Juliano Loureiro • jul. 29, 2021

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A literatura mineira é tão rica quanto a sua culinária! E se você não sabia disso, provavelmente não se atentou à naturalidade de grandes escritores, poetas e obras clássicas da nossa literatura.


Mas esse ato falho é justificável, pois tamanha importância desses autores que simplesmente os consideramos brasileiros. Vamos aproveitar, então, para apresentar algumas das mais importantes obras de escritores mineiros.


Minas Gerais é um dos poucos estados que pode se orgulhar de estar presente em todos os períodos históricos da literatura nacional, com grandes representantes. Desde Cláudio Manuel da Costa, passando por Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Tomás Antônio Gonzaga, Bernardo Guimarães, Drummond, Guimarães Rosa, Adélia Prado, Carolina Maria de Jesus, Ziraldo e tantos outros.


Sem fazer juízo de serem as melhores obras, selecionei apenas obras importantes de alguns desses autores das Minas Gerais. Prepare um ‘cafezin’ com ‘pão di queijo’ e tenha uma boa leitura.

1. Vila Rica - Cláudio Manuel da Costa

O ano era 1773 quando o escritor mineiro e arcadista Cláudio Manuel da Costa publicou o seu poema Vila Rica. Para quem lembra bem das aulas de histórias, Vila Rica foi o centro da Inconfidência Mineira.


O poema que batiza o livro de Cláudio Manuel narra essa saga dos bandeirantes e a fundação de diversas cidades mineiras, que se desvincularam da então capitania São Paulo e Minas de Ouro.


Sobre o poema Vila Rica: trata-se de uma poesia épica dividida em 10 cantos. O seu herói é Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (1655-1725), que acabou com a Guerra dos Emboabas e foi o fundador de Vila Rica.

vila-rica

Vila Rica

Cantemos, Musa, a fundação primeira

Da Capital das Minas, onde inteira

Se guarda ainda, e vive inda a memória

Que enche de aplauso de Albuquerque a história.


Tu, pátrio Ribeirão, que em outra idade

Deste assunto a meu verso, na igualdade

De um épico transporte, hoje me inspira

Mais digno influxo, por que entoe a Lira,

Por que leve o meu Canto ao clima estranho

O claro Herói, que sigo e que acompanho:

Faze vizinho ao Tejo, enfim, que eu veja

Cheias as Ninfas de amorosa inveja.

(...)

2. Sagarana - Guimarães Rosa

sagarana

Guimarães Rosa, com certeza, entra naquele seleto grupo de escritores que mencionei na introdução deste texto. Qualquer pessoa que tenha estudado um pouco de literatura nacional, com certeza, já ouviu falar de Rosa, porém, poucos se atentam a sua naturalidade. 


Mineiro de Cordisburgo e nascido em 1908, Guimarães Rosa é um dos principais escritores e expoente do Movimento Modernista Brasileiro


Sagarana é a primeira obra do autor mineiro. Publicada em 1946, o livro já apresenta marcas do escritor, como um texto escrito com características próximas à oralidade e de caráter regionalista. 


Sagarana tem uma temática universal, como a luta do bem contra o mal e a violência, além de uma pitada crítica social. Vale ressaltar que o livro é dividido em nove contos: O burrinho pedrês, Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo, Sarapalha, Duelo, Minha gente, São Marcos, Corpo fechado, Conversa de bois e A hora e vez de Augusto Matraga.

Sarapalha

“É aqui, perto do vau da Sarapalha: tem uma fazenda, denegrida e desmantelada; uma cerca de pedra-seca do tempo de escravos; um rego murcho, um moinho parado; um cedro alto, na frente da casa; e, lá dentro, uma negra, já velha, que capina e cozinha o feijão. Tudo é mato, crescendo sem regra; mas, em volta da enorme morada, pés de milho levantam espigas, no chiqueiro, no curral e no eirado, como se a roça se tivesse encolhido, para ficar mais ao alcance da mão.”

3. Alguma Poesia - Carlos Drummond de Andrade

alguma-poesia

Carlos Drummond de Andrade dispensa apresentações, não é mesmo? Mas se você ainda quer saber um pouco sobre a vida desse mineiro de Itabira, deixo uma sugestão de leitura posterior: Carlos Drummond de Andrade: conheça o mais influente poeta brasileiro do século XX.


Para falar de literatura mineira, escolhi a obra publicada em 1930, de forma modesta: apenas quinhentos exemplares. Apesar dessa pequena tiragem, o seu impacto na literatura brasileira seria imenso. Alguma Poesia foi publicada quando Drummond tinha apenas 28 anos e traz, nada mais nada menos que poemas como No Meio do Caminho, Poema de Sete Faces, Cidadezinha Qualquer e Quadrilha.

