Maurício Almeida • jul. 15, 2021

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Um dos maiores clássicos da literatura mundial escrito por um cânone do terror; Bram Stoker, Drácula tem que estar na sua estante por diversos motivos. E algumas dessas razões eu vou listar agora.


Quantas histórias de vampiros você conhece? Quantas pessoas fantasiadas com capa preta e dentes caninos afiados você já viu em festas de Halloween? Tudo isso foi graças ao Conde Drácula, do autor que hoje dá nome à mais importante premiação literária, no gênero terror: o
Bram Stoker Awards.


De antemão, aviso que
a resenha que segue é baseada na edição lançada pela Darkside Books, em 2018.  Foram duas edições lançadas pela Darkside: a Dark Edition, com uma capa preta e os recortes das páginas em dourado, como os livros mais antigos e a First Edition, com a capa amarela em homenagem à primeiríssima versão de Drácula.


Apesar das capas diferentes, o conteúdo interno dos livros é o mesmo. E quem já conhece o trabalho da editora da caveirinha, sabe do primor dos seus projetos gráficos. Mas isso é assunto para o final. Vamos, sem mais delongas, responder:


Afinal, por que ler Drácula?

Por que é um clássico?

É muito difícil estabelecer o que é um clássico, afinal se tratando de literatura, é muito difícil conciliar tantos gostos. O que é bom para mim, pode não ser para você e vice e versa. É como dizem pela internet: é sobre isso e tá tudo bem.


Brincadeiras à parte, um clássico sobrevive ao maior e mais impetuoso requisito: o tempo.
Drácula foi publicado em 1897, ou seja, mais de 120 anos e, até hoje, novas edições são lançadas, é capa dura, é versão na íntegra, é box com kit de brindes, ou seja, ainda há um público para a obra. E esses leitores, às vezes, não querem somente ler, querem TER essas diferentes versões, porque eles amam a história, então querem colecionar tudo a seu respeito.


Drácula também rompeu - e muito - a barreira da literatura e foi parar nos palcos, nas telas das televisões e, principalmente, no cinema. E aqui, é importante frisar que nem todas as adaptações e histórias de vampiros são necessariamente o texto de Bram Stoker. 


É claro que temos as adaptações mais clássicas do texto, como
Drácula de 1931, produzido pela Universal Pictures, com Bèla Lugosi no papel principal e  o filme Drácula de Bram Stoker, de 1992, considerado uma das melhores adaptações.


Porém, a importância do livro para as outras artes está na figura do Conde.
A obra de Bram Stoker não foi o primeiro livro sobre vampiros, mas o seu Conde Drácula tornou-se icônico. Claro que Stoker baseou-se nas obras anteriores para criar o seu vampiro, mas algumas características marcantes, como a repulsa ao alho, por exemplo, foram criadas no livro Drácula. Então, tudo que veio depois, todas essas histórias de vampiros que até as crianças conhecem ainda pequenas, foi graças ao trabalho de Bram Stoker.


Essa ‘resistência’ ao tempo, a influência que exerceu e ainda exerce e a possibilidade de se reinventar, fazem de
Drácula um marco na literatura mundial, e não somente para os amantes do terror.

É clássico mas é muito fácil de ler

dracula

Eu era um dos que torciam o nariz quando me indicavam livros clássicos para ler, já imaginava aqueles textos com uma escrita antiga, linguagem rebuscada, demoraria muito mais tempo para entender cada frase do que a história propriamente…


Porém….


Em Drácula, ao menos na edição Dark Edition da Darkside, digamos que a escolha da tradutora facilitou muito, mas muito mesmo a leitura. Tudo bem que Bram Stoker não tem uma escrita excessivamente sofisticada, cheia de palavras difíceis ou termos muito marcantes da época. Inclusive, se a gente não sabe que Drácula é uma história bem antiga, a gente nem percebe, não temos nenhuma dificuldade com a leitura.


A minha edição é repleta de notas de rodapé que, sinceramente, vale cada leitura, porque são informações riquíssimas. Não digo que se você não as ler, não entenderá a história, mas caso você tenha curiosidade, vai ter uma experiência muito mais rica.


 Outra coisa que, às vezes, me dava certa preguiça de chegar perto de Drácula: o fato de ser uma narrativa epistolar. Ou seja, uma história toda contada através de recortes de diários, cartas e jornais. Eu imaginava que seria muito entediante a narrativa.


Eu estava errado. Mas muito errado!


