Juliano Loureiro • fev. 03, 2021

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Imagine você fazer uma viagem pelo espaço sideral, explorar um novo planeta, recém descoberto. Só que essa sua viagem, aconteceria somente no ano de 2100 e seus companheiros de nave espacial são andróides e a nave é conduzida por uma Inteligência Artificial.


Nada tão fantasioso para os amantes da ficção científica, não é mesmo? Aliás, ultimamente, é tão raro vermos nos cinemas filmes que não envolvam alguma “fantasia” científica. Diria até que o “novo normal” é vivermos essas ficções.


Na sétima arte, não há dúvidas que o gênero é um dos favoritos dos cinéfilos. Mas, e enquanto literatura?
Os livros de ficção científica, por incrível que pareça, não abocanharam o sucesso tão facilmente quanto aos filmes, mas, ao que tudo indica, isso é coisa do passado.


Por isso, hoje, vou falar sobre esse gênero (será mesmo um?) literário, começando do seu conceito. 

O que é ficção científica?

Acredito eu, que para muitos leitores, o conceito de ficção científica é algo que a expressão já diz por si só. Pouca gente analisa os sentidos das palavras ficção e científica. Então, para deixar tudo explicado nos mínimos detalhes, vamos lá:


Segundo o dicionário digital Michaelis,
ficção é: substantivo feminino. 1 Ato ou efeito de fingir. 2 Elaboração da imaginação; criação imaginária. 3 Produto da criação fantasiosa; fantasia. 4 Mentira ardilosa; farsa, fraude. 5 Lit., Cin., Teat. Criação artística em que o autor revela uma leitura exclusiva e original da realidade. 6 Lit. Prosa literária criada a partir de elementos imaginários fundados na realidade e/ou de elementos reais introduzidos no mundo da imaginação; ficcionalismo, ficcionismo, literatura de ficção.


Os conceitos 5 e 6 vão direto ao ponto que nos interessa, o literário. Mas é importante compreender os demais conceitos, para você não ficar mais nessa de que “ficção é ficção, uai,” (desculpe o minerês ao final, mas é impossível marcar uma oralidade sem essa interjeição.). Então, tenha sempre em mente que
ficção é uma história inventada, criada pelo autor. A ficção não tem como característica a premissa de representar a realidade.


Porém, nem sempre uma ficção é puramente fantasiosa. No caso da ficção científica, existe o respaldo da ciência para que a história seja, pelo menos, verossímil com os avanços tecnológicos e científicos.


Por fim, compreendemos, então, que a
ficção científica é uma narrativa inventada, com respaldo científico para aquilo que possamos achar fantasioso. Então, toda extrapolação na narrativa, não quer dizer de fato que exista, mas há uma possibilidade científica de que possa se tornar realidade ou está cientificamente explicada na obra.


A ciência contida nos livros de ficção científica pode ser, digamos, especulativa. Com base no presente, o autor pode “prever”  e descrever os avanços tecnológicos para justificar suas ficções, no futuro. É confuso? Um pouco, mas quando eu falar da popularização do gênero, você vai compreender esse último aspecto.


A ficção científica, vale ressaltar, na verdade nasceu como um subgênero dos romances de Aventura, Mistério, Drama e Horror. E não devemos nos prender a um cenário narrativo científico. Por vezes, a ciência é só pano de fundo para uma história policial, um drama, ou qualquer outro estilo literário.

Quando surgiu a ficção científica

Precisar quando surgiu o gênero ficção científica é uma tarefa um tanto quanto ingrata, porque há fontes que apontam o século XX, já outras afirmam que foi no final do século XIX e uma terceira teoria credita ao início do século XIX. Mas, digamos assim, que as três opções são marcos importantes na história da ficção científica.


Agora que já sabemos o que é a ficção científica, fica fácil apontarmos a obra de Mary Shelley,
Frankenstein ou o Prometeu Moderno, de 1818, como o primeiro livro de ficção científica. Por isso, é correto afirmar que o gênero tenha nascido no século XIX. 


Obviamente, até existirem estudos literários sobre gêneros e suas obras, não era possível classificar todos os livros, como fazemos hoje. Contemporâneo a
Frankenstein, temos outra obra de Shelley, O Último Homem, de 1828, classificado como um dos pioneiros da ficção científica.


No final do século XIX, autores como Júlio Verne e H.G Wells deram à ficção científica as suas características mais famosas, como viagens por dentro da Terra (e mar), viagens no tempo, monstros, experiências genéticas, invasões alienígenas e, claro, muitas e muitas invenções inimagináveis, até então. Para você ter ideia, a obra
A Máquina do Tempo, de Wells, é considerada (também) o primeiro livro de ficção científica, isso em 1895.