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.


As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada (...)

4. A Escrava Isaura - Bernardo Guimarães

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Talvez, A Escrava Isaura seja mais recordada pela sua adaptação televisiva de Gilberto Braga com Lucélia Santos no papel de Isaura. Caso alguém ainda não saiba, a novela foi baseada na obra de Bernardo Guimarães.


Escrito e publicado em 1875, A Escrava Isaura é muito mais que um simples romance, ele é um documento testemunho de um período histórico marcante, a campanha abolicionista brasileira. Bernardo Guimarães fez de sua obra um manifesto anti escravagista e, na figura de Isaura, uma escrava mestiça, denunciou as atrocidades da escravidão.


Com uma certa polêmica, Bernardo Guimarães fez escolhas narrativas para atrair os leitores e, ao mesmo tempo, fazer suas denúncias contra a escravidão e o preconceito racial da sociedade. Trazer Isaura como uma mulher ‘não negra’ e por vezes abusar do sentimentalismo fez com que a obra se popularizasse e, inconscientemente, a mensagem abolicionista absorvida por uma classe social mais alta, que não se importava com as denúncias.


“- Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria inveja a muita gente livre. Gozas da estima de teus senhores. Deram-te uma educação, como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que eu conheço. És formosa, e tens uma cor linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano. Bem sabes quanto minha boa sogra antes de expirar te recomendava a mim e a meu marido. Hei de respeitar sempre as recomendações daquela santa mulher, e tu bem vês, sou mais tua amiga do que tua senhora. Oh! não; não cabe em tua boca essa cantiga lastimosa, que tanto gostas de cantar. - Não quero, - continuou em tom de branda repreensão, - não quero que a cantes mais, ouviste, Isaura?... se não, fecho-te o meu piano.

5. Diário de Bitita - Carolina Maria de Jesus

diario-de-bitita

Carolina Maria de Jesus ficou famosa pelo seu Quarto De Despejo, um relato de sua vida sofrida como catadora de papel em São Paulo e das dificuldades que passou para garantir seu sustento e de seus 3 filhos.


Apesar de ter morado na capital paulista desde seus 16 anos, a escritora nasceu na comunidade rural de Sacramento, em Minas Gerais e, em Diário de Bitita, compilou suas lembranças de infância e adolescência.


Em ambas as obras, a sensibilidade extrema de Carolina em seus relatos de vivência das desigualdades sociais e, principalmente, do racismo e do preconceito fazem com que a autora seja uma das mais relevantes dentro da literatura brasileira, principalmente no que se refere à consciência social.


Diário de Bitita foi um lançamento póstumo. Antes de morrer, Carolina entregou dois cadernos com os manuscritos do livro para uma jornalista brasileira chamada Clélia Pisa. O livro só foi publicado no Brasil muito tempo depois da morte da escritora.


Bitita, como não é difícil deduzir, era o apelido de Carolina e esse seu diário nada mais do que observações de uma criança à época (Carolina nasceu em 1914) sobre racismo, machismo, pobreza e imigração.

Confira um trecho de Diário de Bitita:

“Eu notava que os brancos eram mais tranquilos porque já tinham seus meios de vida. E para os negros, por não ter instrução, a vida era-lhes mais difícil. Quando conseguiam algum trabalho, era exaustivo. O meu avô com setenta e três anos arrancava pedras para os pedreiros fazerem os alicerces das casas. Os pretos, quando recebiam aquele dinheirinho, não sabiam gastar em coisas úteis. Gastavam comprando pinga.


Os pretos tinham pavor dos policiais, que os perseguiam. Para mim aquelas cenas eram semelhantes aos gatos correndo dos cães. Os brancos, que eram os donos do Brasil, não defendiam os negros. Apenas sorriam achando graça de ver os negros correndo de um lado para outro. Procurando um refúgio, para não serem atingidos por uma bala.”


Como eu falei lá no início do texto, passei por algumas obras importantes de alguns escritores mineiros. Falar de toda a literatura mineira e seus autores demanda muito tempo. Com certeza, você está pensando em um escritor que não foi citado ou um livro que você esperava ver por aqui e eu não citei.


Por isso, deixe seu comentário: qual escritor ou escritora mineira você quer ver por aqui? Qual obra dessas Minas Gerais não pode ficar de fora? 


Ah! E antes de você ir embora, quero te fazer um convite. 


Você já considerou seguir os passos desses mineiros e publicar suas obras, uai?! Você é um escritor em potencial, mas não sabe como tirar a ideia do papel e fazer a magia da publicação acontecer?


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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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