Diferentemente do que se possa imaginar de um diário, aqui não temos aqueles tradicionais “querido diário, hoje eu…”, mas temos relatos de fatos e sentimentos. Na história, todos os personagens possuem seus diários e isso é fundamental para o desenrolar. Não somente no ato de nos contar a trama, mas os próprios personagens fazem uso desses registros para desvendarem os mistérios em torno da figura de Drácula.


Como Drácula nos prende mais pela tensão e terror psicológico, estar dentro da mente de cada personagem é fundamental, torna o ato de leitura uma verdadeira imersão. Porque soa muito mais verídico o relato do próprio personagem do que a visão de um terceiro.


E a história vai se desenrolando com esses relatos, às vezes eles são interrompidos por algum fato e depois o dono desse diário volta a escrever, então tem um certo dinamismo do “quase tempo real”. Além disso, tem as cartas, com as trocas de informações entre os personagens, então o leitor fica ansioso para que determinado personagem tenha a sua resposta.


Entre os registros pessoais e as trocas de cartas, nós leitores ficamos apreensivos, porque você fica imaginando se haverá tempo hábil para as respostas, afinal, hoje a gente troca um e-mail ou um whatsapp e temos respostas instantâneas, agora imagina você, aflito ou aflita com as coisas que acontecem ao redor, depender da entrega de telegramas.

Clímax nas alturas

Drácula é um romance gótico daqueles que você pode substituir o verbete no dicionário. Procurou “romance gótico” na Wikipédia ou em um dicionário, vai estar lá “você quis dizer Drácula.


Se você não tem familiaridade com gêneros, imagine uma história sombria não somente no aspecto do medo, do susto propriamente. Logo nos primeiros tópicos, nos primeiros relatos a gente percebe que tudo que se refere ao Conde é cercado de mistério. 


O seu castelo na Transilvânia fica isolado, em uma região erma, que para se chegar, passa-se por abismos, pontes e matas fechadas. Ao redor, apenas os uivos dos lobos, trovões e raios nos céus, como se a região vivesse sempre nublada, fora a neblina que impede enxergar um palmo à frente.


O livro já começa nesse clima, com Jonathan indo ao encontro do Conde, em seu castelo. E por todos os lugares e pessoas por quem Jonathan passa, há algo de estranho, as pessoas sentem uma certa repulsa pelo fato de Jonathan aceitar ir ao encontro. Sinais da cruz, artefatos religiosos, tudo para proteção divina aparece nesse momento.


A estadia de Jonathan no castelo também é bem sinistra, apesar de um certo conforto e da hospitalidade do Conde, algumas coisas começam a transparecer uma certa reclusão, ou seria mesmo uma prisão? As suspeitas de Jonathan sobre o seu cliente e anfitrião aparecem ainda no início da obra, o que por um lado é bom, porque já nos deixa vidrados na leitura. E, sem spoilers, as coisas não saem como a gente poderia imaginar, até mesmo por estar no início da obra, a gente pensa: “poxa, o mocinho vai se sair bem!”. Mas…..


O mais interessante é que o Drácula não precisa aparecer na narrativa, para que as coisas aconteçam ou para que a história fique surpreendente. Você vai encaixando os pontos, como eu disse anteriormente, a cada carta, entrada de diário, você vai criando os cenários na sua cabeça.


Quando a história vai caminhando para o seu final, você fica ainda mais agoniado querendo que as coisas aconteçam logo, porque você sabe que o fim está próximo, mas aí acontecem coisas em paralelo, em vários momentos você acha que a história vai ter seu fim ou que o Drácula vai fazer mais uma vítima e, olha, são as páginas de livro que você vai devorar em poucas horas.


Não diria que Drácula é um livro assustador. Apesar de ser um ícone do terror, a sua narrativa permeia-se mais ali numa aventura e suspense. Não é uma leitura de causar sustos, mas sim tensão. Alguns trechos no início ou nos relatos de como os vampiros se alimentam (e do que se alimentam) podem causar um pouco de repulsa, mas nada que fará você largar o livro.


Agora, falando sem me preocupar com termos literários, rótulos, mas falando abertamente com vocês, Drácula é uma leitura muito prazerosa, o seu suspense é envolvente, a fantasia em torno dos vampiros, na obra não é nada espalhafatosa, o seu exercício de imaginação para materializar a história na sua mente vai ser bem natural.


Volto a destacar a linguagem da edição que li, mesmo tratando-se de uma obra centenária, a sua escrita é fácil de entender, mesmo quando reproduz a fala de Van Helsing, que é um médico holandês que se embaralha com o inglês, é muito tranquila a assimilação.