Aí, você pode ficar na dúvida:
Frankenstein, de Shelley ou A Máquina do Tempo, de Wells? O que a gente tem que pensar é mais ou menos assim: é mais fácil, alguém em 1818, acreditar que é possível “montar”, ou criar, um monstro ou, alguém em 1895 acreditar que é possível criar uma máquina para viajar no tempo? 


Na verdade, é difícil até para a gente, aqui em 2021 acreditar nessas coisas, vai dizer no século XIX. Mas, temos quase 80 anos de diferença entre as obras, em 8 décadas dá para avançar muito cientificamente. 


E quem afirma que a ficção científica surgiu no século XX? Bem, literalmente falando, já mostramos que não é verdade. A gente só precisa entrar no consenso se foi no início ou no fim do século XIX. O que aconteceu no século XX foi a popularização do estilo.


É fácil compreender porque somente um século depois, a ficção científica se popularizou. Até o século XIX, toda a obra que viria se classificar como ficção científica era puramente especulativa, para não dizer fantasiosa. 


Já no século XX, foguetes foram lançados ao espaço. Ou seja, passou a ser muito mais fácil mexer com o imaginário das pessoas. Afinal, se o homem já foi à Lua, agora seremos capazes de tudo, não é mesmo?


Um marco importante para a popularização da ficção científica foi o lançamento da
Amazing Stories Magazine, em 1926, por Hugo Gernsback, uma revista dedicada a publicações de histórias do gênero.

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Alguns dos principais autores de ficção científica

É muito complicado falarmos quem são os principais nomes e quais são os livros mais importantes de ficção científica. Para começar, estamos falando de um (sub)gênero tão grande que ele se divide em diversos (sub)subgêneros, suas ramificações são inúmeras.


Por exemplo:
você sabe o que é distopia?


A distopia é um estilo literário que vem conquistando cada vez mais leitores e a sua crescente não para, dando espaço para novos escritores e os tornando referências para novos leitores, como é o caso de
Jogos Vorazes


Para conhecer “novas” distopias, recomendo a leitura de
8 distopias que você provavelmente não conhece


Mas, agora falando de referências, temos alguns principais autores que você deve buscar, se quiser conhecer um pouco mais sobre a ficção científica:

Como já citado no texto, Wells foi um dos principais autores e precursor da ficção científica.


Suas obras trouxeram as temáticas que ‘praticamente’ definiram a ficção científica como a conhecemos. Os livros de ficção científica de Wells traziam, não só o que havia de mais tecnológico, mas também previsões científicas e um pouco do lado sombrio que o ‘excesso de conhecimento’ poderia causar na sociedade.


Principais obras de Wells:


  • A Máquina do Tempo;
  • A Ilha do Doutor Moreau;
  • O Homem Invisível;
  • Guerra dos Mundos;
  • The Sleeper Wakes;
  • The World Set Free.


Um fato curioso sobre
Guerra dos Mundos: em 1938, a rádio CBS levou a obra em formato de radionovela. Porém, a sua inserção no meio da programação da rádio, levou os ouvintes à loucura, acreditando realmente que uma invasão alienígena estava acontecendo, tamanho a verossimilhança com a realidade. 


Ou seja, a ciência contida na obra de Wells já era algo plausível para a época. Essa é a característica principal do gênero.

Nada mais científico que a vida de Arthur C. Clarke. De ficção, só mesmo suas obras. O mais legal da vida de Clarke é que ele tem papel fundamental na ‘vida real’ da ciência.


Arthur C. Clarke foi membro da Sociedade Interplanetária Britânica
, apresentou, em 1945, os princípios da comunicação por satélite, tem uma sonda espacial batizada em referência à sua principal obra, tem um asteróide batizado com seu nome e, não o bastante, uma espécie de dinossauro também foi batizada com seu nome.


Uma de suas obras é tida como a maior representação da ficção científica, você é capaz de descobrir qual delas?


Principais livros de Arthur C. Clarke:


  • 2001: Uma Odisséia no Espaço;
  • 2010: uma odisseia no espaço 2;
  • 2061: uma odisseia no espaço 3;
  • 3001: odisseia final;
  • O fim da infância;
  • Encontro com Rama;
  • Poeira lunar;
  • As fontes do Paraíso.

