964 e, como de se esperar, após a edição do AI-5, em 1969, foi preso junto com outros intelectuais e artistas, como Caetano Veloso.


Por conta da perseguição do governo aos manifestantes, Ferreira Gullar foi obrigado a viver ‘fugindo’, morando em outros países, como Rússia (Moscou), Chile (Santiago), Peru (Lima) e Argentina (Buenos Aires).  Foram 7 anos de perseguição política, mas mesmo refugiado, Gullar publicou duas obras:
Dentro da Noite Veloz (1975) e a sua obra-prima Poema Sujo (um poema de 1976, com 100 páginas).


Em 1977, Ferreira Gullar voltou ao Brasil, mas logo foi preso e torturado pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

Poema sujo (trechos)

turvo turvo

a turva

mão do sopro

contra o muro

escuro

menos menos

menos que escuro

menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo

escuro

mais que escuro:

claro

como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma

e tudo

(ou quase)

um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas

azul

era o gato

azul

era o galo

azul

o cavalo

azul

teu cu

Gullar, a TV e o teatro

Ferreira Gullar era um artista proativo, mesmo em meio ao caos político, produziu seus principais textos e, logo após o golpe militar, foi um dos fundadores do Teatro Opinião, que teve importante papel na resistência democrática ao autoritarismo da época. 


Em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, em 1966, escreveu a peça
"Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Já em 1967, "A Saída? Onde Fica a Saída?", foi escrita com Arnaldo Costa e A.C. Fontoura.


Ainda no Rio de Janeiro, Gullar trabalhou na imprensa carioca e, depois, como roteirista de televisão trabalhou junto  ao dramaturgo Dias Gomes (com o qual também produziu a peça teatral  "
Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória"). Na televisão, colaborou para as novelas Araponga (1990), Irmãos Coragem (1995) e Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998).


Ao longo da carreira, Ferreira Gullar acumulou alguns prêmios:


  • Prêmios Molière, 1966, com Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
  • Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção do ano 2007, com Resmungos.
  • Prêmio Camões, em 2010, pelo conjunto da obra.
  • Título de Doutor Honoris Causa, em 2010, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
  • Prêmio Jabuti, em 2011, com o livro de poesia Em alguma parte alguma.


Ferreira Gullar foi eleito para a cadeira n.º 37 da Academia Brasileira de Letras, em 9 de outubro de 2014. O poeta nos deixou no dia 4 de dezembro de 2016.

Obras de Ferreira Gullar

  • Um Pouco Acima do Chão, poesia, 1949
  • A Luta Corporal, poesia, 1954
  • Teoria do Não-Objeto, ensaio, 1959
  • João Boa-Morte, Cabra Marcado pra Morrer, poesia, 1962
  • Quem Matou Aparecida?, poesia, 1962
  • Cultura Posta em Questão, ensaio, 1964
  • Se Corre o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, teatro, 1966
  • A Saída? Onde Fica a Saída?, teatro, 1967
  • Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, teatro, 1968
  • Por Você, Por Mim, poesia, 1968
  • Vanguarda e Subdesenvolvimento, ensaio, 1969
  • Dentro da Noite Veloz, poesia, 1975
  • A Luta Corporal e Novos Poemas, poesia, 1976
  • Poema Sujo, poesia, 1976
  • Antologia Poética, poesia, 1977
  • Augusto dos Anjos ou Vida e Morte Nordestina, ensaio, 1977
  • A Vertigem do Dia, poesia, 1980
  • Sobre Arte, ensaio, 1983
  • Barulhos, poesia, 1987
  • Poemas Escolhidos, 1989
  • Indagação de Hoje, ensaio, 1989
  • O Formigueiro, poesia, 1991
  • Argumentação Contra a Morte da Arte, ensaio, 1993
  • Rabo de Foguete-Os Anos no Exílio, memórias, 1998
  • Muitas Vozes, poesia, 1999
  • Rembrandt, ensaio, 2002
  • Relâmpagos, ensaio, 2003
  • Um Gato Chamado Gatinho, poesia, 2005
  • Resmungos, poesia, 2007
  • Em Alguma Parte Alguma, poesia, 2010
  • Autobiografia Poética e Outros Textos, 2016


Agora que você conheceu um pouco mais sobre a vida de Ferreira Gullar, conte para a gente o que você achou mais interessante em sua biografia. Você já teve algum contato com a obra do poeta maranhense? Que tal acrescentar um de seus livros a sua lista de leitura?


Mas, antes disso, eu tenho uma dica muito importante!


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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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