Já que falamos de Van Helsing, o outro destaque da obra são os personagens. Digamos que o núcleo da trama seja formado por dois casais: Jonathan Harker e Mina Murray e Lucy Westerna e Arthur Holmwood, além de Van Helsing, Dr. Seward, Quincey Morris, Renfield e claro, o Conde Drácula.


O que achei legal nos personagens é que nenhum deles se destaca por alguma característica que o tornasse especial. Não preciso dizer excluindo o Conde, não é mesmo? Todos os demais são apenas seres humanos normais, Van Helsing e Seward são médicos, obviamente, tomam a frente para enfrentar Drácula, mas você não vê exagero nas criações desses personagens.


Van Helsing por ser o ‘forasteiro’ ganha traços mais cômicos, por causa de sua fala, mas ao mesmo tempo é líder do grupo. As mulheres, apesar de serem tratadas como frágeis, têm papéis fundamentais e decisivos na trama. E ainda são fortes, dotadas de ímpeto e inteligência.


Drácula é um daqueles livros que você vai chegar ao final e vai pedir mais. Uma opinião impopular: eu não gostei muito do seu final, exatamente por isso, porque estava vidrado na leitura, não consegui aceitar que ele terminaria ali, daquele jeito.

E por que ler a edição da DarkSide Books?

dark-side-dracula

Vou encerrar esse texto com um tópico que não é #publi (alô, DarkSide, me nota!), mas acho que vale muito a pena para os amantes da leitura.


Não é de hoje que a Darkside entrega livros maravilhosos, com acabamentos primorosos e capas lindíssimas. São livros que todo mundo quer ter na estante porque são realmente incríveis. E o trabalho da editora não foi diferente em Drácula.


Como eu já disse, foram feitas duas edições com diferenças estéticas, textualmente falando são iguaizinhas. E, olha, os extras que estão em
Drácula, são verdadeiras histórias.


As edições da Darkside estão com quase 600 páginas, o que dá para colocar como 50% da obra e os outros 50% de extras. E se você não tem o costume de ler
prefácios e posfácios, faça esse favor a você mesmo, leia!


A apresentação da obra fica por conta de ninguém menos que Dacre Stoker, um descendente de Bram. Em suas poucas palavras ele dá o “aval” à edição que temos em mãos, considerando-a um das mais fiéis ao original. Além de contar um pouco das pesquisas que envolveram as demais edições publicadas.


Logo em seguida, ainda não é a obra, mas sim
a introdução, assinada por Márcia Heloísa, que é, digamos assim, “doutora” em Drácula. E esse texto da Márcia é uma verdadeira aula de história. Se você quer saber o que inspirou Bram Stoker a produzir esse clássico, leia a introdução.


Tem vários detalhes históricos bacanas, vale cada linha lida. Tem por exemplo, como o povo romeno lida com o mito do Drácula. Será que eles gostam de ser conterrâneos do Conde? Ah! E será que Bram Stoker conhecia realmente os lugares que descreve em sua obra?


Após a aula de história de Márcia Heloísa, temos Drácula. A formatação do texto em duas colunas com as fontes iniciais dos capítulos ao estilo gótico dá a sensação de estarmos com um livro centenário em mãos.
As ilustrações ao longo da obra também merecem destaque, pois têm um quê de mistério.


Quando você termina a história, não acaba por ali. O material que vem a seguir é fantástico, tem recortes de jornais da época de publicação, com resenhas críticas sobre o romance de Stoker. Detalhe curioso é que alguns desses jornais são citados em
Drácula.


Há também um conto, O Hóspede de Drácula, uma história até famosa no meio literário e que até hoje gera debate sobre ser um recorte de Drácula ou uma história independente. Apesar de que na apresentação, Dacre Stoker afirmar acreditar piamente que O Hóspede seja um trecho extraído da versão original de Drácula.


E tem mais coisas: tem registros de cartas trocadas entre Bram Stoker e nomes importantes da cultura mundial como Mary Elizabeth Braddon, Sir Arthur Conan Doyle e Oscar Wilde. E mais ainda, tem textos sobre a importância de
Drácula para o cinema e a cultura pop e recortes de originais da época, feitos pelo próprio Bram Stoker.


Enfim, as edições da DarkSide são verdadeiras obras primas e uma aula sobre Drácula. Se puder, tenha uma delas na sua estante.

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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


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