Considerado um dos “Três Grandes” da ficção científica, Isaac Asimov é considerado o “pai dos robôs”. Tem coisa mais ficção científica que isso? E, por “pai dos robôs”, entenda como simplesmente o autor que introduziu as Três Leis da Robótica!


Isaac Asimov escreveu em diversos gêneros, totalizando, entre autorias e editoriais, mais de 500 livros entre romances, contos, ensaios e cerca de 90.000 cartas ou postais.


Algumas das principais obras de Asimov:


  • Eu, Robô;
  • As Cavernas de Aço;
  • Os Próprios Deuses;
  • O fim da Eternidade;
  • Trilogia Fundação;
  • Fundação - Declínio e Ascensão.

Um dos principais autores da ficção científica, responsável por moldar o gênero como conhecemos hoje, Philip K. Dick não teve um início de carreira literária tão brilhante.


O reconhecimento merecido veio somente em 62, com a obra
O Homem do Castelo Alto. Dick é um ótimo exemplo de como o cinema foi responsável pela popularização do gênero e de livros de ficção científica. Uma das principais obras da sétima arte foi capaz até de “mudar o nome” de um dos livros.


As principais obras de Philip K. Dick:


  • Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas? (mundialmente conhecido como Blade Runner);
  • O Homem do Castelo Alto;
  • Ubik;
  • O Homem Duplo;
  • Os Três Estigmas de Palmer Eldritch;
  • O Tempo Desconjuntado.

Um dos mais importantes autores de ficção científica para a história do cinema. Isso mesmo! O que seria do cinema sem Matrix? Eu não sei, mas se não fosse a trilogia Sprawl, Keanu Reeves ainda estaria em busca do seu papel mais marcante.


Não só o conceito de matrix, mas até mesmo do Big Brother foi criação de Gibson. O autor, pai do cyberpunk criou um dos conceitos mais utilizados na ficção científica, o ciberespaço!


As principais obras de Gibson:


  • Trilogia Sprawl - composta por Neuromancer, Count Zero e Mona Lisa Overdriver;
  • A Máquina Diferencial;
  • Trilogia Blue Ant - composta por Reconhecimento de Padrões, Território Fantasma e História Zero.

Como já citei no texto, Júlio Verne junto com Wells foram responsáveis pelo pontapé inicial da ficção científica, nos moldes tradicionais que conhecemos.


Uma das características comuns aos precursores do gênero é o fator de previsão de grandes invenções e, com Júlio Verne, isso não foi diferente. O autor francês previu a criação da televisão, do helicóptero, do cinema falado, da vitrola, do gravador, das esteiras rolantes, do ar-condicionado, do avião, das viagens espaciais só para citar.


Algumas das principais obras de Júlio Verne:


  • Cinco Semanas em um Balão;
  • Viagem ao Centro da Terra;
  • Da Terra à Lua;
  • Vinte Mil Léguas Submarinas;
  • A Volta ao Mundo em Oitenta Dias;
  • A Ilha Misteriosa.

20 livros de ficção científica que você deve ler

Claro que os autores citados são relevantes para o gênero, mas não são os únicos. Além do mais, há centenas de livros. Como seria impossível listar todos, fiz um rápido brainstorming e separei mais algumas indicações de obras. Confira e boa leitura!


  1. O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson
  2. Matadouro Cinco, de Kurt Vonnegut
  3. Laranja Mecânica, de Anthony Burgess
  4. O Planeta dos Macacos; de Pierre Boulle
  5. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley;
  6. O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams;
  7. Duna, de Frank Herbert;
  8. 1984, de George Orwell;
  9. Aniquilação, de Jeff Vandermeer;
  10. Guerra do Velho, de John Scalzi;
  11. Solaris, de Stanislaw Lem;
  12. A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula K. Le Guin;
  13. Fahrenheit 451, de Ray Bradbury;
  14. As Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury;
  15. Jogador nº 1, de Ernest Cline;
  16. O Conto de Aia, de Margaret Atwood;
  17. Stranger in a Strange Land, de Robert A. Heinlein;
  18. O Problema dos Três Corpos, de Cixin Liu;
  19. Tropas Estelares, de Robert A. Heinlein;
  20. Flores Para Algernon, de Daniel Keyes


Ufa! Após essa árdua tarefa de listar (mais) 20 livros de ficção científica, acredito que cumpri o meu papel para te apresentar um dos gêneros mais aclamados, tanto na literatura, quanto no cinema. Agora, sua vez: qual sua obra favorita de ficção científica? Conte para a gente, nos comentários.


Antes de ir, que tal abrir espaço na sua estante para conhecer mais uma obra? 


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Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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